Síntese das sondagens: consumidor mais confiante com o futuro do que empresários

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A síntese das Sondagens do FGV IBRE de fevereiro indica que o consumidor brasileiro ainda se mantém mais otimista quanto ao futuro do que a média dos empresários. Seja no comparado com cada setor da atividade econômica, seja no agregado, os consumidores levam a dianteira em otimismo quanto à percepção de sua situação nos próximos meses, com 95,6 pontos, seguidos de perto pelo setor da construção, com 95,6 pontos. Ambos os resultados estão abaixo do nível de neutralidade, de 100 pontos, mas ainda se mantêm numa faixa menos preocupante que, por exemplo, o comércio, que em fevereiro estava 10 pontos atrás com 85,7.

Quando se trata da percepção sobre a situação atual, entretanto, a situação se inverte e os consumidores vão para o fim da fila, com preocupantes de 69,3 pontos, menor resultado desde maio de 2022. Ainda que a distância entre o índice de expectativas e o de situação atual dos consumidores já tenha ficado maior – em dezembro, alcançou 29,4 pontos, contra os atuais 26,5 pontos –, esse encurtamento se deu com uma piora em ambos os indicadores.

Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das Sondagens, afirma que o Índice de Expectativas dos Consumidores caiu 1 ponto em relação a janeiro, resultado no qual se destaca a uma piora da intenção e compras e das perspectivas para a economia. Ela ressalta que o contexto de alto endividamento e taxas de juros elevadas devem se refletir em um consumidor mais cauteloso durante todo o ano, o que significa um índice de confiança em patamares baixos. Outro destaque no mês de fevereiro foi a queda de 2,7 pontos, da confiança entre as famílias de mais baixa renda (até R$ 2,1 mil mensais), que até janeiro ainda sustentava uma trajetória de alta no indicador. Com essa revisão, esse grupo registra o segundo pior índice de confiança, perdendo apenas para o grupo de famílias com renda de R$ 2,1 mil a R$ 4,8 mil.

Índice de expectativas em fevereiro, com ajuste sazonal


*Agregação dos respectivos índices dos setores  de Serviços, Indústria, Construção e Comércio, por pesos econômicos. Fonte: FGV IBRE. 

 

Índice de situação atual em fevereiro, com ajuste sazonal


*Agregação dos respectivos índices dos setores  de Serviços, Indústria, Construção e Comércio, por pesos econômicos. Fonte: FGV IBRE. 

Quando observada por faixa de renda, aliás, a confiança do consumidor também demonstra diferenças importantes na evolução, com uma distância de 5,3 pontos na média entre as faixas de renda mais baixas comparativamente às faixas mais altas. “Ambos os indicadores, entretanto, estão abaixo dos 90 pontos refletindo desânimo dos consumidores”, pontuam os pesquisadores das Sondagens.

Entre os empresários, a tendência é de acomodação da confiança em níveis baixos, conforme adiantou o economista do FGV IBRE Rodolpho Tobler na semana passada, ao comentar os resultados do mês para os setores de comércio e serviços. No agregado, o Índice de Confiança Empresarial subiu 0,6 ponto no mês, depois de registrar quatro quedas consecutivas. O resultado é reflexo de uma percepção menos pessimista para o futuro, com uma recuperação de 1,9 ponto em relação a janeiro (para 87,9 pontos), enquanto a percepção relativa à situação atual continua negativa, com perda de 1 ponto, para 89,9 pontos. 

Confiança do consumidor: percepção da situação atual e expectativas se mantêm distantes


Fonte: FGV IBRE.

Essa tendência de decantação da percepção sobre a situação do país também está refletida no Indicador de Incerteza do Brasil (IIE-Br), do FGV IBRE, que em fevereiro retornou à média de 115 pontos observada desde a recessão econômica a partir do segundo trimestre de 2014 a 2016, conforme datação do Codace. Um nível bem abaixo do pico registrado na pandemia, de 210,5 pontos em abril de 2020, bem como da média registrada no biênio 2020-21, de 143,6 pontos, mas ainda em níveis altos quando comparados à média observada do início de 2000 a fevereiro de 2015, de 98,5 pontos.

 


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