Conjuntura internacional e as exportações brasileiras

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

As últimas semanas foram marcadas por uma série de eventos no campo externo que levaram analistas a revisar suas projeções macroeconômicas. Para o Brasil, uma das principais frentes veio da política monetária dos Estados Unidos, com uma mudança nas expectativas sobre o ritmo de corte de juros. Em artigo recente para a Folha de S. Paulo ( link aqui, para assinantes do jornal), o pesquisador do FGV IBRE Samuel Pessôa indicou – a partir de um modelo de decomposição da variação do real diante o dólar feito em parceria com Livio Ribeiro, pesquisador associado do IBRE – que 65% da desvalorização da moeda brasileira entre 29 de dezembro de 2023 e 18 de abril foram justificados por fatores externos, onde o que mais pesa são o comportamento dos juros americanos e o fortalecimento do dólar em relação às demais moedas. Até este momento de 2024, Pessôa diz que esse contexto mais do que compensou a vantagem que o real costuma ter, como moeda de país exportador de matéria-prima, quando os preços de commodities se elevam.

No Indicador de Comércio Exterior (Icomex) do FGV IBRE divulgado na semana passada, os pesquisadores responsáveis pela análise, coordenados por Lia Valls, destacam que, ainda que a desvalorização do real seja negativa no campo da inflação, o efeito para a balança comercial tende a ser positivo. O diagnóstico se repete em se tratando do acirramento do conflito no Oriente Médio. Nesse caso, à exceção da possibilidade de um alastramento desses conflitos que envolvesse diretamente as grandes potências, o preço de commodities, em especial, do petróleo, tende a subir.  O Icomex destaca que, antes do acirramento do conflito entre Irã e Israel, a OMC estimava um aumento do comércio mundial de 2,6% em volume este ano, contra -1,2% em 2023, ressaltando que, para o mundo, a piora do panorama no Oriente Médio trazia um viés negativo para essa projeção.

Outro elemento forte para essa conta é o comportamento da economia chinesa, sobre o qual, para os pesquisadores do Icomex, ainda não há consenso se os sinais recentes de melhora são sustentáveis ao longo do ano. Livio Ribeiro, analista de China, corrobora a estimativa de mercado de viabilidade de cumprimento da meta de 5% para o crescimento do PIB chinês este ano, apresentada pelo governo. Ele ressalta, entretanto, que para essa melhora colaboram uma revisão da série histórica da economia chinesa, ampliando a herança estatística para 2024. Ribeiro também destaca que os resultados do início de ano foram impulsionados pelas vendas externas – que podem sofrer limitações adiante. Dados de vendas no varejo e de produção industrial frustraram as expectativas em março, afirma, lembrando que no âmbito doméstico o governo mantém sua estratégia de recorrer a investimentos públicos para sustentar a economia no curto prazo.

No primeiro trimestre do ano, os sinais positivos da economia chinesa levaram o país a liderar com folga sua participação entre os principais países destinos das exportações brasileiras, com 29,4%, seguido por Estados Unidos (12,6%) e Argentina (3,6%). Há dez anos, destaca o Icomex, a participação de China e Estados Unidos era de, respectivamente, 17,4% e 15,5%. Destaca-se, entretanto, que em termos de volume exportado os Estados Unidos lideram neste primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2023, com alta de 21,6%, contra 14,9% da China e de 10,2% para Ásia exclusive China e Oriente Médio. Esse resultado se justifica especialmente pelos envios de petróleo bruto, que representaram 19% das vendas aos EUA. Os demais destinos tiveram variação negativa na mesma comparação, com -14,8% para União Europeia, -27,2% para Argentina e -15,8% no caso dos demais países da América do Sul.

O Icomex também destaca a alta concentração da pauta das exportações brasileiras para a China, com três produtos representando 77% do total neste primeiro trimestre de 2024: soja (31%); minério de ferro (23%); e petróleo (23%).

Leia tambémBrasil-China: desafios para uma relação ganha-ganha.

 

Participe do webinar FGV IBRED e Folha de S. Paulo sobre transição energética na próxima quarta-feira (24), às 10h. Inscrições.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir