Observada a partir da experiência da Embrapii, a inovação industrial brasileira já se alinha à economia verde

Fabio Stallivieri, diretor de Planejamento da Embrapii

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O interesse do governo em estimular a atividade industrial brasileira soa como música nos ouvidos da equipe da Embrapii. Essa organização social criada em 2014 -  reconhecida como referência por seu sistema de apoio à pesquisa industrial - espera que com esse impulso seu trabalho aumente, colaborando para uma dinâmica virtuosa na busca por produtos e processos produtivos inovadores entre as empresas instaladas no país. Em geral, a Embrapii arca com cerca de ⅓ do valor dos projetos aprovados, sendo o restante financiado entre a empresa e uma contrapartida não-financeira da unidade de pesquisa que executará o projeto - e que precisa ser previamente credenciada pela Embrapii, comprovando sua capacidade em atender demandas industriais por soluções tecnológicas. Em seus 9 anos de existência, a organização apoiou projetos de 1.260 empresas, totalizando R$ 2,6 bilhões em investimento em inovação industrial, e soma 96 unidades credenciadas, entre universidades federais e estaduais, institutos públicos e privados sem fins lucrativos, e unidades do Senai.

Em conversa para o Blog da Conjuntura Econômica, Fabio Stallivieri, diretor de Planejamento da Embrapii, conta que a maior parte da demanda observada pela organização já é aderente às linhas prioritárias apontadas pelo ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin, especialmente as relativas à busca por uma economia social e ambientalmente sustentável. “No ano passado, realizamos um levantamento dos projetos em carteira, e identificamos que mais de 60% se enquadram em algum dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU”, afirma. A conjuntura mundial também tem alimentado o ímpeto inovador das empresas, diz. “Por exemplo, em 2022, com o início da guerra na Ucrânia, tivemos 18 projetos para desenvolvimento de biofertilizantes - que não usam resíduos tóxicos em sua composição, aos quais aportamos R$ 22 milhões, aumento de 22% em relação a 2019”, ilustra Stallivieri. 

Em geral, a busca por uma linha de pesquisa parte das empresas, mas a Embrapii também pode estimular algumas demandas. No caso dos biofertilizantes, por exemplo, em março do ano passado a organização ampliou para 50% sua participação com recursos não-reembolsáveis para novos projetos, incentivando pesquisas de bioinsumos, orgânicos e organominerais; recuperação de nutrientes, fontes alternativas e rotas de processamento, alinhadas com as diretrizes do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF 2022-2050) e com a necessidade de, em um horizonte mais longo, reduzir a dependência de importações de fertilizantes - dos quais a Rússia é o principal exportador -, e ampliar a  oferta de produtos de menor impacto ambiental.

Outra área que antes mesmo da pandemia tinha sido tratada como prioritária pela Embrapii é a de saúde, no estímulo a projetos que envolvam de equipamentos aos segmentos de fármacos e biofármacos e ensaios pré-clínicos. Em 2020, em meio à crise sanitária, somente no primeiro semestre a Embrapii já tinha superado a expectativa de projetos para todo o ano, sendo a maioria voltada especificamente para a Covid-19, como adaptações em linhas de produção para fabricação de máscaras, materiais para fabricação de diafragmas para ventiladores pulmonares e produtos têxteis com propriedades antivirais. Hoje, o setor de saúde representa o segundo lugar em projetos apoiados pela Embrapii, superado apenas pela agroindústria / indústria de alimentos.

Para este ano, Stallivieri afirma que o orçamento estimado da Embrapii para apoio a projetos é de R$ 800 milhões, desembolsados pelos ministérios que participam do contrato de gestão: MCTI, MEC, MDIC e Saúde. “Todas as tecnologias verdes estarão no radar e sofrerão formas de apoio específicas, como também empresas de menor porte, com iniciativas voltadas a ampliar a intensidade tecnológicas de negócios com receita operacional inferior a 90 milhões”, descreve. Para ampliar esse trabalho, a Embrapii também busca outros modelos e parceiros financiadores. Um deles é o BNDES, cujo contrato com a Embrapii prevê até 50% de financiamento em projetos nas áreas de transformação digital, defesa, novos materiais, bioeconomia florestal, biocombustíveis, economia circular e tecnologias para o Sistema Único de Saúde (SUS). Somente esse contrato garantiu 17 projetos de pesquisa, com aportes de R$ 21,7 milhões em financiamento.  “Também temos um contrato de operação de recursos da lei de informática, dentro do PPI, outro fechado com o então Ministério da Economia para operar recursos do Rota 2030, da indústria automobilística, e uma parcela de recursos do Sebrae voltada ao apoio de micro e pequenas empresas”, descreve.

Recentemente, a Embrapii também iniciou um projeto piloto de capacitação de instituições científicas e tecnológicas para formar mais unidades de pesquisa para que se tornem aptas ao atendimento de demandas industriais e façam parte da rede da Embrapii. “É um trabalho vinculado ao Ministério da Educação, ao qual se soma outra capacitação, chamada 4.0, com a qual buscamos fomentar a formação de recursos humanos, através da inserção de estudantes, mestrandos e doutorandos em nossos projetos de PDI para desenvolver inovação em empresas”, conclui Stallivieri.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir