Inflação de alimentos: a trégua esperada ainda não veio

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O resultado do IPCA de abril, medido pelo IBGE, confirmou as projeções o FGV IBRE para o mês – diferente da mediana do mercado, que estava um pouco abaixo –, e a tendência de que nos próximos meses a inflação registre seu momento de maior aproximação da meta, voltando a subir no segundo semestre para chegar na casa dos 6,2%, projeção do IBRE para o fechamento do ano.

Na avaliação de Andre Braz, superintendente adjunto para Inflação do FGV IBRE,  o principal sinal dado pelo IPCA de abril é o de que, apesar de cadente, a inflação não está completamente vencida como se esperava. “Todas as principais classes de despesa apresentaram variação mais forte. Vimos que o índice de difusão – que mostra o percentual de itens com variação positiva – avançou de 60% em março para 66% em abril”, destaca, apontando ainda que a desaceleração dos núcleos de inflação acontece de forma mais lenta, “mostrando que a inflação subjacente está bem distante da meta”. Enquanto a inflação de 12 meses fechou em 4,2% em abril, a média dos núcleos ainda corre acima dos 7%.

Variação mensal (%)


Fonte: IBGE.

Uma das surpresas foi o grupo de alimentos e bebidas – que respondeu por 21,6% do peso do IPCA no mês –, de onde se espera que venha a maior redenção da inflação em 2023, proporcionando alívio especialmente para as famílias de mais baixa renda. “Muitos alimentos ligados a cesta básica tiveram aumento não caíram como esperávamos”, diz o economista do IBRE. Entre os destaques estão tomate (10,64%), leite longa vida (4,96%) e feijão rajado (4,41%). Braz classifica que a pressão dos preços de produtos in natura (com alta de 4,1%) pode estar relacionada a uma “despedida” dos efeitos do verão sobre esse grupo, o que tende a mudar com a chegada do outono/inverno, mais propício para a oferta de itens como hortaliças e legumes. “O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) antecipa uma queda significativa de preços dos alimentos, que ainda não apareceu em abril na magnitude esperada. Mas há espaço para essa inflação reduzir”, diz. No ano passado, a inflação de alimentos no domicílio fechou em 13,2%; este ano, as projeções do IBRE são de uma alta de 3%.

Variação IPA-DI – % 12 meses

 

Variação IPA, por origem


Fonte: FGV IBRE.

No caso dos serviços, entretanto, que em abril registraram inflação de 7,5% na taxa em 12 meses, essa sinalização de preços cadentes ainda não é clara, e chama a atenção. “Vários itens subiram mais do que no mês de março, e não se concentram apenas entre os que classificamos de voláteis, como passagens aéreas, que registrou alta de 11,9% no mês”, afirma Braz, citando o caso dos alugueis residenciais (0,5%) e o condomínio (0,87%). Outro destaque ente as principais altas foi a alimentação fora de casa que, afirma Braz, reflete um movimento de recuperação de margens desses negócios, que nos últimos anos foram impactados pelos efeitos da pandemia e pela inflação de alimentos, e onde muitos registram alto nível de endividamento. “No caso do comércio de bens duráveis o cenário de juros já tem se refletido em queda clara de demanda, dado o encarecimento do financiamento de bens como carros e eletrodomésticos. Mas isso não tem acontecido com os serviços, que mostram uma resiliência que nãos e esperaria neste momento”, afirma.

Maiores altas de abril em serviços e monitorados, (%)


Fonte: IBGE.

Outro ponto de atenção está no campo dos monitorados, que registrou alta de 0,86% no mês. Entre os destaques, serviços de transporte como o metrô (1,24%), e reajustes de tarifa de energia acima da inflação média, como no caso do Rio de Janeiro (5,23%). No caso dos combustíveis, gasolina, óleo diesel e gás veicular registram variações negativas. “Há ainda a chance de a Petrobras operar um corte de 10% nos preços da gasolina, para o qual colaboram uma defasagem em relação ao preço internacional do barril de petróleo e a apreciação do real frente ao dólar. Mas em julho teremos um nivelamento de ICMS, que pode devolver esse ganho”, diz Braz. Nesta terça-feira, a Petrobras anunciou o abandono da política de paridade internacional de preços vigente desde o governo Michel Temer, indicando que a nova política levará em conta o custo alternativo do cliente. que contempla opções de suprimento, e o valor marginal para a Petrobras, calculado a partir do custo de oportunidade das alternativas que a companhia tem em sua operação, como produção, importação e exportação. 

Diante de um resultado de IPCA que ainda não pode ser considerado totalmente favorável, o economista considera que a possibilidade de corte da Selic não deverá acontecer antes de setembro. “Será preciso observar o resultado dos próximos meses para avaliar o comportamento de preços em grupos que não tiveram desempenho tão bom quanto imaginávamos”, afirma.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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