IGP-DI e alimentos: sinais de desaceleração

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A inflação de alimentação no domicílio fechou 2024 foi de 8,23%, de acordo ao IPCA do IBGE, e perspectivas de continuar castigando o bolso do consumidor em 2025. Estimativas de mercado em janeiro chegaram a apontar uma inflação de alimentos perto dos dois dígitos este ano, levando o governo a debater medidas para mitigar o efeito dessa alta no bolso do consumidor e em sua própria popularidade.

O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de janeiro veio, entretanto, com sinais de que esse quadro pode ser mais benigno para o consumidor. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) fechou o mês em nível ainda alto para a alimentação (1,22%, contra 1,14% em dezembro, somando 5,68 no acumulado em 12 meses), o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) apontou a uma retração importante de preço de alguns produtos que no acumulado de 12 meses têm registrado uma alta significativa. O óleo de soja, por exemplo, que em 12 meses fechados em janeiro registra uma inflação de 41,98%, em janeiro marcou -6,48%, apontando perspectiva de queda de preço nos supermercados. A carne bovina, que em 12 meses aumentou 35,79% na medição do IPA, em janeiro retraiu 2,58%. “Os alimentos processados, por sua vez, que por estarem na categoria de bens finais são os mais próximos das gôndolas, registraram queda de 0,64%, o que leva a uma alta de 16,25% em 12 meses” descreve André Braz, coordenador de Índice de Preços do FGV IBRE. Alimentos processados são os com maior peso na categoria, de 10,3 pontos percentuais. Já a carne bovina contribui com 2,79 pp.

Descompressão na margem 
Índice de Preços ao Produtor Amplo - Disponibilidade Interna (IPA-DI) mensal, itens selecionados - variação (%)


Fonte: FGV IBRE.

Braz afirma que a manutenção de um cenário de preços menos pressionado dependerá da concretização das expectativas de alta para a safra agrícola e, fundamentalmente, do comportamento do câmbio. “De fato, o câmbio é o fiel da balança, mesmo para os alimentos que não exportamos”, explica, lembrando que até no caso de hortaliças produzidas apenas para o consumo interno ainda há que se contar o efeito de insumos como o adubo na cultura, que em geral é importado, e o diesel no transporte, cujo reajuste também tende a obedecer a evolução dos preços internacionais. “Caso o câmbio se mantenha o atual patamar de R$ 5,80, é possível pensar em uma inflação de alimentos em torno de 5,5% a 6% este ano”, diz. Ainda alta, mas menos intensa do que em 2024.

Para o agregado da economia, o IPA registrou alta de 0,03%, recuo expressivo em relação à taxa de 1,08% de dezembro. Na comparação entre estágios de processamento, o único que registrou variação em janeiro foi o de bens intermediários, com 1,22% em janeiro, contra 0,92% em dezembro. Excluindo combustíveis e lubrificantes para a produção, a alta é ainda maior: 1,33%, contra 0,7% em dezembro. 

 


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