Primeiro semestre marca queda das vendas para a China e substituição de destinos do petróleo exportado

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

As exportações brasileiras no primeiro semestre do ano foram marcadas por um aumento marginal em volume, de 0,2% em relação ao primeiro semestre de 2021, salvas por uma evolução de 20,2% nos preços na mesma comparação. Pelo lado das importações, houve queda de 1,9% no volume comprado do exterior, e evolução de 33,1% nos preços. Com esse resultado, o país manteve a balança comercial superavitária em R$ 34,3 bilhões, R$ 2,7 bi abaixo do observado na primeira metade de 2021.

Variação % no volume das exportações e importações por mercados 
jan/jun 2022/21


Fonte: Secex/ Ministério da Economia. Elaborado por FGV IBRE, base Icomex.

O país sentiu a desaceleração da economia chinesa, com uma redução de 14% no volume exportado para seu principal comprador, como apontou o Icomex de julho. Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE, ressalta que dos três principais produtos comprados pelos chineses - minério, soja e petróleo -, o único que registrou variação positiva foi a soja, de 18,79% em relação ao primeiro semestre de 2021, totalizando R$ 20,26 bilhões, 66% dos embarques brasileiros do produto. Em petróleo e minério de ferro, as quedas foram de respectivamente 1,26% e 32,9%. Em contrapartida, as exportações de carne ao país se recuperaram, com alta de 86,6%, somando R$ 3,67 bilhões. Lia ressalta que as projeções para o comércio com o país na segunda metade do ano são incertas, especialmente devido à evolução da pandemia na China, que mantém a aplicação de medidas duras de isolamento diante da identificação dae novos focos de contágio. "Talvez os planos de investimento anunciados pelo governo possam se refletir na demanda por minério ainda este ano, mas não é certo. Sem novos eventos importantes relacionados à pandemia, a tendência é de que a queda nas vendas para o país não seja tão expressiva quando a observada no primeiro seemstre", diz.

Lia ressalta que, no caso do petróleo, observou-se que a demanda perdida na China foi desviada a outros países, com um incremento expressivo nas vendas a destinos como Estados Unidos (121%), Espanha (205%) e Holanda (80%), no caso de petróleo bruto, que pode estar relacionado a um movimento de substituição de importações da Rússia, como retaliação à guerra na Ucrânia.

Petróleo cresce em participação nas exportações brasileiras


Fonte: Secex / Ministério da Economia.

Na comparação do desempenho das exportações por tipo de indústria produzida pelo Icomex, observa-se que a compensação observada pelo setor agropecuário – as vendas no semestre caíram 5,3% em volume, mas cresceram 39,9% em preço – não foi tão contundente no  setor extrativo, onde o aumento registrado em preço (5,5%) foi menor do que a queda em volume (-10,8%). Apenas a indústria de transformação marcou sinal positiva em ambas as frentes - respectivamente, 21% e 8,1% – reforçando a análise de pesquisadores do IBRE de que o setor externo tem sido uma frente importante para a manutenção da confiança do setor industrial em alta, como observado nas Sondagens do FGV IBRE. Entre os principais produtos exportados estão óleo combustível, carne bovina, farelo de soja, carne de aves, celulose, e açúcares, confirmando concentração nas atividades relacionadas ao setor de commodities. As vendas do setor automotivo também se mantiveram aquecidas em boa parte pela demanda da Argentina. As exportações totais do Brasil ao país cresceram 12,4% no semestre em relação ao mesmo período de 2021; tomando apenas produtos do setor automotivo, essa expansão foi de 20,4%. "A desvalorização da moeda argentina privilegiou produtos brasileiros no período, mas com o agravamento da crise econômica no país e a imposição de restrições a importações é provável que esse ritmo desacelere", afirma Lia, ponderando, entretanto, que a parte do comércio que é realizada entre companhias deve sentir menos esse impacto.

Variação (%) no volume e nos preços das exportações por tipo de indústria
jan/jun 22/21


Fonte: Secex/ Ministério da Economia. Elaborado por FGV IBRE, base Icomex.

 


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