Síntese das Sondagens de setembro: revisão para baixo das expectativas entre empresas; consumidores mais resilientes

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Síntese das Sondagens do FGV IBRE do mês de setembro mostra um panorama mais negativo para as empresas, ainda que heterogêneo entre os setores. Os consumidores mantêm a confiança em alta, ainda que em menor ritmo, mas em nível mais próximo do neutro: 97 pontos, enquanto o Índice de Confiança Empresarial fechou em 94,1 pontos.  As variações de ambos os índices em setembro foram abaixo de 1 ponto, com a empresarial caindo 0,7 ponto e a do consumidor em alta de 0,2 ponto. Para os pesquisadores do IBRE, são sinais de certa estabilização, com as empresas acomodando sua confiança em um patamar mais negativo.

Ainda observando o setor produtivo – indústria, comércio e serviços – no agregado, observa-se que a maior revisão para baixo vem do campo das expectativas. Enquanto a avaliação sobre a situação atual dos negócios subiu 0,9 ponto (para 94,5 pontos), as expectativas foram revisadas para baixo mais fortemente, com queda de -2,1 pontos. Essa revisão para baixo se deu nos dois horizontes avaliados, de três e de seis meses à frente, mas é mais preocupante na ponta mais longa. O indicador de situação de negócios, que aponta ao horizonte mais longo, é o que apresenta o nível mais baixo – de 90 pontos, contra 94,7 pontos do indicador “evolução da demanda”, referente a três meses à frente, e “ímpeto de contratar”, também mirando os três meses. Os economistas das Sondagens apontam que o pior resultado no horizonte mais longo é preocupante por se tratar de uma variável que costuma antecipar decisões de investimentos, fundamentais para determinar a dinâmica futura dos negócios.

Confiança: Consumidores mais otimistas


Fonte: FGV IBRE.

Quando aberta por setores, os resultados indicam que as atividades que mais despertam maior cuidado são comércio – que depois de uma alta em agosto voltou a registrar sinal negativo em setembro – e a indústria, que tem registado quedas consecutivas de confiança desde maio. Acúmulo de estoques e uma natureza de reação mais lenta a novos estímulos de demanda são apontados por economistas como fatores que contribuem para esse resultado.

Na construção, como já divulgado no Blog (leia mais aqui) a confiança segue em alta, com destaque em setembro par ao setor de infraestrutura. O setor de edificações, entretanto, registrou queda de otimismo justificada não pela demanda, como apontou Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV IBRE, mas pelas preocupações quanto ao ambiente de negócios, onde se encaixam as condições financeiras e a preocupação com a oferta de mão de obra qualificada.

Nas empresas, piora ambiente de negócios no horizonte de seis meses


Fonte: FGV IBRE.

No caso dos serviços, a maior evolução registrada em setembro foi no campo da situação atual (alta de 0,6 ponto), com recuo de 1,6 ponto nas expectativas.  Sobre o setor, os economistas das Sondagens ressaltam especialmente a perda de fôlego de setores como informação e comunicação, profissionais, transportes e de serviços prestados às famílias, que vinham puxando a alta da confiança no primeiro semestre, mas têm registrado desaceleração nos últimos meses. “O balanço do setor ainda é positivo, mas a piora recente das expectativas exige cautela”, alertam.  Transportes, outro segmento de destaque no primeiro semestre, foi o que apresentou a variação da confiança mais acentuada – de 98,8 pontos em julho para 91,7 pontos em setembro – mas nesse caso a dinâmica da agropecuária pode ter exercido particular influência.

Evolução Situação Atual e Expectativas
Situação atual

 

Expectativas


Fonte: FGV IBRE.

No caso dos consumidores, o registro de três resultados consecutivos acima da confiança empresarial não é o mais comum. Observando-se o histórico de ambos os índices a partir de 2005, verifica-se que a confiança dos consumidores prevaleceu sobre a das empresas apenas no período de 2012 a 2014, além de registrar um semestre de liderança entre os anos 2008/09.  O atual resultado, apontam os economistas do IBRE, é beneficiado pelo bom momento do mercado de trabalho e pela queda da inflação – apesar de ainda ser um momento “desafiador para os orçamentos domésticos”, apontam, “com juros, nível de endividamento e inadimplência elevado”. Destaca-se uma redução da distância entre consumidores de baixa e alta renda – graças a um aumento do otimismo da baixa renda e revisão para baixo entre as famílias de alta renda.  A Síntese das Sondagens também destaca um descompasso entre o ímpeto de contratações – que caiu na indústria e comércio e avançou em construção e serviços – em relação às expectativas dos consumidores quanto ao mercado de trabalho. Na avaliação feita a partir da proporção de empresas/consumidores prevendo aumento do quadro de pessoal – ou, no caso dos consumidores, maior facilidade de conseguir emprego –, restando a proporção dos que preveem diminuição do quadro de pessoal, ou maior dificuldade de se conseguir emprego nos meses seguintes, o resultado é amplamente mais favorável no campo das expectativas dos consumidores.

Ímpeto de contratações e expectativas  com o mercado de trabalho de consumidores*
perspectivas melhores apenas em construção e serviços


*Proporção de empresas/consumidores prevendo aumento do quadro de pessoal/maior facilidade de se conseguir emprego menos a proporção dos que preveem diminuição do quadro de pessoal/maior dificuldade de se conseguir emprego nos meses seguintes. Fonte: FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir