Projeção do FGV IBRE para o PIB de 2023 sobe, para alta de 0,8%. No primeiro tri, destaca-se o reflexo do agro em comércio e serviços

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A projeção do FGV IBRE para o PIB brasileiro em 2023 foi revisada, para crescimento de 0,8%. O Boletim Macro de maio indica que o aumento de 0,5 ponto percentual na atividade para este ano em relação à projeção divulgada nos meses anteriores se dá diante de surpresas positivas quanto aos números do primeiro trimestre - para o qual o IBRE prevê uma expansão de 1,2%. Essa revisão, entretanto, se mantém apoiada no desempenho da atividade agropecuária, tal como os pesquisadores vêm reiterando nos boletins. Especialmente no primeiro trimestre do ano, quando o agro deverá registrar expansão de 12,9% em relação ao mesmo período do ano passado, e de 8% no ano cheio. Sem o impulso do agro, a estimativa do IBRE é que o crescimento do PIB brasileiro tanto no primeiro trimestre quanto no ano completo seria de 0,3%.

Projeções crescimento PIB 2023 com e sem o agro, em %


Fonte: FGV IBRE.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, destaca que a dinâmica do agronegócio neste início de ano tem estreita relação com alguns bons resultados observados em comércio e serviços, nos segmentos voltados à atividade de transporte. “Se olharmos o setor de serviços, quase 50% da contribuição para o crescimento registrado no primeiro trimestre em relação ao primeiro tri de 2022 veio do transporte terrestre”, aponta.

De acordo com a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, somente em março o segmento de transporte rodoviário de cargas registrou alta de 15% em relação a março de 2022, contra uma variação de 6,3% no total do volume de serviços na mesma comparação. Os serviços prestados às famílias, por sua vez, cresceu 3,7%, sinalizando desaceleração quando comparado a fevereiro, de -1,7%.

No caso do comércio varejista ampliado medido pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC - IBGE), o destaque de março é o desempenho do segmento de combustíveis e lubrificantes, que respondeu por 1,4 ponto percentual da alta de 3,2% registrada pelo setor em relação ao mesmo período do ano anterior. “Para uma atividade com participação de apenas 7% no PIB do varejo ampliado, é uma contribuição importante”, ressalta Silvia. A ajuda dos combustíveis só perdeu para a do segmento de supermercado, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que conseguiu se recuperar beneficiado pelo arrefecimento da inflação de itens como alimentos no domicílio, eletrodomésticos e automóveis em relação à inflação de março de 2022 - o que também ajudou na retomada da venda de alguns bens duráveis, incluindo automóveis. Esse grupo do qual fazem parte os supermercados registrou alta de 4,5% no mês, e devido ao maior peso no total do PIB do setor, contribuiu com 2,5 ponto percentual do resultado. Somada ao grupo dos combustíveis e lubrificantes, essas duas rubricas já ultrapassariam o resultado agregado do setor em março, que ainda teve que descontar o  desempenho negativo de outras atividades - entre elas, a de tecidos, vestuário e calçados, que retraíram 7,3% em março, restando 0,4 ponto percentual do PIB do varejo ampliado em março.    

Índices de Confiança Empresarial e dos Consumidores
(Com ajuste sazonal, em pontos – Dados prévios de maio)


Fonte: FGV IBRE.

Silvia lembra que a atividade agropecuária é menos sensível às condições financeiras e de crédito. “Isso colabora para que a economia funcione em dois ritmos: alguns setores em velocidade de cruzeiro, e outros mais lentos, sujeitos aos efeitos da política monetária”, compara. Com o menor destaque da atividade agropecuária nos próximos meses, entretanto, essa ajuda sai de cena, e os resultados tendem a piorar.  A projeção do IBRE para o PIB do segundo trimestre é de retração de 0,4%. “Quando o agro começa a sair de cena, voltamos aos nossos desafios. A prévia das Sondagens divulgadas no Boletim reforçam essa tendência”, diz Silvia. Os dados levantados pelos economistas do setor das Sondagens até o dia 12 de maio mostram um recuo de 0,7 ponto da confiança empresarial, para 90,4 pontos. Em contrapartida, a Sondagem do Consumidor indica uma melhora da confiança das famílias, especialmente das expectativas quanto aos próximos meses. Na prévia, a confiança do consumidor sobe 1,2 ponto, levando o índice aos 88 pontos - ainda, entretanto, mais distante do nível neutro de 100 pontos, quando comparado ao empresarial.

Pelo lado da demanda, Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE, apontou no Boletim Macro que em abril o agronegócio continuou sendo destaque nas exportações. Somente nesse mês, o setor foi responsável por 52% da variação positiva dos envios brasileiros ao exterior, graças a um aumento de volume (20,1% em relação a abril de 2022) que mitigou o impacto do recuo dos preços (-8,2%).  O saldo da balança comercial acumulado até abril foi US$ 3,5 bilhões superior ao do mesmo período de 2022. Nesses agregados dos quatro primeiros meses do ano, o agro foi o único a registrar variação positiva tanto em preço, volume e valor. Lia ressalta que, mesmo com preços estáveis, as expectativas para as exportações brasileiras continuam favoráveis, ajudadas pela retomada das compras chinesas de carne e pela safra favorável de grãos, se contrapondo aos problemas na produção argentina, devido à seca e questões cambiais.

Exportações agropecuárias: únicas com variação positiva em valor, volume e preços
variação % jan-abr de 2023 em relação a jan-abr de 2022


Fonte: FGV IBRE. Base Icomex. Fonte: S|ecex.

A projeção do IBRE para o PIB das exportações em 2023 é de crescimento de 5%, para um aumento de 1,6% das importações. Ainda do lado da demanda, o consumo das famílias também registrou melhora em relação às projeções de abril, saindo de uma contração de 0,6% para alta de 0,5% devido ao aumento das projeções para a massa ampliada de rendimentos. E o investimento deve fechar o ano em alta de 0,7%, apesar de um início de ano ruim, com queda de 3% no primeiro trimestre contra o trimestre anterior, devido a uma queda na compra de máquinas e equipamentos. 

Silvia reforça o diagnóstico de que não há solução fácil para problemas difíceis, e que o bom começo de ano não reduz os desafios que o país tem adiante para colocar a economia nos eixos. “O melhor dos mundos é que as expectativas estivessem ancoradas, que não observássemos impulsos fiscais em busca de impulsionar a economia, pois assim poderíamos colher uma inflação mais baixa. Se por um lado isso mantém o mercado de trabalho mais apertado por mais tempo, por outro a política monetária perde consistência, dificultando o trabalho de combater a inflação e regularizar o terreno para um crescimento saudável”, diz.

Também são destaques do Boletim Macro do FGV IBRE de maio:

• Inflação: a persistência inflacionária dos serviços livres e os impactos da redução do preços dos combustíveis;

• Política monetária: José Júlio Senna trata da importância de se preservar o regime de metas de inflação e o atual intervalo de tolerância.

• Política fiscal: Manoel Pires analisa o texto do relator para o novo arcabouço fiscal e indica que o principal norte para o debate é não olhar a nova regra sob a luz do sistema antigo que não foi bem-sucedido em promover a ancoragem da dívida - mas buscando modernizá-la seguindo as melhores práticas internacionais.

• Internacional: Samuel Pessôa analisa o processo inflacionário americano e as chances de o país contêlo sem muita dor.

• Em Foco: O destaque de maio é a análise da evolução da produtividade do trabalho no Brasil desde 1995, produzida pela equipe do Observatório da Produtividade Regis Bonelli.

Leia a íntegra do Boletim Macro FGV IBRE de maio.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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