Primeiro semestre fecha com famílias gastando 4,5% mais no supermercado para levar 9% menos, aponta Horus e FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Mesmo com a cesta de consumo das famílias brasileiras ter registrado queda em junho, depois de oito meses de alta consecutiva, os brasileiros fecharam o semestre gastando mais e comprando menos nos supermercados. Levantamento feito pela consultoria Horus em parceria com o FGV IBRE mostra que, comparativamente a janeiro, em junho as famílias gastaram 4,5% mais para levar 9% menos de produtos. “No início do ano, o tíquete médio era de R$ 77, para a compra de 12,5 itens. Em junho, foi de R$ 81, para levar 11,4 produtos”, compara Luiza Zacharias, diretora de Novos Negócios da Horus, em webinar realizado nesta quarta-feita (6/7).

Na comparação com o primeiro semestre de 2021, os produtos que apresentaram redução mais significativa de janeiro a junho de 2022 foram bebidas alcoólicas, puxadas pelas cervejas, e produtos de hortifruti. “No caso da cerveja, existe a possibilidade de que as pessoas estejam consumindo mais fora do lar, com a redução das restrições ao convívio social para redução de contágio por Covid-19”, diz Luiza. Já no caso de frutas, hortaliças e legumes, o fator alta de preços pode ter influenciado mais. “Se compararmos ao primeiro semestre de 2020, naquele momento os legumes faziam parte de 39% das compras, agora, esse percentual caiu para 21%”, ilustra.

Túlio Barbosa, superintendente de Infraestrutura e Mercados Globais do FGV IBRE, ressalta que legumes e hortaliças registraram alta de 48,61% no acumulado do ano até junho, e as frutas, 24,53%. “Essa pressão de preços não afeta somente as famílias, como também a administração pública, cujo orçamento para alimentação em hospitais e escolas também vai perdendo poder de compra”, destaca, lembrando que no caso das escolas públicas muitas famílias incentivam a presença de seus filhos também para garantir que ela tenha uma refeição completa ao dia.

Para o mês de junho, o levantamento aponta queda do valor médio da cesta básica em seis das oito capitais brasileiras pesquisadas, com uma queda máxima de 8%. Na semana passada, ao comentar os resultados do IGP-M de junho ao Blog, André Braz, coordenador do Índice de Preços do FGV IBRE, havia indicado importantes quedas no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), sendo as principais de 33,36% para a cenoura em relação a maio, 10,84% para o tomate e -8,3% para a batata inglesa. Essas quedas, apontou, devolvem parte da alta acumulada no verão, período em que o clima não colabora para essas culturas. Em contrapartida, o IPC registrou alta para o leite de 6,13% na apresentação longa vida e de 4,4% na versão in natura, pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA). “É um aumento que afeta toda a cadeia de derivados, como manteiga, queijos e requeijão”, lembra Luiza. 

A especialista da Horus ressalta que tamanha pressão de preços tem se refletido em uma mudança importante no comportamento do consumo das famílias. como a substituição gradual do consumo de proteínas - da carne para o frango, logo para ovos, por exemplo. “Outro destaque é o aumento de consumo de biscoitos, snacks e refrigerantes”, diz apontando que essa escolha tanto pode estar relacionada com um comportamento indulgente do consumidor - de buscar uma fonte de satisfação diante de tantos cortes na compra de supermercado - como com o uso desses produtos como moderadores de fome para as crianças. “Apesar de não ter valor nutricional, no momento de sufoco orçamentário é uma forma de saciar a fome”, indica. Túlio ressalta que mesmo essa escolha menos saudável tem custado mais para as famílias. “No acumulado até maio, biscoitos registram alta de 123,33%, para o qual influencia o preço internacional do trigo, mas possivelmente o aumento da demanda”, diz. O que tende a levar as famílias a buscar pelos produtos mais baratos dentro da grande diversidade ofertada nessa categoria. “Esse aumento acumulado em cinco meses já é mais que o dobro registrado no ano de 2020 inteiro, e já alcança 80% do registrado em 2021” diz.

Bruna Fallani, diretora de Experiência do Consumidor da Horus, ressalta que no segundo semestre eventos como eleições e Copa do Mundo serão variáveis adicionais que tenderão a influenciar o comportamento de compra das famílias. Essas ocasiões reforçam a importância de um bom planejamento do varejista, para garantir a atenção do consumidor e, claro, suas vendas. “Hoje o varejista já vive uma situação difícil com o desafio de decidir por repasses de preços, diante de um consumidor que já está com o bolso muito apertado”, diz Luiza. “Nessa hora, é preciso converter dados em informação para descolbrir a melhor forma de atrair o consumidor para dentro da loja. E isso não passa só por ter preços competitivos, mas pela atenção sobre o sortimento, se está adequado ao desejo e ao bolso desses consumidores, e por avaliar tendências de mercado. Vivemos um momento difícil, em que não é possível apoiar uma decisão de negócio simplesmente na intuição”, conclui.

 


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