Pesquisadores do IBRE apontam motivos pelos quais a baixa taxa de desemprego não pressiona a inflação no Brasil
-
Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
A Carta do IBRE de outubro divulgada esta semana destaca estudo em que os pesquisadores do FGV IBRE Fernando de Holanda Barbosa Filho, Paulo Peruchetti, Janaína Feijó e Daniel Duque buscaram identificar fatores para explicar por que a baixa taxa de desemprego atualmente observada no Brasil ainda não tenha motivado uma disparada da inflação. Tal como destacou Luiz Guilheme Schymura, diretor do FGV IBRE, em entrevista ao Valor Econômico (link, acesso restrito a assinantes do jornal), a combinação de baixa taxa de desemprego (os 5,8% registrados no segundo trimestre deste ano são o menor nível da série histórica iniciada em 2012), alto nível de ocupação e remuneração real média do trabalho crescendo cima da produtividade são sinais de aquecimento e surpreende “que a inflação não se encontre mais pressionada do que está”, diz.
Os pesquisadores identificaram que a combinação de mudanças demográficas e de escolaridade da população contribuem para tornar o mercado de trabalho menos aquecido do que parece. Para identificar esse efeito, eles realizaram um estudo contrafactual com o qual concluem que se o mercado de trabalho brasileiro tivesse a mesma composição educacional e etária que em 2016, antes da reforma trabalhista, a taxa de desemprego seria mais elevada, e a taxa de participação – que é o percentual da população em idade ativa que está trabalhando ou buscando emprego – e o nível de ocupação seriam menores. “Paralelamente, os rendimentos se manteriam em patamar semelhante ao de cinco anos atrás, com taxa de crescimento real significativamente reduzida”, indicam os pesquisadores em texto publicado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli (link) .
De lá para cá, a população brasileira ficou mais escolarizada, e mais velha. A combinação de ambos os fatores leva a que, se mantida a estrutura de 2016, a taxa de desemprego, que no segundo trimestre de 2025 estava em 5,8%, menor nível desde 2012, seria na verdade de 6,5%. A taxa de participação, por sua vez, sairia de 62,4% para 61,4%. E o nível de ocupação sairia de 68,8% para 55%. Ou seja, um desempenho bem mais modesto. Já o salário médio real sairia dos atuais R$ 3.477 para R$ 3.049.
Um elemento destacado pelos pesquisadores é que, ao limpar esses efeitos, identifica-se um aumento da produtividade ligeiramente acima do aumento da renda real, o que também contribui para explicar essa pressão sobre preços menor que a esperada.
Barbosa, Peruchetti, Figueiredo e Duque destacaram que outros fatores também podem colaborar para que a taxa neutra de desemprego no Brasil esteja se reduzindo. Entre eles, o impacto da reforma trabalhista. No último Seminário de Análise Conjuntural FGV IBRE/ Estadão, Samuel Pessôa, pesquisador associado do FGV IBRE, citou ainda a influência da gig economy.
Para acompanhar a evolução das variáveis estudadas os pesquisadores afirmam que pretendem divulgar trimestralmente a taxa de desemprego, o nível de emprego e o salário médio com esse controle demográfico e educacional.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.


