Em Foco

O fracasso do Ocidente

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Entre uma lavada de louça e outra, depois de ficar engalfinhado destrinchando um frango para o almoço, fiquei pensando em que mundo vivem determinadas pessoas. A afirmação dos representantes do Itamaraty no segundo dia da Assembleia Mundial da Saúde, de que o Brasil estaria pronto para fornecer vacinas aos países mais pobres, no meio de uma pandemia, com uma vacinação que só imunizou 10% da população brasileira (duas doses), falta de vacinas para a segunda dose e com mais de 452 mil mortos, é, no mínimo, bizarra.

Na quarta-feira (26), por exemplo, o Ministério da Saúde reviu, uma vez mais para baixo, a promessa de entrega de vacinas em junho. Serão 8,4 milhões de doses a menos do que as 52,2 milhões prometidas anteriormente. A falta de insumos seria responsável por isso, segundo o Ministério: a Fiocruz que havia planejado entregar 34,2 milhões da AstraZeneca/Oxford, só deve ter disponível 20,9 milhões.

“O Brasil está pronto para contribuir com os esforços globais contra a Covid-19, por meio do fornecimento de doses de vacinas produzidas localmente”, cravou a delegação brasileira, conforme relato de Jamil Chade, colunista do UOL

Fico aqui matutando o que pensaram os representantes de outros países, que participaram do encontro, o mais importante da Organização Mundial da Saúde (OMS) do ano e que estabelece estratégias de combate à pandemia, ao ouvir tal insanidade.

Das 759 mil mortes registradas na América do Sul até o último dia 26, o Brasil era responsável por 59,5% desses óbitos, segundo o Our World In Data. Já galgamos o sombrio degrau de segundo lugar no número absolutos de mortes, só perdendo para os Estados Unidos. Como lá a vacinação vai de vento em popa, e por aqui caminha lentamente, se nada for feito iremos liderar o ranking mundial de mortes brevemente, embora a Índia, com a pandemia descontrolada, é outro sério rival nessa trágica estatística – pelos dados oficiais, mais de 318 mil indianos já morreram pela doença.

O comentário do pesquisador do FGV IBRE Fernando de Holanda Barbosa Filho, de que “o Ocidente fracassou no combate à pandemia”, é retratado no gráfico abaixo, até o momento, à exceção da Índia. Só gostaria de ressaltar que nos países democráticos controlar pessoas, obrigando-as ao isolamento, não é trivial. Hábitos culturais dificultam, em muito, essas ações, ao contrário dos países asiáticos, muitos com regimes controlados com mão de ferro pelo Estado, como é o caso da China. Em grande parte da Ásia é comum as pessoas andarem de máscaras e respeitarem as normas.

Mortes no mundo
(Covid-19 – em mil)


Fonte: Our World in Data. Elaboração própria. Dados do Brasil até 27/5.

Outro ponto que precisa ser lembrado, é que a população da América Latina ainda é bastante jovem. Ao contrário da Europa, onde a população de pessoas acima de 65 é de 18%, pouco mais de 8% dos habitantes da América Latina tem 65 anos ou mais. E mesmo assim o número de mortos pela pandemia é elevado para uma população jovem, com tendência a continuar subindo. O que evidencia que o vírus não escolhe mais idade, embora os mais velhos e pessoas com alguma doença ainda sejam os mais vulneráveis e com mais óbitos.

Pesquisadores da Fiocruz alertaram na última sexta-feira (21) que, pela primeira vez desde o começo da pandemia, a mediana da idade de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no país ficou abaixo dos 60 anos. Segundo os pesquisadores, “diferente das últimas semanas, mais da metade dos casos de internação hospitalar e internação em UTI ocorreram entre pessoas não idosas. Em relação aos óbitos, embora a mediana ainda seja superior a 60 anos, ao longo deste ano houve queda num patamar de 10 anos. Os valores de mediana de idade dos óbitos foram, respectivamente, 73 e 63 anos”.

Mortes por habitantes
% de pessoas com 65 anos ou mais


Fonte: Worldometer.

A flexibilização de medidas de isolamento, o abre e fecha da economia, mensagens desencontradas e postura de autoridades sobre uso de máscaras, isolamento, a lenta vacinação, o cansaço das pessoas em ficarem em casa, tem levado a piora dos contágios no Brasil. Há 19 dias consecutivos, a média móvel de novos casos de Covid aumenta a cada 24 horas. Na média móvel dos últimos sete dias, nota-se uma subida.

Dados compilados pelo Google mostram que o movimento no transporte público está apenas 14% abaixo do período antes da pandemia, sendo a maior movimentação entre 16 países pesquisados. Essa movimentação é maior do que a do Reino Unido, com 37% menos antes da pandemia), Estados Unidos, com menos 20%, dois países em que quase metade da população já foi vacinada. Seria uma terceira onda que se avizinha, acreditam vários cientistas.

Média móvel casos e mortes no Brasil


Fonte: Worldometer. Média móvel dos últimos 7 dias.

Mas se por aqui as coisas não andam bem, nossos vizinhos também não têm nada a festejar.

Nesse Em Foco, foram convidados quatro jornalistas para relatarem como estão vendo a pandemia em seus países, as medidas que estão sendo tomadas e os impactos sobre a economia. Meus agradecimentos à pronta resposta e ao envio dos textos abaixo, traduzidos para o português. Qualquer erro de compreensão, é de minha inteira responsabilidade.

 

Argentina

Os números mostram uma outra onda da COVID-19 muito mais grave que a primeira na Argentina. Na terça-feira (25), quando os argentinos comemoravam o dia da pátria, o país ultrapassou os 75 mil mortos – até ontem eram 79,8 mil,  com uma média móvel dos últimos sete dias, terminados no dia 26, de 475 óbitos, a mais alta desde que a pandemia começou.

A Sondagem da América Latina do FGV IBRE sinalizou que os principais problemas apontados pelos analistas na Argentina são a pandemia, falta de confiança na política econômica, clima desfavorável para os negócios e lenta vacinação.

Labirinto de difícil saída

Marcia Carmo, editora do Clarin em português

A economia argentina está metida em um difícil labirinto. A recessão, iniciada em maio de 2018, foi agravada a partir do registro do primeiro caso de coronavírus no país, em março de 2020. O Produto Interno Bruto (PIB) desabou 9,9%, em uma das piores contrações da América Latina, segundo dados oficiais e do Fundo Monetário Internacional (FMI). A expectativa do organismo é de recuperação de 5,8% do PIB neste ano. Mas, atém da recessão, a Argentina não consegue resolver seu velho problema, a inflação – à exceção dos índices estratosféricos da Venezuela, nenhum país da América do Sul tem estes indicadores de preços.  Nos quatro primeiros meses deste ano, a inflação argentina registrou alta de 17,6%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Neste ritmo, a meta de 29%, prevista no orçamento de 2021, dificilmente será cumprida, observa o economista Orlando Ferreres, da consultoria Ferreres y Asociados.

A inflação é apontada como um dos principais motivos para a pobreza de 42%, medida pelo Indec. Estima-se que dois milhões de pessoas passaram a ser consideradas pobres nestes meses de pandemia. O desarranjo da economia tem levado setores do próprio governo a pressionarem pela saída do ministro da Economia, Martín Guzmán. Guzmán é um acadêmico, ligado ao Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, com bom trânsito nos gabinetes internacionais e que adora futebol. Ele costumava jogar pelada com o presidente Alberto Fernández na residência presidencial de Olivos, antes da pandemia. Mas a situação da economia levou seus opositores a passarem a chama-lo de “ministro de la deuda” (ministro da dívida), já que seu foco está na negociação com o Clube de Paris e, principalmente, com o FMI. No governo do ex-presidente Mauricio Macri, a Argentina adquiriu empréstimo recorde na história do organismo multilateral de crédito (US$ 54 bilhões, dos quais recebeu cerca de US$ 44 bilhões).

No labirinto argentino, soma-se o fato de que neste ano serão realizadas eleições legislativas, em novembro. A oposição ao governo afirma que Alberto Fernández e sua vice-presidente, a ex-presidente Cristina Kirchner, governam de olho neste pleito, que costuma ser definido como uma espécie de plebiscito a administração central. Uma das medidas criticadas por opositores foi a suspensão, em maio, das exportações de carne bovina durante trinta dias. O governo argumenta que a medida foi tomada diante da disparada no preço da carne – cerca de 60% em um ano. Os produtores reagiram com a paralisação das vendas de vacas no país, como contaram os que integram a chamada “Mesa del Enlance”, que reúne, entre outros, a Sociedade Rural Argentina. A China é o principal destino (cerca de 75%) das exportações da carne bovina do país. A preocupação entre os produtores e exportadores é se a suspensão das exportações não vai gerar “quebra na confiança” em relação ao país que tanto precisa de dólares.

