FGV IBRE: dois momentos de colaboração para o debate macroeconômico global

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Na semana passada, dois eventos reforçaram o papel do FGV IBRE como referência global quando o tema é análise da macroeconomia brasileira. Um deles foi o encontro dos pesquisadores do IBRE Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, Fernando Veloso, do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, e José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV IBRE, com Gita Gopinath, primeira-vice-diretora-gerente do FMI e sua equipe, em passagem pelo Brasil. A reunião, coordenada por Senna, aconteceu na sequência de um encontro de Gita com alunos da graduação e pós-graduação da FGV EPGE, em que a executiva do FMI respondeu a questões colocadas por Senna e pelo professor Renato Fragelli, da EPGE.

Os pesquisadores do IBRE destacaram a relevância desse encontro e da proximidade com o Fundo para o debate sobre os desafios da economia mundial e doméstica. Silvia acrescenta que foi a oportunidade de apresentar à economista o estudo do qual é co-autora sobre a influência da desancoragem das expectativas para a trajetória inflacionária. “Parte da estratégia econométrica utilizada nesse trabalho tem como base o os estudos de Gita em sua trajetória acadêmica”, conta Silvia.

Price Setting when Expectations are Unanchored” também foi exposto na Conferência Anual do Banco Central, em Brasília, da qual Gita participou, analisando o desafio do combate à inflação em economias emergentes. Ainda  na mesma semana, o paper foi selecionado pelos economistas Jón Steisson e Emi Nakamura – referência global em pesquisa de microdados de preços, ganhadora da Medalha John Bates Clark em 2019, de reconhecimento a economistas com menos de 40 anos que tenham registrado uma contribuição significativa ao pensamento e conhecimento econômicos – para abrir o Monetary Economics Program do NBER Summer Institute de 2023, em julho, em Cambridge.

O diferencial desse estudo, no qual trabalharam sete pesquisadores de distintas instituições, é o de ter conseguido provar, com robustez de dados, uma tese que há muito é debatida na literatura econômica: a de que, quando as expectativas de longo prazo sobre a inflação estão desancoradas - ou seja, refletem uma estimativa de inflação acima da meta do governo para aquele período -, as empresas tendem a promover um reajuste maior nos preços, contribuindo para essa espiral inflacionária. 

Para realizar esse trabalho, Silvia conta que foi imprescindível o acesso aos dados produzidos no FGV IBRE. De um lado, os microdados do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), com o qual os pesquisadores puderam analisar como as empresas industriais operam o repasse aos clientes do encarecimento dos custos provocado pela alta da cotação do dólar. De outro, as séries históricas das Sondagens Empresariais do IBRE, que complementam os dados obtidos do Boletim Focus, do Banco Central, na observação das expectativas dos agentes referentes à inflação. Dessa forma, explica Silvia, os pesquisadores conseguiram realizar o cruzamento entre expectativas e formação de preços, que é o diferencial que garante a robustez dos resultados. Um desafio, destaca a pesquisadora do FGV IBRE, que já tinha sido apontado por Ben Bernanke em 2007, quando era presidente do FED, ao reconhecer a dificuldade de se fazer o link entre a tomada de decisão sobre preços no nível microeconômico e as expectativas inflacionárias.

No período analisado pelos pesquisadores - que vai de julho de 2008 a dezembro de 2020 -, eles identificaram um momento de desancoragem, com início em agosto de 2011 até meados de 2016. Um segundo período começou a se formar com o aumento da incerteza fiscal no governo Bolsonaro, e sua evolução ainda precisa ser confirmada conforme a disponibilidade de microdados de períodos mais recentes.

“Esse link que o estudo permitiu é importante para orientação de políticas no campo monetário”, diz Silvia. “E o contexto brasileiro, marcado por alta variação das expectativas inflacionárias - algo que os Estados Unidos, por exemplo, não ocorrem, mesmo com o choque inflacionário pós-Covid - certamente permite gerar essa grande contribuição para o estudo do efeito das expectativas para a trajetória da inflação”, conclui.

 


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