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Aumentam os riscos

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

As três principais economias mundiais estão desacelerando, com fortes impactos para o resto do mundo. China, Estados Unidos e a zona do euro sofrem com a escalada inflacionária, a pandemia que continua atingindo vários países e a guerra na Ucrânia.

Esta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu World Economic Outlook, reviu para baixo suas previsões para o crescimento mundial.

Segundo o FMI, o crescimento cairá de 6,1% no ano passado para 3,2% neste ano e 2,9% no próximo ano, um recuo, respectivamente, de 0,4 e 0,7 ponto percentual em relação às previsões de abril.

“Nos Estados Unidos, a queda do poder de compra das famílias e o aperto da política monetária reduzirão o crescimento para 2,3% neste ano e 1% no ano que vem. Na China, novos lockdowns e o aprofundamento da crise imobiliária reduziram o crescimento para 3,3% neste ano – o mais baixo em mais de quatro décadas, excluído o período da pandemia. E, na área do euro, o crescimento foi revisto em baixa, para 2,6% neste ano e 1,2% em 2023, como reflexo das repercussões da guerra na Ucrânia e de uma política monetária mais austera”, dizem os especialistas do Fundo em sua análise.

Na quinta-feira (28), dados preliminares anualizados divulgados pelo Escritório de Análise Econômica (BEA, sigla em inglês), do Departamento de Comércio, indicam que o PIB norte-americano recuou 0,9% no segundo trimestre deste ano. É a segunda queda seguida: no primeiro trimestre o recuo havia sido de 1,6%.

Últimas projeções de crescimento de perspectivas da economia mundial
(PIB real, variação percentual anual)


Fonte: FMI, Perspectivas de la economia mundial, abril de 2022.

A desaceleração da economia mundial em meio a perspectivas sombrias e aumento da incerteza são resultados de vários fatores que, conjuntamente, têm levado a revisões para baixo da atividade econômica.

Reveja: Um mundo onde a incerteza é o principal agente.

Os principais pontos que o FMI indica como responsáveis por essa situação:

• A guerra na Ucrânia pode resultar no corte repentino do fluxo de gás da Rússia para a Europa;

• A inflação pode se manter persistentemente alta se a escassez de mão de obra nos mercados de trabalho continuar elevada, se houver uma desancoragem das expectativas de inflação ou se a desinflação tiver um custo maior do que o previsto;

• Condições financeiras mundiais ainda mais restritivas podem deflagrar uma onda de superendividamento nas economias emergentes e em desenvolvimento;

• Novos surtos de Covid-19 e lockdowns podem reprimir ainda mais o crescimento da China;

• A alta dos preços dos alimentos e da energia pode causar insegurança alimentar e agitação social generalizadas;

• A fragmentação geopolítica pode impedir o comércio e a cooperação em escala mundial.

A avaliação dos técnicos do FMI vai ao encontro dos dados dos Barômetros Globais do FGV IBRE, que continuam sinalizando uma forte desaceleração do crescimento mundial este ano. Em julho, pelo sexto mês consecutivo, o Barômetro Coincidente recuou, enquanto o Barômetro Antecedente está estabilizado 10 pontos abaixo da média histórica de 100 pontos.

“O desempenho dos barômetros globais em julho reflete os desafios para a manutenção do nível de atividades ao longo de quase todas as regiões e setores nos próximos meses. Enquanto autoridades monetárias ao redor do mundo agem para conter os aumentos generalizados de preços, do lado da oferta as restrições ainda impostas pelos problemas das cadeias de suprimentos tornam maior o esforço necessário das medidas de contenção da demanda”, avalia Paulo Picchetti, pesquisador do FGV IBRE.

Economia desacelera
(Barômetros Globais)


Fonte: FGV IBRE.

Essa piora das perspectivas, especialmente para o ano que vem, também tem sido explicitada no Boletim Macro FGV IBRE. Na edição de julho, os pesquisadores responsáveis pelas análises destacam que “não é difícil identificar as várias fontes dessa elevada incerteza, mostrada também no World Uncertainty Index (WUI). A persistência da guerra na Ucrânia, assim como das sanções impostas em reação a esta, é uma delas. O desafio que a pandemia segue impondo à economia chinesa e, por tabela, às cadeias globais de valor, é outra. A isso se somam as fortes e, até certo ponto, surpreendentes pressões inflacionárias, com os preços subindo com ritmo e grau de disseminação que não se viam há décadas. Resultam daí incertezas adicionais sobre até quanto e quando a política monetária precisará ser apertada, em praticamente todos os países, e como isso se refletirá sobre o nível de atividade, com a perspectiva de recessão se tornando cada vez mais provável em várias economias”.

O aumento da incerteza já era um mau sinal para a atividade econômica global, como mostra a World Uncertainty Index (WUI), medida que engloba a situação em 143 países. 

 A pesquisa do WUI é elaborada a partir de dados trimestrais e, considerando apenas as informações relativas ao primeiro trimestre, conclui-se que a maior incerteza por si só já prenunciava declínios significativos no crescimento mundial. Segundo os autores da pesquisa, o aumento da incerteza no primeiro trimestre poderia ser suficiente para reduzir o crescimento global anual em até 0,35 ponto percentual. 

Leia a íntegra do Boletim Macro FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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