Crescem os desafios para 2022

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Como era esperado, começamos 2022 com muitos desafios que tendem a travar o crescimento econômico. O Boletim Macro FGV IBRE projeta um crescimento pequeno, de 0,6% do PIB este ano, que pode sofrer alterações em função do andar da carruagem. Um dos principais problemas é a inflação, que continua firme e forte, como tenho escrito nesse espaço. Lá fora, as pressões inflacionárias se intensificaram, com novos aumentos dos preços do petróleo e das commodities agrícolas. A forte demanda por combustíveis, passado o pior momento da pandemia, levou os preços às alturas.

Estimativas do Goldman Sachs mostram que o preço do petróleo tipo Brent deve alcançar US$ 100 por barril, ainda no terceiro trimestre de 2022. Na média deste ano, o preço deve se situar em U% 96 por barril, 35% acima do preço médio de 2021 de US$ 70 (ver A energia e os impactos sobre o Brasil).

Como aponta o Boletim Macro FGV IBRE deste mês, outro ponto de pressão inflacionária são as commodities agrícolas: “as projeções de safras de grãos foram revistas para baixo, com destaque para o Brasil e a Argentina, devido a problemas climáticos que têm afetado a produção.  Os estoques desses produtos estão em baixa, acentuando a pressão sobre os preços. Tensões geopolíticas apenas agravam essa tendência – Rússia e Ucrânia são, por exemplo, dois dos maiores exportadores mundiais de trigo. Adicionalmente, a China tem evitado uma desaceleração mais intensa da economia, com políticas de estímulos, contribuindo para pressionar os preços das commodities, principalmente das metálicas. Por sua vez, a onda da Ômicron intensificou as pressões inflacionárias dos insumos industriais, devido às limitações das cadeias produtivas, e contribuiu para a manutenção da demanda mundial em patamares elevados relativamente à oferta”.

Ou seja: vamos ter que continuar convivendo com uma inflação elevada internamente por alguns meses. Em maio, quando entrar a redução da tarifa de energia, com o fim da bandeira criada pela crise hídrica do ano passado, poderemos começar a respirar um pouco em termos inflacionários. A expectativa, segundo o Boletim Macro, é que o IPCA fique em torno de 5,6% no ano, mas há riscos de novas revisões para cima. “Outro ponto de alento”, prossegue, “é que, como resultado do maior fluxo de recursos estrangeiros para o país, a taxa de câmbio se valorizou em torno de 8% desde o final do ano passado, atenuando os choques externos de preços”.

Inflação e juros em alta, questões fiscais que não se resolvem, queda de renda e desemprego, ano eleitoral. Um coquetel de problemas que tornam o cenário para este ano ainda mais desafiador.

Veja alguns dos destaques do Boletim Macro FGV IBRE de fevereiro:

• Em dezembro, os indicadores de alta frequência apontaram que o setor serviços ainda está aquecido, a indústria teve um respiro e o varejo desacelerou. O cenário de crescimento do PIB  do Boletim Macro para 2021 se manteve em 4,6%, com expansão moderada na margem no quarto trimestre de 0,5%. Em 2022, espera-se taxa de juros e inflação elevadas, mas ainda há espaço para recuperação de alguns setores de serviços.

• Os índices de confiança da FGV começaram 2022 em queda, sugerindo desaceleração no início do ano. Dados prévios de fevereiro mantêm esse resultado pelo lado empresarial e sugerem alguma recuperação pelo lado dos consumidores. Apesar da alta, a confiança dos consumidores ainda está muito baixa e quesito especial de janeiro mostra que muitas famílias têm dívidas em atraso.

Principais motivos para o atraso no pagamento das dívidas
(Dados em percentual)


Fonte: FGV IBRE.

• Afora a herança de uma safra anterior marcada por seca, geadas, incêndios, atraso na colheita, preços dos insumos em alta e disparada do petróleo, o clima ainda castigou lavouras importantes no Sul do país neste início de ano, especialmente de milho e soja. Tais pressões devem aumentar a participação de alimentos na inflação de 2022. Já o preço do petróleo não para de subir, diante dos temores de iminente guerra entre Rússia e Ucrânia.

• A mais recente ata do Copom deixa clara a preocupação dos dirigentes do Banco Central com o quadro inflacionário prospectivo: inflação ao consumidor persistente, alta dos preços de bens industriais, petróleo subindo, incerteza em relação ao arcabouço fiscal. Diante disso, e do reiterado compromisso do BC de “perseverar em sua estratégia” de aperto monetário, provavelmente conviveremos com juros reais elevados ainda por um bom tempo.     

• Na seção Observatório Político, Octavio Amorim, professor da FGV Ebape, indica que a provável aliança Lula-Alckmin tem potencial de ser a grande inovação política brasileira desde que o país entrou em modo de crise permanente com a eclosão das jornadas de junho de 2013. A aliança representa o núcleo de uma grande coalizão democrática que poderá não apenas vencer a disputa pelo Planalto em 2022, mas também dotar o novo governo de amplo respaldo parlamentar.

Veja a íntegra do Boletim Macro FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir