Em fevereiro, serviços lideram emprego formal e comércio tem saldo negativo. Sondagem do IBRE aponta tendência de desaceleração em ambos os setores

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Em fevereiro, foram criadas 241,7 mil vagas com carteira assinada no Brasil. O dado é do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e vem alinhado à projeção feita pelo pesquisador do FGV IBRE Daniel Duque no Boletim Macro IBRE de março, de 212 mil postos. O número é 31% inferior ao registrado em fevereiro de 2022, de 353,3 mil.

Quando distribuído entre os setores da atividade econômica, esse número é liderado com folga pelo setor de serviços, com 205,6 mil vagas. Já o setor de comércio registrou saldo negativo de 54,6 mil postos. Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, lembra que esses dados não consideram características específicas do período analisado. Ao ser fazer o ajuste sazonal, diz, o resultado se torna menos intenso para ambos os lados. “No caso do setor de serviços, observa-se o peso de atividades como educação – que teve a maior variação relativa, de 3,12% – alavancando o resultado inclusive dentro da administração pública”, diz, indicando a influência de fevereiro ter marcado o início do ano letivo, com um nível de atividade presencial mais normalizado desde o início da pandemia. “Também registraram importante alta segmentos como transporte, alojamento, e os relacionados a lazer e cultura, atividades impulsionadas pelo feriado de Carnaval”, completa. Já o comércio sofre o efeito inverso, lembra Tobler, com as atividades em sua maioria sendo influenciadas negativamente por feriados prolongados. “Além disso, nesse setor também é preciso considerar as contratações temporárias realizadas em novembro e dezembro, que agora passam a contar negativamente para o saldo do setor, como desligamentos. ”

Saldo de fevereiro por setor, sem ajuste


Fonte: Novo Caged/TEM.

Tobler afirma que, ao se limpar os efeitos sazonais, esse saldo cai para em torno dos 100 mil, marcando uma desaceleração condizente com a perda de dinamismo da atividade econômica. “Quando se trata do emprego formal, essa desaceleração é sentida de forma ainda mais clara, pois envolve mais custos na contratação. Não dá para imaginar os empresários criando muitos postos de trabalho diante de um quadro de incerteza sobre a atividade – com um desaquecimento contratado pela política monetária para combater a inflação –, depois do forte ritmo de recuperação observado em 2022”, diz.

Serviços: maior saldo positivo em fevereiro


Fonte: Novo Caged/TEM.

Tobler afirma que as Sondagens de março tanto do Comércio quanto de Serviços corroboram essa tendência. O ímpeto de contratação dos empresários do setor de serviços caiu 2 pontos em relação a fevereiro. No caso do comércio, o resultado apresentou estabilidade, com leve alta de 0,4 ponto. “Analisando os resultados a partir da média móvel trimestral, ainda observamos estabilidade no quesito emprego previsto em ambos os setores – e em terreno favorável, com um nível acima do considerado neutro”, ressalta. No terceiro trimestre de 2022, esses indicadores se mostravam ainda melhores, acima dos 110 pontos.  

A Sondagem de março mostra que a confiança dos empresários do setor de serviços voltou a subir, depois de cinco quedas seguidas. A alta foi de 2,6 pontos, para 91,7 pontos. A melhora da percepção se deu tanto na avaliação da situação atual quanto no terreno das expectativas quanto aos próximos meses. “Ainda não é possível afirmar que é uma volta para a trajetória de recuperação, mas pode indicar uma avaliação de que o cenário parou de piorar”, afirma o economista do IBRE, lembrando que o setor de serviços foi o último a se recuperar dos efeitos da pandemia e o último também em sentir a desaceleração da atividade. A avaliação sobre a demanda para os próximos meses registrou melhora de 3,2 pontos. E o Indicador de Situação Atual subiu 2,1 pontos em relação a fevereiro. “São altas não desprezíveis, especialmente a das expectativas, porque é a segunda seguida. Pode indicar que, mesmo que o setor caminhe em ritmo fraco ao menos se estabilizará por um tempo. “

Emprego previsto, por setor - em pontos - média móvel de três meses


Fonte: FGV IBRE.

A Sondagem do Comércio também aponta melhora de avaliação em ambos os horizontes de tempo. O Índice de Confiança do Comércio subiu 1,1 ponto em março, para 86,9 pontos, segunda alta consecutiva. No caso do setor, porém, esse ganho ainda se dá sobre uma base muito baixa: o indicador que mede a situação atual fechou março em 86,9 pontos e, o das expectativas, 87,3 pontos. Tobler lembra que a manutenção da trajetória de alta dependerá do controle da inflação, especialmente entre aquelas atividades que são dependentes da dinâmica do crédito. “O debate sobre a volta da tributação dos combustíveis, a trajetória dos preços de alimentos, tudo é importante para se traçar esse horizonte”, diz Tobler, destacando o ambiente macroeconômico delicado que ainda se impõe.

Salário Médio Real de Admissão


Fonte: Novo Caged/TEM.

 


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