Em Foco

O que nos espera em 2024?

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Os resultados econômicos deste ano foram bem melhores do que se previa no começo do ano. O PIB deve ter um crescimento ao redor dos 3%, o mercado de trabalho melhorou, embora ainda paire muitas duvidas sobre a qualidade de mão-de-obra, a produtividade depois de muito tempo avançou nos três últimos trimestres como mostra o Observatório da Produtividade Regis Bonelli, tivemos um saldo comercial recorde, a inflação e os juros cederam, e importantes reformas foram aprovadas, especialmente a última, a tributária, depois de quase quatro décadas de tentativas infrutíferas. O destaque, sem dúvida, foi o árduo trabalho do ministro Fernando Haddad que conseguiu aprovar reformas que eram consideradas impossíveis.

Não querendo lançar pessimismo sobre o que pode ocorrer no ano que vem, não há dúvidas de que uma série de fatores que levaram a atividade econômica a superar as expectativas não devem voltar a acontecer em 2024. Como tem mostrado o Boletim Macro FGV IBRE e enfatizado no IV Seminário de Análise Conjuntural, realizado pelo IBRE em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo (veja aqui), a composição do crescimento em 2023 foi bem diferente do que ocorreu em 2022, marcado pela recuperação do setor de serviços depois da devastação deixada pela pandemia da COVID-19. É bom lembrar que ao longo da pandemia houve forte liberação de recursos, como transferências de rendas, aceleradas na disputa eleitoral pelo governo Bolsonaro.

Já em 2023, o crescimento foi puxado pelo excelente desempenho da agropecuária que, junto com a indústria extrativa e o setor público, deve representar mais da metade, cerca de 1,6 ponto percentual, do crescimento do PIB do ano passado. Também há dúvidas como se comportará a próxima safra, já que tivemos chuvas e secas em excesso em várias regiões produtoras, o que pode levar o setor agropecuário a ter uma contração este ano. Também não teremos uma repetição dos ótimos resultados da balança comercial que ajudaram a engordar o PIB.

Se podemos comemorar os avanços conseguidos em 2023, especialmente a reforma tributária que ainda levará algum tempo para começar a ter impactos sobre a economia, já que depende de regulação e aprovação de uma série de normas, a questão fiscal continua sendo um problema que ainda não foi equacionado. A aprovação do arcabouço fiscal não garantiu a sustentabilidade fiscal – o ministro Haddad quer zerar o déficit primário no ano que vem, o que para muitos analistas será muito difícil –, já que as receitas que devem sustentar esse equilíbrio fiscal continuam abaixo do esperado. E 2024 será ano de eleições onde, normalmente, mais se gasta do que se arrecada.

Neste apagar das luzes de 2023, o governo lançou um pacote de medidas que tem como foco aumentar a arrecadação e reduzir benesses. Uma delas é o anúncio de Medida Provisória para que empresas de certos setores voltem a pagar quase que integralmente a contribuição patronal para a Previdência. O Congresso havia prorrogado essa desoneração da Folha, o que foi vetado por Lula. Na volta ao Congresso, o veto foi derrubado por 83% dos deputados e por 82% dos senadores. Sem dúvida, o ministro abriu um flanco de atrito com os congressistas que já se manifestaram contra a medida que, segundo eles, seria uma interferência do Executivo sobre o Legislativo.

As outras duas medidas foram: 1) limitação dos créditos tributários a serem aproveitados pelas empresas que passa a ser parcelado – cerca de 30% em 2024 –, o que levaria o governo a perder menos receita no curto prazo; 2) o fim do Perse, programa voltado ao setor de eventos.

Embora possa estar na direção correta, as medidas devem ter forte oposição, não só no Congresso, mas no meio empresarial.

Parece que 2024 será outro ano de muitas emoções.

Feliz ano.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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