Pela primeira vez desde o início da pandemia, Índice de Confiança do Consumidor supera os 90 pontos

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE registrou alta de 4,1 pontos em junho e, pela primeira vez desde o início da pandemia, superou a casa dos 90 pontos. O resultado, de 92,3 pontos, é o maior nível desde fevereiro de 2019, quando o índice estava em 94,5 pontos. Anna Carolina Gouveia, responsável pela análise do ICC, indica que entre os diversos itens analisados nesta Sondagem o que mais influenciou a melhora da confiança do consumidor foi o aumento da intenção de compras de bens duráveis. “Esse indicador registrou alta de 11,7 pontos, totalizando 91,6 pontos”, diz, destacando que desde outubro de 2014, no início da recessão de 2014-16, esse quesito não alcançava o nível dos 90 pontos.

A economista recorda a lista de notícias positivas que podem ter influenciado para esse resultado. A começar pela inflação, cuja desaceleração recente age a favor do poder de compra dos salários, assim como alimenta a expectativa em torno da queda da taxa básica de juros da economia, a Selic.  Além disso, medidas anunciadas pelo governo – do Desenrola, programa de renegociação de dívidas que a partir de julho poderá ajudar a limpar até 30 milhões de CPFs negativados, ao pacote de barateamento do carro popular –  também colaboraram para melhorar as expectativas quanto à retomada desse consumo. “Pessoas endividadas, ou mais impactadas pela inflação alta, acabam concentrando seu consumo em bens essenciais. Com um alívio na pressão de preços e a perspectiva de saldar dívidas, mesmo o consumidor de renda mais baixa passa a se programar para comprar um eletrodoméstico ou outro bem de sua necessidade” diz Anna.

Índice de Confiança do Consumidor – evolução, em pontos


Fonte: FGV IBRE.

Apesar dessa melhora significativa, a economista do FGV IBRE ressalta que ainda não é possível garantir que seja um movimento sustentado, lembrando que a situação financeira das famílias ainda é delicada. Para a formação do Índice de Expectativas (IE), além da intenção de compra de bens duráveis, também são medidas a percepção dos consumidores sobre a situação econômica do país e a sua situação financeira futura. “Enquanto o indicador da situação econômica subiu 2,3 pontos, o que avalia a situação financeira caiu 4”, afirma Anna. Não chega a ser um resultado preocupante, levando em conta a alta volatilidade do indicador, bem como os aumentos observados nos dois meses anteriores, maio e abril, totalizando 8,7 pontos. “É como um sinal amarelo, indicando que os consumidores passaram a ter mais cautela”, afirma.

Esse quadro fica mais claro quando se olha o resultado do Índice de Situação Atual (ISA). Apesar de ter registrado uma alta significativa em junho, de 4,4 pontos, ainda permanece bem distante do nível neutro de 100 pontos, marcando 75,7 pontos no mês. “Quando abrimos os dois quesitos que compõem o ISA – economia atual e situação financeira atual – observamos que a avaliação dos consumidores sobre sua situação financeira presente é ainda mais insatisfatória, com 66,5 pontos”, diz Anna. “Ainda é uma situação muito complexa para esse consumidor, que ainda tem de lidar com inflação alta, uma volta ao mercado de trabalho muitas vezes com uma renda baixa, insuficiente para se manter e cobrir as dívidas contraídas ao longo da pandemia”, afirma, destacando que desde a recessão 2014/16 o ISA tem permanecido abaixo dos 80 pontos.

Índice de Confiança do Consumidor, por faixa de renda 
variação (em pontos) e resultado em junho


Fonte: FGV IBRE.

No Boletim Macro FGV IBRE de junho, Anna já havia destacado o alto nível de consumidores que declaram estar endividados ou utilizando recursos de poupança para quitar despesas correntes. “Em junho, esse indicador de estresse financeiro recuou, com uma melhora especialmente nos níveis de renda até R$ 4,8 mil”, afirma, reiterando que ainda é cedo para configurar esse movimento como sustentado. Tal como destacou Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, quando o Desenrola foi anunciado (leia aqui), sem a ancoragem da inflação e um equilíbrio macro que permita a essas famílias uma melhor perspectiva de renda, o alívio que programas como o Desenrola pode gerar será de curto prazo, com essas pessoas podendo voltar à situação de inadimplência em um curto espaço de tempo, tornando a medida pouco eficaz. Cabe destacar, entretanto, que a melhora gradual observada no ICC tem colaborado para eliminar a boca de jacaré aberta na pandemia entre a confiança do consumidor e a empresarial, com ambas as linhas se encontrando novamente, tal como os economistas da área de Sondagens do FV IBRE destacaram no Boletim de junho.

Indicador de Estresse Financeiro, por nível de renda


Fonte: FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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