Prêmio salarial do ensino superior ainda é vantajoso? Levantamento de pesquisadores do IBRE indica que sim
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
O diferencial salarial do ensino superior no Brasil caiu nos últimos 12 anos, mas ainda se mostra claramente compensador, com vantagens adicionais diante da popularização da Inteligência Artificial generativa. Essas são as principais conclusões de um levantamento dos pesquisadores do FGV IBRE Janaína Feijó, Fernando Veloso, Fernando de Holanda Barbosa Filho e Paulo Peruchetti que foi tema da Carta do IBRE de outubro, destacada em matéria do jornal Valor Econômico desta terça-feira (1/10) (link, acesso restrito a assinantes do jornal), a partir de dados da PNAD Contínua.
O estudo aponta que, em 2012, trabalhadores com 16 anos ou mais de escolaridade (ensino superior completo ou mais) ganhavam 152% a mais em média do que aqueles com 12 a 15 anos de escolaridade – equivalente ao ensino médio completo ou superior incompleto. Em 2024, esse porcentual se reduziu para 126%, queda de 25,91 pontos percentuais (pp). O rendimento real habitual do trabalho daqueles com ensino superior caiu de R$ 7.495 em 2012 para R$ 6.619 em 2024. Ainda assim, o diferencial permanece grande: em 2024, o rendimento real habitual médio da segunda faixa mais escolarizada (12 a 15 anos de estudo) era de R$ 2.548. Na comparação com os trabalhadores com menos de um ano de escolaridade, esse prêmio recuou 278,32 pp, saindo de uma diferença de 664% a seu favor para 386% a mais em 2024. O rendimento real habitual do trabalho desse grupo menos escolarizado no segundo tri de 2024 era de R$ 1.483.
Retorno médio do salário-hora das pessoas com ensino superior em relação às outras faixas de escolaridade, em %, em 2º trimestre
Fonte: FGV IBRE.
Alguns fatores são apontados pelos pesquisadores como possíveis motivos da queda do prêmio salarial do ensino superior. O primeiro é o aumento da população com superior completo, que quase dobrou no período de 12 anos analisado: saiu de 12 milhões para 22,4 milhões. Em número de matrículas no ensino superior, dados do Inep indicam um aumento de 2,1 milhões em 1998 para 9,4 milhões em 2022. Ao deixar de ser um bem tão escasso quanto no passado, aponta Feijó, é de se esperar que o prêmio por essa mão de obra especializada tenda a se reduzir.
Outro elemento citado pelos pesquisadores como fator que pode estar por trás dessa redução da diferença salarial é a expansão da taxa de informalidade entre os mais escolarizados. No caso dos trabalhadores com ensino superior completo, a taxa de informalidade se elevou de 14% para 19,3% entre 2015 e 2024. Como a informalidade tende a estar relacionada com remunerações mais baixas, também pode ser parte da explicação pela redução do prêmio salarial do ensino superior completo.
Número de matrículas em cursos de graduação no Brasil
em milhões
Fonte: FGV IBRE.
Janaína Feijó destacou ao Valor que esse estudo não se limita a uma comparação de médias salariais entre grupos, incluindo também trabalhadores com experiências similares. Os pesquisadores identificaram, por exemplo, que os trabalhadores com ensino superior se concentram nas atividades de maior rendimento médio real - diretores e gerentes e profissionais das ciências e intelectuais. Esses dois grupos, inclusive registraram aumento do rendimento médio real habitual entre 2012 e 2024 – respectivamente, de R$ 7.171 para R$ 8.966, com alta de 25%; e de R$ 6.598 para R$ 6.799, alta de 3%.
Outro ponto levantado pelos pesquisadores na Carta do IBRE de outubro foi a influência da Inteligência Artificial no mercado de trabalho. Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, destacou estudo do FMI de 2023 em que se analisa a exposição do mercado de trabalho à IA, separando as aplicações como complementares ou substitutas de postos de trabalho. Quando há complementaridade, o risco de deslocamento dos empregos é menor.
Evolução da taxa de informalidade de cada faixa de escolaridade, por anos de estudo, em %
Fonte: FGV IBRE.
O Brasil foi um dos países analisados no estudo, além de Colômbia, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos. Aqui, eles identificaram que quase 40% dos trabalhadores estão em ocupações de alta exposição à IA, entre os quais metade tem alta complementaridade. Eles também identificaram que 80% dos trabalhadores com nível superior completo estão em ocupações com alta exposição à IA, mas que 50% dos trabalhadores com superior completo estão em postos em que a IA tem alta complementaridade. Para os que só têm o ensino médio completo, a exposição à IA é menor, um pouco acima de 60%, mas apenas em 20% dos casos essa relação é complementar, o que induz a maior risco de perda do emprego. Essa diferença, destacam os pesquisadores, é mais um ponto positivo a favor do ensino superior. Ainda que a presença da IA nos cargos ocupados por esses trabalhadores tende a ser maior, sua característica é predominantemente complementar, colaborando inclusive para a produtividade desse profissional.
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