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Postado por Conjuntura Econômica
Dívidas sobem, renda cai
Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro
Oito em cada dez famílias brasileiras têm dívidas; 22% dos brasileiros estão com mais da metade dos seus rendimentos comprometidos com dívidas. Os dados da pesquisa divulgada recentemente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que o efeito dos saques de FGTS e da liberação antecipada do 13° salário aos aposentados e pensionistas do INSS, que fizeram com que os indicadores de endividamento tivessem encolhido nos meses de abril, maio e junho, se exauriram. Em julho, 78% dos brasileiros tinham dívidas, o maior patamar desde 2010, quando a pesquisa começou a ser realizada.
Os números não chegam a surpreender, já que outros indicadores têm mostrado o aumento da pobreza e da fome no Brasil nos últimos anos.
A fome aumenta: 33 milhões de brasileiros estão passando fome, enquanto mais da metade da população têm algum tipo de insegurança alimentar.
Os efeitos da pandemia, da inflação, da crise mundial e da falta de políticas bem construídas para reduzir a enorme desigualdade no país vão continuar levando a uma piora da situação, infelizmente. A mesma pesquisa da CNC aponta que as dívidas vão continuar crescendo, com 10,7% das famílias afirmando que não terão como pagar as suas contas em atraso. E esse endividamento é geral, atingindo não só as pessoas de renda mais baixa, mas também quem ganha acima de dez salários-mínimos.
Endividamento das famílias
Fonte: CNC.
Com o fim das medidas extraordinárias do saque do FGTS de antecipação do 13° salário aos aposentados e pensionistas do INSS, o Auxílio Brasil, novo nome do Bolsa Família, que passa a ser pago este mês com valor turbinado, é a ficha colocada na mesa. Há, no entanto, críticas ao programa, de que não estaria chegando a quem realmente precisa.
Insegurança alimentar e Auxílio Brasil: falta reconhecer que necessidade é maior nas famílias mais pobres.
A edição deste mês de Conjuntura Econômica, que pode ser acessada gratuitamente, levanta vários pontos desse intrincado problema. Desde que a pandemia chegou, os mecanismos adotados para tentar reduzir a pobreza e a fome no Brasil foram insuficientes. Se por um lado houve maciça transferência de recursos de amparo à população mais vulnerável, economistas alertam que não foi desenhado um modelo de transição durante as fases do auxílio emergencial: a primeira, encerrada em dezembro de 2020 e as demais. O que acarretou um enorme salto no pico de pobreza da ordem de 238,5% – passou de 3,9% em agosto de 2020 para 13,2% em março de 2021. É bom lembrar que a renda mensal dos 10% mais pobres da população já vinha em queda antes da chegada da COVID-19. Com a pandemia, a situação piorou: em 2021, 22,3% da população, estava na linha da pobreza. É a maior parcela desde 2010, quando chegou a 23%.
Embora ainda haja um longo e penoso caminho a percorrer, a melhora nos níveis de emprego – a taxa de desemprego está abaixo de dois dígitos –, pode auxiliar numa melhora desse quadro. Em 2014, 16,8% da população estava na linha da pobreza. Voltar a esse patamar, só com um robusto crescimento econômico que, pelas previsões mais recentes, ainda não está no radar dos economistas. As estimativas são de um segundo semestre de crescimento baixo da atividade econômica. Um sinal disso foi dado pela perda de fôlego nas vendas no varejo que, em junho, recuaram 1,4%, a maior desde dezembro de 2021. Também a fragilidade do mercado de trabalho, com o aumento da informalidade, queda da remuneração e baixa produtividade, como mostra o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, são poderosas travas para que a taxa de desemprego mantenha sua trajetória descendente.
Leia: Mercado de trabalho surpreende, mas problemas estruturais permanecem.
Rendimento médio real do trabalho
Fonte: FGV IBRE.
Taxa de desemprego
Fonte: FGV IBRE.
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Agradeço a Paulo Peruchetti, pesquisador do FGV IBRE, pela contribuição para a elaboração dos gráficos sobre renda e desemprego.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.