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A nova onda na Europa e a volta da apreensão

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

A Europa enfrenta uma nova onda da COVID-19. A chegada do inverno, o que aumenta as infecções respiratórias e leva a uma concentração de pessoas em lugares fechados, aliada a uma vacinação ainda abaixo do esperado, com muita gente não se vacinando e com poucas doses de reforço, está levando dezenas de países a adotarem ou começarem a estudar medidas mais duras de restrições sanitárias.

Na última semana, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Europa teve um aumento de 5% no número de mortes, enquanto as demais regiões do planeta apresentaram queda ou estabilidade. Nas Américas, os óbitos caíram 3%; no Pacífico Ocidental, que incluiu a China, a queda foi igual, e no Mediterrâneo Oriental houve um recuo de 14%. A África teve um aumento nas mortes de 3% e no sul e leste da Asia, que incluiu a Índia, os óbitos aumentaram 1%. Segundo levantamento da Reuters, de cada 100 novas infecções diárias, mais de 59 são provenientes da Europa.

Na Alemanha, onde 68% da população foi imunizada, Ângela Merkel afirmou, essa semana, que a situação é dramática. A maior montadora europeia, a alemã Volkswagen, está aconselhando seus funcionários a voltarem a trabalhar em casa a partir da próxima segunda feira, em áreas em que isso é possível. Também vai restringir a entrada em suas dependências de não-vacinados e aumentar a sua capacidade de vacinação em suas unidades até o final deste mês, o que incluiu a dose de reforço.

O governo alemão, poucos meses depois de abrandar as restrições, com a volta do trabalho em escritórios, bares, restaurantes e outras atividades, está prestes a dar um passo atrás, voltando com medidas mais duras de controle. Com perto de 100 mil mortes desde que a pandemia começou, a Alemanha é o décimo país em número de casos, com 5,2 milhões, e uma taxa de 1.177 mortos por milhão de habitantes. No último dia 17, a média móvel de novos casos (comparado com a média móvel sempre encerrada no dia 17 de cada mês), foi a maior desde o começo da pandemia, com mais de 42 mil contaminados. E as mortes, ainda em patamares baixos, começaram a subir este mês.

A fonte de todos os gráficos apresentados é do Worldometer.

Alemanha

Um dos países onde os novos casos e mortes tem explodido é a Rússia. Depois de um período em que os números causavam estranheza, o país já é o quinto com maior número de casos do planeta, com mais de 9,3 milhões de contaminados, e 1.783 mortes por milhão de habitantes. As mortes informadas pelo governo russo, que ainda levantam dúvidas, estão na casa dos 260 mil desde que a pandemia começou, o que leva a Rússia a ser o país europeu com o maior número de mortes. Oficiais.

Como há um forte controle sobre a imprensa e a disseminação de informações, fica difícil mensurar o que realmente ocorre no país. Em setembro, a agência de estatísticas Rosstat, estimou que o número de mortes até aquele mês estava na casa dos 450 mil.

Por lá, medidas de maior controle começam a ser tomadas para tentar frear a disseminação do vírus no rigoroso inverso russo. Além do frio, a baixa taxa de vacinação da população é um problema, pois menos de 40% dos 144 milhões de russos estão completamente imunizados, segundo dados oficiais. Já o site especializado Gogov, dá uma taxa bem mais baixa: somente 34%.

Rússia

Na última quarta-feira, decreto do governo belga determinou que as pessoas devem trabalhar em casa quatro dias por semana até meados do próximo mês. Na Bélgica, a média móvel de novos casos nos últimos sete dias já bate na casa dos 10,4 mil, a mais alta desde meados de novembro do ano passado, embora as mortes permaneçam em patamares ainda baixos. No entanto, dada a sua pequena população, os óbitos por milhão de habitantes já estão na casa de 2.272.

Bélgica

No Reino Unido, os novos casos começaram a embicar para cima, novamente, já ultrapassando os 36 mil pela média móvel dos últimos sete dias. E as mortes, ainda em patamares baixos, tiveram uma pequena alta nas duas últimas semanas. Áustria, Eslovênia, República Tcheca, Suécia, Dinamarca, Eslováquia, Portugal, Suíça, França, são países onde os números da pandemia estão subindo, só para citar alguns. Mas, de um modo geral, com o inverno, baixa vacinação em alguns lugares, atraso na dose de reforço e relaxamento de restrições, como uso de máscara, são fatores que tem ajudado o vírus se propagar por vários países.

Até agora, 52,4% da população mundial recebeu pelo menos uma dose da vacina contra o coronavírus. Apenas 4,7% das pessoas em países de renda baixa receberam pelo menos uma dose.

Com o aumento dos casos na Europa, os números de contaminados no mundo começou a subir este mês, já superando em cerca de 100 mil os contabilizados na média móvel de 17 de outubro último.

Mas o número de mortos não tem crescido de forma acentuada na Europa de uma forma geral. O que pode ser reflexo do efeito da vacinação, mesmo abaixo do esperado. O gráfico abaixo mostra a média móvel dos últimos sete dias, sempre terminados no dia 17 de cada mês, de novas contaminações pela COVID-19 no planeta.

Mundo

Os cientistas têm alertado que a pandemia só será controlada quando mais de 70% da população mundial estiver totalmente imunizada. No Brasil, houve um formidável avanço na vacinação. Até ontem, cerca de 74% da população havia recebido pelo menos uma dose do imunizante; 60% estavam completamente imunizados e 6% já haviam recebido a dose de reforço. E os planos são de que o reforço comece a ser aplicado no próximo mês para outras faixas da população.

O último Boletim da Fiocruz alerta que o recente crescimento de casos e mortes na Europa mostra que pandemia da Covid-19 ainda é um desafio mundial, ressaltando que o aumento de número de casos e mortes no continente europeu ocorre, principalmente, onde é baixa a taxa de vacinação, embora haja países com níveis elevados, como a Bélgica, com 75%, Áustria, com 65%, Suíça, com 65%, entre outros. 

Os cientistas da Fiocruz chamam a atenção para o abandono das ações preventivas no Brasil, especialmente a liberação do uso das máscaras e o relaxamento das medidas de distanciamento físico. E dizem que o que está ocorrendo na Europa deve servir como uma alerta para o Brasil, embora vamos entrar no período do verão.

A preocupação é com as festas de final de ano, especialmente o Ano Novo. E o Carnaval. Medidas de controle de entrada de estrangeiros devem ser adotadas, sob risco de termos que mergulhar, novamente, em uma nova onda de pandemia. 

O que ninguém deseja e aguenta mais.

Abaixo a situação de alguns países onde os novos casos têm crescido. As mortes, felizmente, não estão embicando para cima de forma significativa. Também foi utilizada a média móvel dos últimos sete dias, terminados no dia 17 de cada mês. A fonte dos dados é o Worldometer.

Áustria

 

República Tcheca

 

Eslovênia

 

Suíça

 

Dinamarca

 

Eslováquia

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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