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A estrela da recuperação

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Daqui a dois dias, no próximo domingo (30), voltamos às urnas para escolher quem irá dirigir o país nos próximos quatro anos. A população de 12 Estados também vai às urnas escolher seus governadores, em segundo turno.

São as eleições mais polarizadas desde a redemocratização, com ataques de ambos os lados e uma disseminação espantosa de fake news. Ações no TSE, no STJ, acusações de compra de votos, de assédio moral em empresas, em uma batalha pouco civilizada. Espero, como milhões de brasileiros, que o presidente eleito consiga apazigar o país – o que parece difícil dada a grande polarização –, trazendo propostas e ações que reduzam a desigualdade, a pobreza, melhorem o ensino, a saúde, a responsabilidade fiscal e criem condições para uma crescimento sustentável do país, o que não vemos já há bastante tempo.

No meio dessa confusão toda, com candidatos se degladiando, boas notícias continuam a aparecer no campo econômico. A atividade que engatinhava, travada pelos efeitos da pandemia e, mais recentemente, da guerra na Ucrânia, ganhou fôlego. As previsões são de que poderemos fechar o ano com o PIB crescendo perto dos 3%, depois da expansão de 4,6% em 2021, recuperando parte do tombo de 3,9% de 2020 – dados que podem ser revistos pelo IBGE, com a divulgação dos resultados do PIB do terceiro trimestre deste ano, dia 1º de zeembro.

Com a economia melhorando, a taxa de desemprego continua em sua trajetória descendente, processo que se iniciou com maior intensidade no trimestre móvel encerrado em abril último. No trimestre encerrado em setembro, a taxa de desemprego caiu para 8,7%. Conforme classifica Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, sócio da BRCG, “o mercado de trabalho é a estrela da recuperação deste ano”.

Taxa de desemprego


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Mas o que poderia explicar este bom comportamento do mercado de trabalho brasileiro ao longo de 2022?

Para Paulo Peruchetti, pesquisador do FGV IBRE e integrante do Núcleo de Produtividade, Mercado de Trabalho e Renda do Instituto, “os dados mostram que o emprego, que sofreu bastante no período mais crítico da pandemia (redução de 7,7% em 2020, em comparação com o ano de 2019), tem crescido bastante ao longo dos últimos meses. Parte relevante deste aumento deve-se principalmente à volta dos trabalhadores alocados no setor de serviços, em especial os serviços presenciais”, diz. “Para se ter uma ideia, em 2021 cerca de 40% das vagas criadas estiveram concentradas em atividades desse tipo. Já nos últimos 12 meses (comparando o terceiro trimestre deste ano com o mesmo período do ano passado), os serviços presenciais concentraram 82% das vagas criadas”, ilustra.

Outro ponto destacado por Peruchetti é que nos últimos meses tem havido uma melhora no emprego dos trabalhadores formais. “Após um longo período de crescimento maior do emprego informal, temos notado, nos últimos meses, um aumento considerável da contribuição das ocupações formais para o crescimento interanual do emprego”.

Decomposição do crescimento interanual do emprego


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Não há dúvida de que o mercado de trabalho vem melhorando de forma significativa. No entanto, como lembra Peruchetti, “ainda temos alguns pontos que merecem atenção. A taxa de participação, por exemplo, que é a razão entre a força de trabalho e a população em idade para trabalhar, ainda se encontra abaixo da tendência que vigorava antes da pandemia (2012-2019). Parte disso pode ser explicado pelo elevado número de pessoas que ainda estão fora da força de trabalho”.

Taxa de participação


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

 

Pessoas fora da força de trabalho


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Para Peruchetti, “o desalento também parou de cair, e parece ter se estabilizado no patamar elevado observado antes da pandemia. Esta situação preocupa, pois mostra que ainda existe, para este grupo, certa dificuldade de inserção no mercado de trabalho, que faz com eles desistam de procurar emprego”.

Pessoas desalentadas


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

Apesar de ainda ter algumas fragilidades, a melhora no mercado de trabalho é significativa. Com ela veio, também, uma recuperação do rendimento médio do trabalho. Após um longo período de queda entre meados de 2020 e o final de 2021, o rendimento médio do trabalho voltou a aumentar em 2022. No trimestre móvel encerrado em setembro de 2022, houve aumento de 2,5% em comparação com igual período do ano anterior. No entanto, a renda média em setembro ainda ficou 1,9% abaixo do mesmo período de 2019.

Peruchetti lembra, também, que a massa de rendimentos do trabalho, que combina os dados de emprego e rendimento, tem crescido bem mais.  “No trimestre móvel encerrado em setembro de 2022 houve aumento de 9,9% em comparação com igual período do ano anterior e de 3,3% em relação ao mesmo período de 2019, refletindo o fato de que ao longo dos últimos meses tem havido uma melhora considerável no emprego e, em menor magnitude, na renda média.”

Rendimento Médio do Trabalho


Fonte: IBGE e FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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