Pesquisadores do FGV IBRE analisam a evolução do mercado de trabalho do ponto de vista regional

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Amanhã o IBGE divulga a edição de novembro da PNADC. A projeção do Boletim Macro do FGV IBRE é de que haja manutenção ou leve aumento da taxa de desemprego, com ajuste sazonal. Em termos dessazonalizados, o resultado de outubro já mostrou uma interrupção da tendência de queda do desemprego, com um ligeiro crescimento da taxa, de 7,8% para 7,9%.

Olhando o acumulado do ano, o Boletim mostra um balanço positivo em diferentes aspectos. Na coluna Em Foco do Boletim, os pesquisadores Janaína Feijó e Paulo Peruchetti mostram, por exemplo, que até o terceiro trimestre do ano o nível de emprego estava acima do observado no final de 2019 em todas as regiões. No Norte, 8,1% acima; no Nordeste, 3,5%; no Sudeste, 4,1%; no Sul 3,12% e, no Centro-Oeste, 8,9%.

A análise, feita a partir dos microdados da PNADC, também aponta que neste ano – no acumulado até o terceiro trimestre – a queda na taxa de desemprego foi maior no Nordeste e no Sudeste, ambos com redução de 1,7% em relação aos três primeiros trimestres de 2022. Esse percentual é maior que o observado na média brasileira, de 1,5%, mas deve ser analisado com cuidado, já que uma queda da taxa de desemprego também pode acontecer quando pessoas saem da força de trabalho e deixam de procurar por uma vaga. Tal como analisou o pesquisador do IBRE Fernando de Holanda Barbosa Filho no Blog (leia aqui), a taxa de participação – porcentual da população em idade para trabalhar que se encontra em atividade ou buscando emprego – ainda está abaixo do nível pré-pandemia. Ele ilustra que, se hoje voltássemos ao mesmo nível de participação de 2019 e essas pessoas que retornassem não conseguissem uma vaga, a taxa de desemprego estaria mais próxima de 10%.

Evolução do mercado de trabalho até o terceiro trimestre de 2023, por região


Fonte: FGV IBRE.

Outro estudo, tema da Carta do IBRE de junho (leia mais), mostra que depois de começar uma trajetória de recuperação do choque com a pandemia, a taxa de participação no Brasil começou a apontar a uma trajetória de recuperação, que foi interrompida em setembro do ano passado, quando voltou a recuar. No terceiro trimestre de 2023, essa taxa estava em 61,8%, 1,8 ponto percentual abaixo do observado no final de 2019. O recorte regional feito por Janaína e Peruchetti também deixa claro esse retrocesso, mais acentuado nas regiões Norte – com uma queda de 1,5% na taxa de participação nos três primeiros trimestres em relação ao mesmo período de 2022 – e Nordeste, com queda de 1% na mesma comparação. A ampliação do valor do Bolsa Família é um dos elementos que podem colaborar para arranjos familiares que permitam a saída de algum adulto do mercado de trabalho, cujo peso tem sido estudado por especialistas.

Mesmo com essas ponderações, os pesquisadores do IBRE ressaltam que a taxa de desemprego no Nordeste ainda se mantém na casa dos dois dígitos, com 10,8% no terceiro trimestre do ano. A tendência de desaceleração do emprego, acompanhando o ritmo da atividade econômica, amplia a preocupação quanto a esse desempenho.

Variação do rendimento habitual em relação ao observado no 4º trimestre de 2019, por nível educacional 
Brasil e regiões


Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE).

Ao analisar a evolução do rendimento habitual médio, os pesquisadores mostram que este superou o nível registrado no último trimestre de 2019 em todas as regiões com exceção do Nordeste, que registra queda de 1,6%. As maiores altas são no Centro-Oeste (7,8%) e no Norte (7,1%), seguidas pelo Sul (5,1%) e Sudeste (4,6%). No acumulado de 2023 em relação a 2022, as maiores altas são no Centro-Oeste (7,8%), Nordeste (6,7%), seguidas de Norte (5,9%), Sudeste (5,8%) e Sul (4,1%).

Os pesquisadores destacam que há uma variação importante dessa evolução de rendimento habitual quando observada a escolaridade dos trabalhadores. Em todas as regiões, aqueles com ensino superior completo foram os que registraram maior queda quando se compara ao nível de rendimento do final de 2019. As maiores perdas foram registradas no Nordeste (10,9%) e Sudeste (9,5%). Em contrapartida, aqueles sem instrução ou fundamental incompleto registraram a maior alta, com destaque para Norte e Centro-Oeste, com aumento de 14%.

 


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