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Desemprego cai, mas fragilidade permanece

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

A taxa de desemprego recuou para 9,8% no trimestre encerrado em maio último. Não deixa de ser uma boa notícia, pois mais pessoas estão empregadas. É a primeira vez em mais de seis anos que o desemprego fica abaixo da casa de dois dígitos, sendo a menor taxa registrada desde o trimestre encerrado em janeiro de 2016, quando ficou em 9,6%. Se compararmos com trimestres encerrados em maio, é a menor taxa de desempregados desde 2015.

Em 2020, com o avanço da pandemia, houve uma queda muito forte do emprego no país (-7.7%), que impactou mais fortemente as ocupações informais (-13,1%), quando comparada com as ocupações formais (-4,1%). Passada a fase mais crítica da pandemia o emprego começou a se recuperar. Em particular, no ano passado, após a forte retração observada em 2020, o emprego cresceu 5%, puxado basicamente pelo avanço das ocupações informais, que cresceram 9,9%, bem superior ao crescimento de 1,9% das ocupações formais.

Os dados divulgados pelo IBGE também mostram que, se por um lado a taxa de desemprego tem mantido uma tendência de queda, já o rendimento médio real do trabalho ainda é 7,2% menor do que o registrado no mesmo trimestre de 2021.

Paulo Peruchetti, pesquisador do FGV IBRE, ressalta que a melhora nas taxas de desemprego deve-se, em grande parte, ao forte crescimento das ocupações informais que tem ditado a dinâmica do mercado de trabalho.

“Isso aumentou consideravelmente a contribuição da informalidade para o crescimento o emprego ao longo dos últimos anos, em especial no período de recuperação pós-pandemia. Em particular, no trimestre móvel encerrado em maio de 2022 o número de pessoas ocupadas atingiu a marca de 97,5 milhões de pessoas, o maior número desde o início da série iniciada em 2012”.

E como ficou o emprego formal?

Os dados também mostram um avanço gradual do emprego formal, caracterizado pelo aumento da contribuição deste tipo de ocupação para o aumento do emprego desde meados do ano passado e principalmente no início deste ano. A despeito desta melhora do emprego formal desde o início deste ano, a taxa de informalidade, que no final do ano passado girava em torno de 40,7%, passou para 40,1% no trimestre móvel encerrado em maio de 2022 (atingindo 39,1 milhões de pessoas, um número ainda bastante elevado) e próximo do nível observado antes da pandemia.

Decomposição do crescimento da população ocupada
(em % e em relação ao mesmo trimestre móvel do ano anterior)


Fonte: FGV IBRE.

Mas ainda há fragilidade no mercado de trabalho?

Apesar desta melhora no emprego, cerca de 6,8% do total das pessoas empregadas (ou seja, quase de 6,6 milhões de trabalhadores) ainda trabalhavam menos horas do que gostariam no trimestre móvel encerrado em maio de 2022, patamar um pouco acima ao observado no mesmo período de 2020 (5,8 milhões de pessoas). Estas pessoas, por serem majoritariamente informais, acabam por receber um salário mais baixo, contribuindo assim para o aumento da vulnerabilidade deste grupo.

Evolução dos subocupados por insuficiência de horas trabalhadas


Fonte: FGV IBRE.

Que outros pontos você julga relevantes para mostrar essa fragilidade?

Merece destaque o fato de que apesar da forte redução na taxa de desemprego para 9,8% (atingindo ainda 10,6 milhões de pessoas) no trimestre móvel encerrado em maio de 2022, ainda existia um número elevado de pessoas que estão nesta situação por dois anos ou mais, e que são os chamados desempregados de longa duração. Dados do primeiro trimestre de 2022, por exemplo, mostraram que quase 29% do total dos desempregados estava nesta situação. Somado a isso, está o fato de que o número de pessoas fora da força de trabalho ainda se encontra acima dos níveis observados em meados de 2020. A despeito disso, a taxa de participação tem se recuperado num ritmo mais lento. Em particular, no trimestre móvel encerrado em maio de 2022, a taxa de participação foi de 62,5%, maior do que a observado no mesmo período de 2020 (58,8%), porém menor do que a observado em 2019 (63,7%).

Evolução da taxa de desemprego e da taxa de participação


Fonte: FGV IBRE.

Isso se reflete na renda do trabalhador, não?

Sim. A mudança de composição do emprego, impulsionada pela volta dos trabalhadores menos escolarizados e em ocupações informais, somada ao cenário de inflação elevada, tem corroído o rendimento do trabalho nos últimos meses. Os dados mostram que no trimestre móvel encerrado em maio de 2022 o rendimento médio (R$ 2613) estava 5,9% abaixo do observado no mesmo período de 2019 (R$ 2777) e 10,5% abaixo o mesmo período de 2020 (R$ 2918). Apesar da melhora recente no emprego formal, qualitativamente este cenário ainda desperta um pouco de preocupação pois está sendo influenciado pela volta de trabalhadores informais e de menor escolaridade. Por último, em função da expectativa de fraco desempenho da atividade econômica no segundo semestre deste ano, o cenário ainda deva permanecer desafiador para o mercado de trabalho nos próximos meses.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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