Impacto do Desenrola: primeiros balanços

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Números divulgados nesta terça-feira (25/7) pela Serasa indicam que, na primeira semana de vigência do Desenrola, o programa do governo federal para quitação de dívidas influenciou positivamente inclusive os segmentos que estão fora dessa primeira fase do programa, que prevê a renegociação de dívidas com bancos. Estão dentro dessa primeira fase, chamada Faixa 2, débitos financeiros negativados até 31 de dezembro de 2022 de devedores com renda até R$ 20 mil. Essa primeira fase também “limpou” o nome de correntistas com dívidas inferiores a R$ 100.

O levantamento, que abarca apenas as negociações intermediadas pela plataforma Serasa Limpa Nome, mostra que na primeira semana de vigência do programa, entre 17 e 24 de julho, houve um aumento de 62% nas negociações de dívidas bancárias em relação à semana de 19/6 a 25/6, e descontos 97% maiores, que somaram R$ 973 milhões. “Quase R$ 1 bilhão em descontos em uma semana mostra que a vontade é de ambos os lados: dos brasileiros querendo resolver sua situação e começar um novo capítulo na vida financeira, bem como dos bancos”, diz Matheus Maciel, diretor da Serasa.  Essa vontade, afirma, se estendeu a outros credores que também ofereceram condições vantajosas para a quitação de dívidas. O maior aumento em número de negociações no período analisado se deu em dívidas com securitizadoras, que ofereceram descontos 88% maiores do que na semana correlata de junho. No varejo, telecom e outras dívidas – grupo que inclui as contraídas com escolas privadas, por exemplo – a variação dos descontos observados na plataforma da Serasa foram de, respectivamente, 50%, 63% e 136%.   

Negociações no Serasa Limpa Nome – por segmento

 

Descontos totais no Serasa Limpa Nome (R$ milhão) – por segmento


Fonte: Serasa.

Maciel ressaltou, em coletiva de imprensa, que o mês de junho já havia sido positivo para a chamada desnegativação. “Foi o primeiro mês do ano com registro de queda da inadimplência, que saiu de 71,9 milhões de pessoas para 71,45 milhões”, afirmou. Esse número, entretanto, ainda representa mais que o dobro do registrado no início de 2022. “Ter 71 milhões de inadimplentes é um desafio complexo, pois envolve diversas áreas da sociedade”, diz. Especialmente porque uma parte considerável dos inadimplentes se concentra em linhas de crédito mais caras e, por isso, mais difíceis de serem pagas. Como mostrou Genaro Lins, pesquisador associado do FGV IBRE, com dados do Banco Central até abril, somente o cartão de crédito representava 15% da carteira de empréstimos, mas 36% da inadimplência (leia mais aqui).

O diretor da Serasa ressalta que essa não é uma tendência nova. “Bancos e cartões de crédito sempre lideraram a inadimplência, já que quando as pessoas estão em situação financeira difícil elas priorizam as contas cujo não-pagamento impactarão mais diretamente seu bem-estar, como a de luz, por exemplo, para evitar corte”, disse. Mas a bola de neve gerada mais recentemente, agravada pelo cenário da inflação e dos juros, chegou a uma proporção mais preocupante. Uma das características que ressaltam a gravidade do atual quadro, aponta Maciel, é a mudança de padrão de uso do cartão de crédito observada nos últimos anos. “Pesquisa que realizamos há um ano já indicou que o uso de cartão de crédito, que antes era mais concentrado em compras relacionadas a indulgências, passou a ser mais frequente também em contas básicas, como para compra de remédios e mantimentos, servindo como uma renda complementar”, afirmou.

Principais estados em número de negociações no Serasa Limpa Nome

 

Principais estados em descontos totais no Serasa Limpa Nome (R$ milhão)


Fonte: Serasa.

Na coletiva, ele ressaltou a importância de iniciativas de educação financeira – “temos iniciativas como a TV Serasa, que disponibiliza conteúdo diário”, exemplificou –, para que as pessoas que limpam seus nomes tenham ajuda a fazer as melhores escolhas para não voltarem à inadimplência.

Inadimplência e educação financeira será tema da Conjuntura Econômica de agosto.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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