Monitor do PIB: atividade cresce 0,8% em fevereiro, ajudada pelo consumo das famílias e investimento

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Monitor do PIB-FGV divulgado nesta terça-feira (16/4) indicou alta de 0,8% na atividade econômica em fevereiro em relação a janeiro. Consumo das famílias e investimentos foram os principais destaques, com crescimento, respectivamente de 0,7% e 4,7% frente a janeiro. Nessa mesma comparação com o mês imediatamente anterior, o setor industrial e as exportações registraram queda de -0,1% e -9,8%.

Observando a evolução da economia a partir da taxa trimestral interanual – menos volátil, o que permite compreender melhor a trajetória de cada setor – Juliana Trece, economista coordenadora do Monitor, afirma que fevereiro marca um crescimento mais consistente, por ser mais disseminado. “Mesmo no caso da indústria, quando vemos um aumento de 9% nas importações de bens intermediários no trimestre fechado em fevereiro – em janeiro, a alta foi de 0,8%, já sinalizando um caminho de recuperação depois de sete resultados negativos – identificamos aí uma tendência positiva”, ilustra.

Taxa de variação do consumo das famílias
Trimestral – variação em volume em relação ao mesmo trimestre do ano anterior – (%)


Fonte: FGV IBRE.

A análise da taxa trimestral interanual também reforça o desempenho dos investimentos e do consumo. “Em fevereiro, os investimentos cresceram 3,2% depois de oito meses no negativo”, ilustra, lembrando que o último resultado positivo havia sido em maio de 2023. Máquinas e equipamentos, atualmente com peso de 38% na taxa da formação bruta de capital fixo (FBCF), cresceu 3,5% no trimestre fechado em fevereiro em relação ao mesmo período de 2022. Em janeiro, essa taxa foi de -5,3%, e durante 2023 inteiro essa taxa também esteve no terreno negativo, com exceção de abril, quando foi zero.

Já a construção – historicamente a que mais peso tem nos investimentos, hoje com 45% do total – recuperou-se da trajetória de queda observada no segundo trimestre de 2023 e que se estendeu até janeiro, marcando alta de 1,7%. “O cenário é de mais robustez para o setor, com perspectivas melhores no cenário de juros influenciando o setor imobiliário, o calendário de eleições municipais e o próprio PAC do governo federal também impulsionando obras”, ressalta Juliana, lembrando ainda que é uma atividade intensiva em mão de obra, cuja resultado se reflete positivamente no mercado de trabalho. Também registra com desempenho o componente “outros”, que reúne investimentos como os ligados a pesquisa e desenvolvimento e propriedade intelectual, com alta de 5,9%.

Evolução do investimento, por componente 
Trimestral – variação em volume em relação ao mesmo trimestre do ano anterior – (%)


Fonte: FGV IBRE.

No campo do consumo, Juliana atribui a alta de 4,3% na taxa trimestral interanual – a maior desde a virada de 2022 para 2023 – relacionada ao ciclo econômico, com o bom momento do mercado de trabalho, redução do nível de endividamento e inadimplência das famílias em relação ao início de 2023, e redução da taxa de juros. Um elemento positivo ressaltado pela economista é o aumento do consumo de bens duráveis – de 8,5%, depois de ter registrado alta de 6,3% no trimestre fechado em janeiro –, que em geral são de maior valor e demandam financiamento. Equipamentos de informática e de veículos explicam grande parte do aumento do segmento, aponta. Na sequência de resultados, vieram os não-duráveis, com 4% e destaque para produtos alimentícios, farmacêuticos e de perfumaria; o consumo de serviços, com alta de 3,7%; e de bens semiduráveis, com 3,5%.

Importação de bens intermediários – sinal de recuperação 
Trimestral – variação em volume em relação ao mesmo trimestre do ano anterior – (%)


Fonte: FGV IBRE.

Juliana considera que o consumo terá contribuição relevante para o PIB de 2024, ainda que não mantenha essa tendência de alta observada nos trimestres findos em fevereiro e janeiro. “O que vemos até agora reflete o momento da economia, sob a perspectiva de um crescimento menos vigoroso que em 2023, mas de melhor composição”, diz, ressaltando, entretanto, a necessidade de se observar a evolução do quadro internacional e seus reflexos no câmbio, que podem alterar as perspectivas, por exemplo, para a trajetória da inflação.

 

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