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Nova faixa do Minha Casa Minha Vida chegou em bom momento para o mercado, avalia Ana Maria Castelo

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Começou nesta segunda (5/5) a operação expandida do programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV), que passa a abranger famílias com renda mensal até R$ 12 mil, para financiamento de imóveis com valor total de até R$ 500 mil. Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, considera que a iniciativa chegou em bom momento para o mercado. “A nova faixa do programa (Faixa 4) abrange uma parcela da classe média que hoje deve enfrentar grande dificuldade diante do aumento do custo do crédito e uma oferta menor”, afirma, citando projeção da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Abecip), de que em 2025 a oferta de crédito imobiliário com recursos da poupança pode cair até 17% em relação a 2024. 

A Faixa 4 permite o financiamento de até 80% do valor de imóveis novos e usados (no caso do Sul e Sudeste, o limite para usados é de 60%), por prazo de até 420 meses e os juros nominais de 10% ao ano. Os recursos que financiarão esses créditos vêm de lucros e rendimentos do FGTS e dos próprios bancos operadores, a partir de depósitos de poupança e Letras de Crédito Imobiliário (LCI). A expectativa do governo federal com essa ampliação do MCMV é somar mais 120 mil famílias ao programa ainda em 2025.

Ainda que a medida seja observada por analistas dentro da conta do calendário eleitoral, Castelo pondera que não envolve subsídio, e responde a uma demanda por novas possibilidades de funding. “Não estamos falando de recursos captados no mercado a um custo alto e emprestado a um custo baixo. Trata-se da formação de um fundo soberano, sobre o qual ainda não há sinalização quanto a sua duração, mas que hoje permite uma taxa abaixo da cobrada pelo mercado, mitigando um cenário de redução de oferta que já vinha se desenhando”, diz.

Castelo afirma que a resposta do mercado ao Faixa 4 ainda deverá se refletir na Sondagem da Construção de maio. Entre os respondentes da pesquisa em abril, ilustra, 39% das empresas de edificações residenciais trabalhavam com o MCMV. “Com a ampliação do critério de elegibilidade, é possível que essa proporção aumente, podendo haver, inclusive, um novo direcionamento de produtos para a Faixa 4”, afirma.

Valores atualizados das Faixas do MCMV


Fonte: Ministério das Cidades.

Em abril, o Índice de Confiança da Construção registrou queda de 1,8 ponto em relação a março, para 93,6 pontos. “Percebemos que há uma expectativa sobre aumento da demanda, com as assinalações sobre melhora da tendência para a atividade superando as projeções de queda”, conta Castelo. “Na avaliação da situação atual dos negócios, entretanto, já se observa mais assinalações negativas do que positivas.”

A economista do IBRE destaca a persistência da preocupação com escassez de mão de obra e alta dos custos. Ela destaca em especial os resultados entre empresários do setor de serviços especializados. “Conversando com representantes desse segmento, observa-se uma demanda alta por conta do ciclo imobiliário, mas também muita pressão pela falta de mão-de-obra e o custo dessa mão-de-obra, em especial nas ocupações que exigem qualificação”, descreve. Castelo aponta que a situação é mais complexa entre empresas de pequeno e médio porte, mais sensíveis a oscilações do mercado. Em geral, são negócios que prestam serviços às empresas maiores e dependem de identificar um horizonte promissor de obras para formar e reter seus quadros.

 


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