Um balanço das decisões de política monetária desta superquarta

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Tal como destacou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV IBRE  no I Seminário de Análise Conjuntural do ano (leia mais), com o ciclo de aumento de juros já no topo, o instrumento que agora os bancos centrais lançam mão para domar as expectativas são as sinalizações referentes ao ritmo em que se dará o corte da taxa básica, ou forward guidance. E foi para ele que o mercado olhou nesta superquarta, nas decisões de política monetária anunciadas nos Estados Unidos e aqui no Brasil.

Nos Estados Unidos, mais do que na já esperada decisão de manter a taxa referencial no patamar de 5,25% a 5,5% ao ano, a atenção estava voltada para a posição do FOMC, comitê de política monetária do Federal Reserve, quanto ao número de cortes nas futuras reuniões deste ano. Diante de uma sequência de dados negativos para a convergência da inflação à meta – leia-se atividade econômica forte, mercado de trabalho resiliente e o núcleo do CPI, o IPCA americano, subindo mais do que o esperado em fevereiro – era necessária uma posição mais hawkish, ou menos pré-flexibilização do que se viu, avalia Livio Ribeiro, pesquisador do FGV IBRE. “Essa posição hawkish poderia se traduzir tanto em juros terminais mais elevados para o biênio 2024-2025 como em um ‘atraso’ no início dos cortes, ainda mantendo o orçamento original sinalizado em dezembro/23, de 75bps de cortes de juros em 2024”, afirmou, em comunicado do BRCG, do qual é diretor. Sem uma posição mais dura do FOMC, afirma, é de se esperar um aumento de volatilidade.

Em março, o FOMC manteve o orçamento para cortes da reunião anterior, de três movimentos de 25bps, o que aponta a essa abordagem dovish na condução da política monetária, avalia Ribeiro. “Houve, no entanto, elevação dos juros terminais até o fim do horizonte projetado e, mais importante, uma oscilação, a maior, dos juros de longo prazo. Certamente o debate de curto prazo dominará a atenção do mercado, dando gás a apostas de cortes de juros em prazo relativamente curto” diz.

Ribeiro também aponta uma mudanças nas perspectivas dos membros do comitê para PIB, com aumento, pouca mudança nas estumativas de mercado de trabalho, e uma elevação da projeção do core PCE – que mede a inflação de  bens e serviços ao consumidor final, excluindo alimentos e energia – para 2024. “Ainda assim, o tom líquido das projeções condicionais foi, em nossa visão, excessivamente benigno”, diz, indicando uma maior aceitação a riscos na convergência inflacionária. O pesquisador do IBRE estima que o início do corte de juros nos EUA comece em junho, e reitera sua avaliação de que o método escolhido pelo comitê é perigoso, pode do “levar ao fechamento das curvas de juros no curtíssimo prazo, à hipersensibilidade aos dados correntes e ao aumento da volatilidade”.

No caso do Brasil, onde o Banco Central reduziu a taxa Selic em 50bps, para 10,75%a.a, o destaque foi a modificação do forward guidance de cortes de juros, que nos últimos meses era de para duas reuniões consecutivas, passando para uma, deixando claro o cenário mais incerto adiante. Ribeiro identifica três ajustes no comunicado do BC que apontam a uma direção hawkish: 1- a inflação subjacente voltou a ser definida como ‘acima da meta’ mesmo que, em média, tenha se reduzido no acumulado dos últimos 12 meses; 2- definiu-se que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, mesmo com manutenção do balanço de riscos; 3- e a própria mudança do forward guidance de ritmo de cortes de juros, que passa a ser válido só para a próxima reunião (início de maio).

“É importante ter clareza de que a mudança no forward guidance não significa que há somente mais um corte de juros contratado pelo Comitê. De forma alternativa, também não significa que o ritmo de cortes será necessariamente reduzido (para 25bps ou para zero) a partir da reunião do COPOM de junho (daqui a duas reuniões)”, ressalta Ribeiro, apontando que o objetivo dos membros do Comitê é ganhar mais liberdade para avaliar os seus movimentos. “Seguimos esperando que os cortes de juros ocorram até a reunião de setembro, atingindo uma taxa terminal de 9% ano em 2024” diz, projeta do ainda que esse patamar deve ser mantido até o final de 2025.

 


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