Pesquisa do FGV IBRE reforça sinais de fragilidade do mercado de trabalho nordestino

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Nesta quarta-feira (15/2), o FGV IBRE divulgou dados regionais da nova Sondagem do Mercado de Trabalho, com destaque para a região Nordeste. Em evento híbrido sediado em Fortaleza (CE),  Rodolpho Tobler, coordenador do estudo, demonstrou que os dados da Sondagem reforçam os sinais de maior fragilidade presentes na economia nordestina quando se trata de geração de emprego e renda.

Dados da PNAD Contínua, do IBGE, mostram que o Nordeste concentra a segunda maior população em idade para trabalhar do país, perdendo apenas para o Sudeste, mas também a que registra a menor taxa de ocupação entre as regiões brasileiras. No terceiro trimestre de 2022, a taxa de desemprego nordestina era de 12%, contra 8,7% na média nacional. Possui a segunda maior taxa de informalidade, perdendo apenas para o Norte, com 52,2% do total dos ocupados, quase 13 pontos percentuais acima da média do país, e uma proporção de desalentados - pessoas em idade de trabalhar que não procuram emprego por acreditarem que não conseguiriam uma vaga, mas gostariam de estar trabalhando - mais de quatro vezes maior do que a encontrada no Sudeste, e mais que o dobro da observada em média no Brasil. Além disso, o rendimento médio recebido pelos trabalhadores no Nordeste é menor que o registrado nas demais regiões em qualquer categoria de ocupação - seja empregador, empregado ou conta-própria - ficando 33% abaixo da média nacional das ocupações. “Essa desigualdade se repete quando observamos a renda média por nível de escolariodade e sexo”, destaca Tobler.

Perfil mercado trabalho Nordeste
terceiro trimestre 2022


Fonte: PNAD/IBGE; elaborado por FGV IBRE.

A Sondagem do Mercado de Trabalho do FGV IBRE mostrou que entre as pessoas ocupadas em atividades sem qualquer registro, 90,2% gostariam de ter um emprego com carteira assinada. Entre os trabalhadores por conta própria (28,7% do total na região),  uma fatia maior que a média regional afirmou que antes dessa ocupação era informal (28,9%) ou estava desempregado (24,7%). Somados, os fatores “busca por renda extra” ou “estava  desempregado e precisava de rendimento” chegam a 43,7% do total. Um destaque da pesquisa também é a referência de busca por maior independência, com 33,5% das citações, acima da média nacional, com 22,9%, só perdendo para a região Centro-Oeste.

Qual principal motivo para você trabalhar por conta própria?
(%)


Fonte: FGV IBRE.

 

Situação antes de trabalhar por conta própria 
(% de respostas)


Fonte: FGV IBRE.

Tobler afirma que o alto nível de informalidade e de trabalho por conta-própria no Nordeste devem justificar que, na região, a parcela dos respondentes que consideram improvável perder o emprego nos próximos 12 meses seja alta - 49,8%, contra 58,7% na média nacional, com o Sul liderando essa fonte de insegurança, com 66,9%. Os nordestinos, entretanto, demonstram o segundo pior resultado quando o tema é ter um colchão financeiro para suportar as adversidades: 73,4% afirmaram que, caso perdessem o emprego, poderiam sustentar a família por no máximo três meses. O resultado é 7 pontos percentuais que a média brasileira, e só fica atrás do registrado entre trabalhadores da região Norte, com 77,5%.

Apesar de tantos resultados jogando contra a situação da população em idade ativa no Nordeste, Tobler destaca que na região os trabalhadores registram o segundo maior índice de satisfação com o seu trabalho (77,5%), perdendo apenas para a região Sul, com 83,5%. “Esse resultado talvez possa se justificar pelo fato de que, em uma região onde a taxa de desemprego é historicamente mais alta que a média, a conquista de uma atividade remunerada por si só já seja um motivo de maior satisfação”, afirma o economista.

Por quanto tempo você e sua família conseguiriram se sustentar se você perdesse o emprego ou principal fonte de renda?


Fonte: FGV IBRE.

Pontos para reflexão

No evento, Flavio Ataliba, pesquisador associado do FGV IBRE, ex-secretário executivo do Planejamento e Orçamento do Ceará, defendeu a importância de se aprimorar o entendimento da dinâmica regional do trabalho e da renda, lembrando que o rebatimento dos movimentos da economia nacional como um todo é diferente de acordo às particularidades e estruturas produtivas de cada parte do país. “Minha percepção é de que esses estudos reabrem a discussão sobre essas questões regionais brasileiras”, disse, recordando o debate suscitado em 1950, época de criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e do Banco do Nordeste. “Olhar o desequilíbrio de renda interpessoal é fundamental. Mas tão importante quanto é olhar esse desequilíbrio do ponto de vista espacial, e daí o mérito de se debruçar e entender melhor esse recorte regional.”

Quais itens considera de maior risco para você ou sua famílias nos próximos 3 anos?
(múltipla escolha, em %)


Fonte: FGV IBRE.

Ataliba ressaltou os potenciais de desenvolvimento econômico do Nordeste - como no campo das energias renováveis (veja matéria sobre hidrogênio verde). “A despeito disso, ainda representamos 14% do PIB - participação que praticamente não se alterou nos últimos 70 anos -, mesmo concentrando 27% da população brasileira. Isso precisa ser resolvido”, afirmou. O ex-secretário também ressaltou a necessidade de estimular o empreendedorismo na região, para que o crescimento do trabalho por conta-própria no Nordeste não seja apenas de empreendedores por necessidade - como a pesquisa do IBRE aponta, ao ressaltar o percentual de trabalhadores que optaram por essa modalidade em busca de renda. “A despeito da importância do trabalho com carteira assinada, sabemos que empreender e fazer prosperar um negócio também é importante para dinamizar a economia”, disse.

Atualmente, qual o grau de satisfação com seu trabalho?
(%)


Fonte: FGV IBRE.

 

Reveja o evento de divulgação da Sondagem do Mercado de Trabalho por regiões - Nordeste.

Leia também: Sondagem do FGV IBRE joga novas luzes sobre o emprego por conta própria no Brasil.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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