Copom: ciclo de juros se aproxima do fim, sem perspectiva de convergência da inflação à meta

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Nesta quarta-feira (7/5), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa de juros básica em 0,5 ponto percentual (pp), para 14,75% ao ano. É o maior patamar em 20 anos. Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, afirma que o comunicado do banco tem mudanças em relação à reunião anterior que sinalizam a proximidade do fim do ciclo de aperto monetário. “Não está fechada a porta para uma elevação adicional dos juros em junho, mas toda a sinalização indica que, se isso ocorrer, o movimento será de magnitude inferior, de 0,25 pp”, afirma.

A principal alteração no texto do BC é a retirada da menção de um cenário de inflação com assimetria altista, com os riscos se apresentando mais balanceados. “A cauda agora é mais gorda”, reforça, explicando que o perfil de risco inflacionário agora é maior tanto para cima quanto para baixo. A projeção de inflação no horizonte relevante de política monetária passou de 3,9% para 3,6%.

Ainda que o choque tarifário promovido pelo governo americano tenda a ser desinflacionário, contribuindo para essa revisão de projeções, Ribeiro defende que o cenário de preços ainda é complexo. No evento Tag Summit, promovido esta semana na capital paulista, ele destacou que a expectativa de queda de preços promovida pelo desvio de produtos chineses que iriam para os EUA a outros mercados pode não se concretizar na magnitude esperada, lembrando que no campo comercial o Brasil é historicamente protecionista.

Na atividade doméstica, Ribeiro aponta que os sinais de desaceleração da atividade ainda são incipientes, e podem se manter assim conforme direcionamento do governo federal, com políticas que mantenham o consumo aquecido. Por outro lado, destaca a dificuldade em entender o cenário de preços administrados em 2025, mesmo incorporando cortes nos preços de combustíveis durante esse ano – como componente importante de preços em várias cadeias, a expectativa é de que este promova uma descompressão. Ainda que a inflação de alimentos tenha ganhado protagonismo neste ano (leia mais), um vetor de preocupação citado pelo economista é a inflação de serviços, cuja composição não enseja arrefecimento no curto prazo. “No quadro que se desenha, tem-se uma Selic que se estabiliza, enquanto a inflação avança para a casa dos 4,5%”, afirmou.

No mesmo evento, Samuel Pessôa, pesquisador associado do FGV IBRE, afirmou que estima um impulso de demanda de 0,5% do PIB este ano e em 2026, inflação de serviços persistentemente alta, graças a uma inércia inflacionária. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV IBRE, ressaltou no Tag Summit que, apesar das medidas de estímulo promovidas pelo governo, a restrição que a inflação impõe ao consumo das famílias é um fator que tende a pesar negativamente na balança política. “Ainda assim, acho que dificilmente teremos inflação baixa em 2026”, afirmou.

Ribeiro considera que o BC ainda a Selic mais uma vez este ano, em 0,25 pp, provavelmente em junho, fechando 2025 em 15% ao ano. “Mantendo este patamar de juros até o final de 2026, enxergamos uma projeção de IPCA de 5,2% no final do ano que vem – sensivelmente acima do cenário oficial, de 3,6%”, afirma. Para o pesquisador, afora um evento exógeno de monta para ajudar o BC, será difícil que a autoridade monetária cumpra sua tarefa de levar a inflação para a meta tão cedo.

Quanto à evolução da política monetária nos EUA, Ribeiro considerou que a manutenção da taxa básica de juros americana na faixa 4,25%-4,50% pelo comitê de política monetária do país (Fomc) foi acertada, reforçando a marca da prudência necessária no atual contexto do país. Ele destacou o aumento da percepção de (desemprego mais elevado e inflação mais elevada), “e a sinalização de que a economia está em posição sólida, a despeito dos ruídos recentes”, diz, referindo-se ao resultado negativo do PIB no primeiro trimestre e ao aumento da incerteza,  levando à conclusão de que ainda não há sinais no horizonte de um ajuste na taxa básica americana.

 


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