Nelson Marconi analisa a relação do mercado de trabalho aquecido com o crescimento econômico

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A resiliência do mercado de trabalho, com resultados acima da expectativa no campo da formalização e do aumento da renda, tem sido objeto de análise entre pesquisadores do FGV IBRE e articulistas da Conjuntura Econômica. Em maio, a Carta do IBRE destacou tendências positivas que explicariam a atual conjuntura laboral, como efeitos da reforma trabalhista de 2017 e o aumento do grau de escolarização dos trabalhadores. Já Bruno Ottoni (FGV Projetos), em seu artigo na mesma edição, apresentou uma análise da qualidade das vagas geradas com base em um indicador que leva em conta salário, estabilidade, rede de proteção e condições de trabalho da população ocupada. O resultado, desta vez, foi menos animador, ao apontar uma piora, por exemplo, no quesito proteção, posto que a formalização mais frequentemente observada, via MEI, não conta com a mesma assistência de uma vaga com carteira assinada, que inclui direitos como ao seguro-desemprego e o FGTS.

Na edição de julho, o tema seguirá com a análise de Nelson Marconi, professor da FGV Eaesp, sobre os pontos positivos e negativos do atual avanço do mercado de trabalho. Marconi analisa a qualidade dos postos recentemente gerados comparando da PNAD Contínua em três períodos semelhantes de anos distintos: os primeiros trimestres de 2012, 2023 e 2024.

Nos 12 anos entre 2012-24, Marconi identifica uma mudança substancial nos vínculos empregatícios e na composição setorial no mercado de trabalho, com maior contribuição do emprego com carteira assinada no total de vagas. “Porém, o grande responsável pela evolução do número de ocupados foi o grupo dos trabalhadores por conta própria – respondem por 43% da variação observada no período. E dentre eles, o setor que mais cresceu foi o de transportes, confirmando a propalada uberização do mercado de trabalho”, constata, destacando esse aumento também em outras ocupações dentro do grupo de serviços pessoais.  Marconi também identificou a tendência de “pejotização” em atividades profissionais, científicas e técnicas – o que significa, entre outros, uma queda da arrecadação tributária oriunda do trabalho.

Por outro lado, Marconi destaca uma contribuição positiva dos setores de educação e saúde “em virtude do crescente protagonismo que essas atividades assumiram nas sociedades modernas, bem como de atividades profissionais e científicas, acompanhando a modernização de algumas áreas de serviços”, sinalizando que tal comportamento é comum entre economias que se desindustrializam. Ele chamou a atenção para a diferença entre salários nos setores modernos e tradicionais, assim como entre as remunerações dos conta-própria. “Aqueles em atividades que demandam maiores habilidades se inserem bem neste tipo de relação de trabalho, mas os trabalhadores de tarefas manuais e operacionais perdem quando deixam o setor formal da economia”, avalia Marconi.

Salário médio setorial – 1º trimestre de 2024 – em reais


Fonte: PNAD contínua (IBGE), com cálculos do autor.

Em 2023 e 2024, essa tendência permanece explicando a dinâmica do emprego no Brasil, afirma o professor da FGV Eaesp.  “Os setores que mais contrataram entre os primeiros trimestres de 2023 e 2024 foram transportes, saúde e atividades administrativas, seguidos por indústria de transformação - bem-vinda exceção! - e comércio”, enumera. Os destaques são as ocupações com carteira na área administrativa e de suporte, comércio e transporte; as sem carteira no trabalho doméstico e os conta-própria no setor de transportes, que juntos respondem por 42% do emprego total.

Na avaliação de Marconi, apesar de celebrada, a atual dinâmica do mercado de trabalho carece do apoio de setores mais dinâmicos. Fato que também aponta, completa, que a atual elevação do nível de emprego não deverá implicar “superior crescimento econômico, porque não gerará um estímulo à demanda suficiente para tal”.

Leia a íntegra do artigo de Nelson Marconi na Conjuntura Econômica de julho, que será divulgada esta semana aqui no Blog, com acesso gratuito.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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