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Postado por Conjuntura Econômica
A prova do pudim
Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro
Em seu terceiro mandato, o presidente Lula vem adotando uma política de “pé no acelerador”, ampliando os gastos. Como tem afirmado integrantes do governo, “gasto é vida”, o que tem levado a economia à plena carga, acima de seu potencial de crescimento, com os salários subindo acima da produtividade, como mostram os dados do Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE. Os juros estão aumentando, na contramão do que acontece no mundo, na tentativa de controlar a inflação que, no ano passado, ultrapassou o teto da meta. Como já mencionei outras vezes, a política monetária não está conseguindo reduzir as incertezas, já que a preocupação com o equilíbrio fiscal ainda é vista com grande desconfiança, como os próprios números têm demostrado. Sem uma política fiscal responsável, não há política monetária que consiga segurar a inflação, o risco Brasil, o dólar. Uma das principais preocupações é com a inflação de serviços que, este ano, pode rodar na casa dos 7% a 8%. O que é muito. Algumas projeções já apontam que a inflação deste ano será superior a 6%.
Samuel Pessôa, pesquisador associado do FGV IBRE, em sua coluna Ponto de Vista da edição de janeiro de Conjuntura Econômica, sinaliza que“ há duas dúvidas para 2026. Primeira, como Lula se comportará quando ficar claro a falta de sincronia entre o ciclo monetário e o ciclo eleitoral. A segunda dúvida é em que medida o Banco Central liderado por Gabriel Galípolo será independente(...) Há muita névoa para enxergamos 2026. Teremos que esperar antes que 2025 transcorra. Para o ano que vem, temos mais visibilidade. Será um ano de atividade em desaceleração e inflação em alta. Um cenário de estagflação”.
A eleição de Donald Trump é outro componente de incerteza. A valorização do dólar, que já pode ser vista como um reflexo das promessas de campanha do presidente norte-americano, embora seja irrelevante para economias desenvolvidas, muda de curso para os emergentes. Estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) de meados de 2023 aponta que, em média, valorizações de cerca de 10% do dólar frente às moedas fortes tendem a reduzir o crescimento do PIB dos emergentes em quase 2 pontos percentuais um ano após a apreciação – e esses efeitos persistem por cerca de dois anos e meio, como lembra o pesquisador associado do FGV IBRE Bráulio Borges.
Ao que tudo indica, este ano será o do teste do pudim, como se costuma falar. Acho que será um ano difícil, especialmente na tentativa do controle dos gastos públicos. É bom lembrar que em 2026 teremos eleições e as torneiras vão ficar, se não totalmente, parcialmente abertas para fortalecer alianças, buscar novas coligações. O cenário político é nebuloso, já que não se sabe se Lula terá condições de se candidatar para um novo mandato. Se Bolsonaro continuará inelegível. Como a direita, que começa a ter um rosário de candidatos, vai se cacifar para ter um candidato com força para tentar ganhar a eleição presidencial. Se vai aparecer alguém de centro-direita capaz de se tornar um potencial candidato.
Muita gente acha que é pessimismo em excesso. Afinal, a economia está crescendo a taxas de 3% ao ano. A taxa de desemprego é a menor da série histórica desde que o IBGE começou a calculá-la. Os salários sobem.
O que sempre se pergunta, e nunca há uma resposta satisfatória, é quando o Brasil conseguirá ter um crescimento sustentável. O que parece ainda estar longe de acontecer, dada as deficiências estruturais de nossa economia. Para crescer temos que ter aumento de produtividade, investimentos, fiscal controlado, confiança dos investidores, inflação controlada, juros mais baixos.
José Pastore, um dos principais especialistas em mercado de trabalho do país, em entrevista à Conjuntura Econômica (também fez uma apresentação aos pesquisadores da Economia Aplicada do FGV IBRE em dezembro último), aponta três graves problemas pela frente em um dos segmentos mais sensíveis da economia: o mercado de trabalho.
“O primeiro é a anemia dos investimentos. Para gerar empregos em grande quantidade e de boa qualidade, o Brasil teria de investir cerca de 25% do PIB anos a fio. O segundo é a baixa qualidade da educação e limitada capacidade de qualificação e requalificação para acompanhar a modernização tecnológica de todos os setores da economia. O terceiro, por sua vez, é de ordem institucional. Temos um quadro muito perverso para a geração de empregos formais. O Brasil tributa demais o fator trabalho – com três graves problemas encargos sociais que ultrapassam 100%. Além disso, temos uma legislação trabalhista e um sistema de resolução de conflito muito complexos, que geram uma enorme insegurança aos agentes econômicos. Afinal, boas instituições contam muito para a geração de empregos de boa qualidade e para o próprio crescimento econômico”.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.