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A fragilidade dos investimentos

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Nos últimos 40 anos, a renda per capita do país não cresceu mais do que 0,7%, em média. A atividade econômica avança a passos de tartaruga. Para este ano, a última previsão do Boletim Macro FGV IBRE é de uma expansão de 0,9% do PIB. Se o número for maior, não deve passar de 1,5%, como mostram outras projeções. O que é muito pouco. Verdade que tivemos a pandemia e vemos uma guerra na Ucrânia que se prolonga. Mas não dá para jogar tudo no colo desses dois episódios. Há muito tempo o país tem uma taxa de investimento extremamente baixa. No ano passado, uma surpresa: os investimentos em relação ao PIB foram de 19,17%, ante os 16,61% de 2020. Esse salto foi feito pela iniciativa privada, que aumentou a sua rentabilidade, mesmo com a pandemia.

Em média, os investimentos privados cresceram, em termos reais, algo ao redor dos 3% nos últimos quatro anos.

Leia: Não equacionaremos nossos problemas sociais e o ajuste fiscal crescendo 1,5% ao ano.

Na contramão, em 2021, os investimentos do governo foram de 2,05% do PIB, segunda menor taxa da série história observada em 2017, quando atingiu 1,94% do PIB, segundo o Observatório de Política Fiscal do FGV IBRE, que reconstruiu a série histórica desde 1947. Esses investimentos incluem o governo central, estados, municípios e as estatais federais. Boa parte desse desastre foi capitaneada pelas empresas estatais, que tiveram o menor nível de investimentos desde o início da série: 0,66% em relação ao PIB.

Estudo da consultoria Inter.B mostra que o estoque e fluxo de investimentos em infraestrutura no Brasil para este ano será de 1,71% do PIB, muito aquém do necessário para cobrir as necessidades do setor. O pior é que não há recursos nem para a manutenção do que já existe.

Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios mostrou que, até abril último, 6.932 obras estavam paradas no país, cujos trabalhos foram iniciados entre 2012 e 2021, somando investimentos de R$ 9,32 bilhões. São esqueletos de escolas, unidades de saúde, pavimentação de estradas, iluminação pública, canalização de esgotos

Um quadro ruim: Projeções para investimento em infraestrutura em 2022 ainda são metade do necessário.

Em artigo de julho da revista Conjuntura Econômica, os economistas José Roberto Afonso, Geraldo Biasoto Jr e Murilo Ferreira Viana mostrarão que, comparando dados internacionais do FMI projetados para este ano, o Brasil figura na 147ª colocação num total de 170 países em ranking na razão Formação Bruta de Capital Fixo/PIB. A taxa brasileira, de 17,1% do PIB, é pouco mais de metade tomando como referência Turquia e Índia, é muito inferior a vários outros países dotados de capital social ainda em formação.

“Especificamente, quanto ao investimento público em infraestrutura, o mesmo quadro grave é constatado com dados da OCDE. Em 2019, o Brasil chegou a 1,67% do PIB, isso representava a metade da média dos países da OCDE. Pior, países com infraestrutura plenamente constituída como França e Coreia do Sul apresentam quociente de investimento em infraestrutura sobre PIB muito superiores à média da OCDE”, afirmam os autores do artigo.

Em março último, a revista Conjuntura Econômica se debruçou sobre a complexa questão dos investimentos na economia brasileira, sem os quais o país não ganhará competividade e não sairá da armadilha do baixo crescimento. É mais um grande desafio para quem se sentar na cadeira presidencial no próximo ano.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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