Quando o país registrou o primeiro caso de coronavírus, em março de 2020, o presidente decretou um rigoroso lockdown que teve, inicialmente, forte adesão e levou sua popularidade a índices recordes. (Segundo pesquisa da Universidade de San Andres, a popularidade de Fernández caiu este mês para 26%, 41 pontos a menos que os 67% de abril do ano passado).

As causas disso: população cansada do isolamento, crise econômica, medidas impopulares, o aumento dos trabalhadores informais (as feiras de roupas e de variedade de objetos no interior da província de Buenos Aires, a maior do país, se multiplicaram), levando para baixo a popularidade do presidente. E as tarefas para reverter isso, são titânicas”. 

Casos e mortes na Argentina


Fonte: Worldometer. Média móvel dos últimos 7 dias.

 

Chile

Highlanders latinos

Carlos Saldivia, repórter El Mercurio

“Isto é Macondo”. Assim o professor de espanhol de um colégio de Santiago traduz a situação de ter parte dos alunos assistindo à aula presencialmente, e outros 20% tentando acompanhá-la de suas casas, entrecortada por falhas no sinal de internet. E se refere à Torre de Babel –onde ninguém fala a mesma língua, mas continua lançando ideias no intento de chegar ao topo –, ao descrever a iniciativa do governo, lançada esta semana, de autorizar todas as pessoas já imunizadas com duas doses da vacina a circularem livremente por áreas do país ainda em quarentena.

É difícil construir cenários para o segundo semestre de 2021 no Chile, como é difícil prever por quanto tempo viveremos nesse estado de pandemia. Mas há quatro fatores que podem ser determinantes nesse processo. O primeiro é uma profunda crise econômica que força muitas pessoas a saírem de suas casas para trabalhar no comércio informal e manter suas famílias. Enquanto isso, na outra ponta, cerca de 1,6 milhão de chilenos não têm problemas econômicos, a quem não importa se existem ou não políticas de transferência de renda. E, no meio, uma classe média de cerca de 12 milhões de pessoas que tampouco são elegíveis a programas de auxílio, por terem uma casa própria de determinadas características, ainda que lhe falte comida no prato. O mal-estar gerado pela desigualdade de renda levou às pessoas de volta às ruas, em diferentes regiões do país. E isso pode continuar.

O segundo fator é a extrema confiança que a população imunizada – atualmente, 41,2% com duas doses – têm depositado na vacina, relaxando nas medidas de proteção. O convencimento de que estariam praticamente livres do contágio despertou-lhes a confiança de um highlander, contra o qual a Covid-19 nada tem a fazer.  Os fatos das últimas semanas, entretanto, demonstram que as duas doses de vacina – predominantemente, a vacinação foi feita com imunizantes das fabricantes Sinovac e AstraZeneca – apenas reduzem a gravidade da doença nos pacientes infectados, diminuindo o número de mortes, mas não o número de infectados. O número de contágios diários chega aos 7 mil, e o de mortos por Covid-19, a 50.

Outro elemento significativo para a evolução da pandemia nos próximos meses é a influência dos processos eleitorais nas medidas de isolamento. Até o momento, a interpretação do que é um comportamento seguro tem variado conforme a conveniência política, seja para criticar o impacto do isolamento no emprego, seja para definir regras do processo eleitoral e incentivar que eleitores busquem as urnas. Incoerências no discurso ajudaram a acender a revolta de um setor majoritário da população, que foi às urnas na eleição de constituintes para expressar seu voto contra a política tradicional, que não lhes tem sido útil na crise sanitária. Essa ira resultou na eleição de uma grande proporção de candidatos independentes, muitos sem qualquer experiência de funcionamento do Estado, que enfrentarão um grupo mais reflexivo e prudente. Nos próximos meses, quatro novas eleições acontecerão no Chile, incluindo a de parlamentares e presidente da República. Este, aliás, terá que estar preparado para administrar uma crise econômica já contratada, e a manutenção de ondas de contágio, quem sabe, até o inverno de 2022. Cientistas compartilham a defesa da manutenção de protocolos sanitários em prédios comerciais e residências, além de medidas individuais como uso de máscara e troca de roupa depois de atividades fora de casa. Resta saber, entretanto, como o novo mandatário lidará com esse tema.

