Incerteza tende a se manter alta, mesmo com melhora das perspectivas econômicas no curto prazo

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A recente revisão para cima observada nas perspectivas do mercado para o PIB de 2022 não tende a trazer consigo uma melhora no ambiente de incerteza que domina a economia. “Há uma sensação de desaceleração que vem ficando mais forte nos últimos meses nas principais economias, com os bancos centrais nos Estados Unidos e Europa subindo juros.  No Brasil essa tendência não é diferente, o que tenderá a manter a incerteza flutuando em níveis ainda desconfortáveis” afirma Anna Carolina Lemos Gouveia, economista do FGV IBRE.

Dados atualizados do Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) do FGV IBRE, divulgados no final da semana passada, apontam que em junho o Indicador tinha registrado alta de quase 5 pontos em relação a abril, quando o IIE-Br havia recuado para 114,9 pontos, chegando pela primeira vez ao nível pré-pandemia. “A melhora do índice aconteceu lentamente, e em abril interpretamos que o resultado foi motivado, entre outros motivos, por respostas melhores que as esperadas nos setores de serviços e indústria. Mesmo a guerra na Ucrânia gerou um impacto menor na confiança no Brasil, devido, entre outros motivos, ao efeito positivo para commodities exportadas pelo país”, afirma Anna.

A revisão realizada pelos pesquisadores do IBRE nos resultados do IIE-Br se deu pela necessidade de atualização do componente expectativa do indicador, para o qual a fonte primária de dados são as informações do Focus, que sofreram atraso em sua publicação com a greve de servidores. “Com isso, o IIE-Br de maio e junho registraram altas maiores, mas acompanhando a mesma tendência que já havia sido identificada”, ressalta Anna, lembrando ainda que o peso do componente expectativas dentro do indicador é de 20%.

Anna ressalta que as preocupações em torno da trajetória inflacionária se mantêm altas. “Trabalhamos com três indicadores de dispersão de previsões: para IPCA, câmbio e Selic, sendo que o primeiro é o que registra mais força”, ilustra. Ela lembra que as medidas de estímulo econômico até agora contratadas para este ano, e que a princípio ainda se acomodam no orçamento fiscal, trazem risco inflacionário para 2023, alimentando tal dispersão de previsões. “Observamos incertezas no mercado quando se trata da expectativa para a inflação daqui 12 meses. Há quem diga que vai cair para 8% ao ano, outros que pode chegar a 6%, numa variação muito alta, fruto das medidas aprovadas no Congresso”, afirma.

Indicador de Incerteza Econômica – Brasil


Fonte: FGV IBRE.

Com isso, a economista do IBRE reforça o diagnóstico de um segundo semestre com manutenção da incerteza em um nível moderadamente elevado. “Economistas têm previsto certa desaceleração do setor de serviços, depois da recuperação observada nos últimos meses; também teremos eleições, outro fator já contratado de incerteza adiante. Isso tudo, somado à desaceleração econômica mundial, não nos permite alimentar perspectivas melhores para os próximos meses”, afirma.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Subir