Para concluir, tampouco sabemos a extensão e profundidade dos efeitos dessa persistente crise sanitária na sociedade. Aumento da violência doméstica, incluindo a sexual; obesidade, problemas respiratórios devido ao aumento do tabagismo; alta significativa do uso de tranquilizantes são alguns colaterais já observados com a pandemia. Somados à piora da situação financeira das famílias chilenas, certamente será um nicho que desafiará as próximas lideranças.

Média móvel de casos


Fonte: Worldometer. Média móvel dos últimos 7 dias.

 

Peru

Pior momento em quase 200 anos

Fernando Chevarría León – Diretor da EYNG – Estrategias e Negocios

A pandemia da COVID-19 é a pior que se abate sobre o Peru em seus quase 200 anos de existência como nação livre. As cifras mostram isso: 70 mil mortos segundo os dados oficiais. No entanto, esse número sobre para 170 mil se consultarmos o cadastro de valores excedentes do Sistema Nacional de Mortes (Sinadef). Apoiado nisso, um relatório recente publicado pelo Financial Times, alerta que o Peru é o país com o maior número de mortes excedentes no mundo pela pandemia, com mais de 4 mil óbitos por milhão de habitantes.

E isso tem impactado fortemente a economia com o PIB peruano caindo 11,2% no ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Informática (INEI)

Esse recuo é atribuído às medidas de confinamento adotadas pelo presidente Martin Vizcarra para conter o avanço do coronavírus. As ações, no entanto, parecem ter sido em vão, já que o avanço da pandemia não foi freado ou diminuiu. Pelo contrário: no início deste ano, uma fulminante segunda onda obrigou o agora presidente Francisco Sagasti a adotar novas medidas de confinamento, que jogam por terra as projeções de crescimento econômico realizadas por diversos organismos e pelo próprio governo.

Em agosto do ano passado, cerca de cem mil empresas fecharam as portas, apesar da ajuda governamental e 4 entre 10 peruanos haviam perdido os seus empregos. Em outras palavras: uma média de 6,3 milhões de peruanos ficaram sem renda, um número alarmante considerando que a população do Peru é de da ordem de 33 milhões. Embora o emprego em março último tenha se recuperado devido ao restabelecimento das atividades produtivas, milhões de peruanos não recuperaram seus níveis salariais pré-pandêmicos e centenas de milhares ainda estão desempregados.

Deve-se destacar que, embora o Peru tenha liderado o crescimento econômico da América Latina por mais de 20 anos, fato que reduziu a pobreza de 50% para 20% da população, a pandemia revelou uma série de carências que colocaram em xeque o modelo de abertura econômica que começou na década de 90, especialmente no que diz respeito à infraestrutura em saúde, educação e conectividade.

Isso se evidencia no caso da saúde pela falta de hospitais, leitos de UTIs e plantas medicinais de oxigênio, o que resultou em milhares de peruanos sem acesso ao atendimento, o que sem dúvida aumentou o número de óbitos.

No caso da educação, milhões de crianças e adolescentes faltaram ao ano letivo por falta de conexão à internet, principalmente nas áreas rurais. Estima-se, segundo dados do Ministério da Educação, que mais de 300 mil alunos deixaram de ir à escola em 2020, enquanto a evasão universitária atingiu 13%.

Hoje, a pobreza no Peru é de 30%, dez pontos a mais do que antes do COVID-19. E as coisas não melhoraram. Mais de um ano após o início da pandemia, o sistema de saúde segue em colapso e, ao contrário, instalou-se um mercado negro de venda de oxigênio medicinal, chave para o tratamento do vírus, que já fez com que milhares de famílias vendessem suas propriedades para poder comprar balões e concentradores de oxigênio. Este último custou até US$ 6 mil.

O governo do ex-presidente Vizcarra que saiu em novembro passado acusado de corrupção a favor de um laboratório chinês na compra de vacinas contra o COVID-19, que acabaram não sendo adquiridas na realidade. O novo governo só conseguiu fechar a compra das vacinas da Sinopharm (China) e da Pfizer (Estados Unidos), que estão chegando em conta-gotas.

Quando escrevia esse texto, apenas 2 milhões de peruanos haviam sido vacinados com pelo menos uma dose do imunizante, o que deixa o país na fila quanto ao percentual da população imunizada pelos países da região. E, embora seja verdade que o atual governo estima que a maioria da população estará imunizada até o final de 2021, isso não é garantido, pois dependemos da produção dos laboratórios com os quais foram firmados convênios.

Assim, o Peru está às portas das eleições presidenciais de 6 de junho, que definirão o futuro do país nos próximos cinco anos. O favorito para vencer as eleições é Pedro Castillo, candidato do partido comunista Peru Libre, que propõe uma virada de 180 graus no modelo econômico peruano, que, embora tenha deficiências que devem ser corrigidas para fechar mais rapidamente as brechas socioeconômicas, tem funcionado em termos de desenvolvimento econômico para os peruanos.

O movimento de Castillo é para a esquerda com uma mudança radical na Constituição, que inclui, como ele mesmo mencionou, nacionalização de empresas, confisco de fundos de pensão privados, revisão de acordos comerciais e proibição de importação, entre outras questões.

Os peruanos vivem em tempos de pandemia e incerteza. Definitivamente, os piores momentos desde a nossa independência, que em 28 de julho comemora seu Bicentenário.

Média móvel casos e mortes no Peru


Fonte: Worldometer. Média móvel dos últimos 7 dias.

 

Uruguai

Exemplo de sucesso no combate à pandemia até pouco tempo, o Uruguai mergulhou, desde março, nesse inferno astral que todos estamos vivendo. Hoje, o país tem o maior número diário de mortes no mundo, quando se considera o tamanho de sua população: 16 a cada milhão de habitantes, 60% mais que o Brasil.

Mas o que deu errado, já que as mortes no Uruguai eram raríssimas no ano passado?

Da bonança à tempestade

Luis Custódio, editor de Economia e Mercado do El País

“Em menos de três meses, o Uruguai atingiu níveis muito bons de inoculação, com 27% da população recebendo as duas de Sinovac, Pfizer ou Astra Zéneca, as três vacinas utilizadas no país, com planos de, até a primavera, se atingir um nível de imunidade que permite recuperar, pelo menos em parte, o dia a dia pré-pandemia. Apesar disso, estamos longe de nos sentir seguros. A transmissão do virus mostra que, quase inteiramente, ele responde à variante altamente contagiosa P1, a cepa original de Manaus.

Quando em fevereiro passado os gráficos mostravam aumento incipiente de infecções, internações em UTIs e óbitos, o governo decidiu fechar algumas atividades, principalmente de ensino, mas rejeitou medidas mais drásticas sugeridas pelo comitê científico que assessora as autoridades. Preservar alguns motores da atividade econômica e sugerir a “liberdade responsável” dos indivíduos foi a opção oficial, apostando no avanço das vacinas.

Há um esforço por parte do governo uruguaio em dar assistência aos mais vulneráveis e pequenos negócios, tentando minizar os danos, enquanto a vacinação avança. Há esperança de se esperar uma recuperação mais rápida da economia, tão logo a mobilidade aumente. Mas devemos contabilizar quase 4 mil mortes pelo coronavirus, ¾ delas nos últimos dois meses”

A Sondagem da América Latina divulgada pelo FGV IBRE apontou que o Uruguai é um dos quatro países da região onde o clima econômico piorou no segundo trimestre do ano, em relação ao anterior. Os principais problemas identificados pelos especialistas consultados foram a pandemia, o aumento das desigualdades e a fraca demanda no país.

Casos e mortes no Uruguai


Fonte: Worldometer. Média móvel dos últimos 7 dias.

 

Agradeço a Solange Monteiro pelo auxílio nos contatos com os jornalistas do Chile e do Peru. E a Silvia Matos pelo fornecimento do gráfico sobre mortes por faixa etária nos países.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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