“As eleições de 2024 devem falar pouco sobre 2026”, diz Marco Antonio Teixeira, professor da Eaesp

Marco Antonio Teixeira, professor-adjunto Eaesp, pesquisador FGVceapg

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Como avalia o ambiente político em relação às últimas eleições municipais?

Estas eleições estão recheadas de novidades, especialmente nas capitais. O cenário nacional não está tão refletido no local como imaginamos, pois os arranjos locais estão importando mais do que no passado. Veja o caso da capital paulista. Será a primeira vez depois de muito tempo que PT e PSDB não terão candidato próprio. Esses partidos ganharam as eleições na última década (o atual prefeito, Ricardo Nunes, do MDB, pré-candidato com apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, era vice do prefeito eleito Bruno Covas, do PSDB, e assumiu o lugar depois de sua morte, em maio de 2021). O PT já havia sinalizado acordo com Guilherme Boulos (PSOL), mas não podemos deixar de considerar que o desempenho do partido em 2020 foi muito ruim - ficou em sexto lugar no primeiro turno. O PT tampouco terá candidato no Rio de Janeiro - capital em que em 2020 terminou o primeiro turno em quarto lugar - devendo fechar apoio ao atual prefeito Eduardo Paes. No Rio, aliás, a atenção estará posta no desempenho do pré-candidato apoiado por Bolsonaro, o deputado federal Delegado Ramagem (PL). O Rio deveria ser um lugar onde o bolsonarismo entraria com força este ano, pois é onde o ex-presidente criou suas raízes políticas, mas o cenário a princípio parece incerto. O próprio governador do estado, Claudio Castro (PL), não tem registrado boas avaliações do eleitorado. Na última pesquisa Atlas, com o ranking de governadores 2023 conforme sua aprovação, Castro está em penúltimo lugar (a lista é liderada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil). Um mau desempenho de Ramagem demonstraria um enfraquecimento importante do bolsonarismo.

O que quero dizer com esses exemplos é que as eleições municipais talvez mostrem um cenário nacional mais embaralhado, com menos polarização. E que a temperatura não deve ser medida pelo termômetro nacional. Diria que os resultados de 2024 não dirão muito sobre 2026.

Em linhas gerais, nas grandes cidades, quais as principais demandas do eleitor hoje, os temas mais sensíveis que ele relaciona diretamente com o desempenho de um prefeito?

Acho que a gente vem, desde as manifestações de 2013, fazendo com que a cidade responda mais às questões de mobilidade e qualidade de vida do cidadão. Temas como ciclovias, prioridade ao transporte coletivo vêm ganhando cada vez mais espaço. Outra questão importante é chamar a responsabilidade da prefeitura, que é o poder local mais próximo, em termos da deterioração das condições de vida nas grandes cidades. As grandes cidades têm problemas enormes com sua população de rua, suas cracolândias. Os prefeitos cada vez mais serão cobrados por isso. Diria que as eleições municipais tendem cada vez mais ser uma avaliação do governo de plantão, e não apenas uma tomada de posição por preferência política. No nível municipal, o eleitor é mais pragmático. Tem uma decisão mais racional do ponto de vista do que o governo está melhorando a sua vida.

Desde as eleições de 2018 observamos a crescente preocupação com as campanhas realizadas em redes sociais e a disseminação de fake news, ao que agora se soma as potencialidades do avanço da inteligência artificial.O que esperar?

Essa é uma pauta muito mais para os tribunais eleitorais, de fiscalização das campanhas, do que uma pauta de sociedade. O cidadão não produz fake news. Quem produz são as campanhas. Se as estratégias dos candidatos continuarem ampliando a agressividade na condução de notícias, na desconstrução do outro, cabe buscar controlar. E considero que já se avançou bastante. A eleição de 2023 foi menos tensa que a de 2018 nesse aspecto. E a de 2024, comparada à de 2020, será com mais controle também. Obviamente qual a consequência das fake news para o cidadão são negativas, se deixando envolver com as notícias que circulam, sob risco de tomar decisões com base no falseamento da realidade. Por isso, esta é uma pauta para os órgãos de controle antes de mais nada, posto que o cidadão tem pouco a fazer a não ser obviamente ter a consciência de que qualquer coisa precisa ser checada para construir seu próprio juízo de valor.

Voltando ao exemplo de São Paulo, além do apoio do presidente e ex-presidente a candidatos, destaca-se a presença da pré-candidata Tabata Amaral (deputada federal pelo PSB), que ilustra a corrente construída em anos recentes, a partir de movimentos civis focados em renovar quadros políticos e resgatar a confiança esse ofício (leia mais na Conjuntura de fevereiro de 2019).  Como avalia a influência desse grupo hoje?

Pelo que eu olho, me parece pequena. O que mais temos visto é um retorno dos políticos no sentido mais tradicional da palavra do que uma onda renovadora. Basta lembrar que o grande destaque no debate político paulista nas últimas semanas foi protagonizado por Marta Suplicy, que foi prefeita de São Paulo pelo PT em 2001. Desses grupos de renovação política, a deputada Tábata foi uma das poucas que permaneceram. Boa parte ficou apenas em um mandato, e esse movimento perdeu fôlego. Até porque não há nova política. Política é conversar, negociar acordos, construir consensos. O grande prejuízo que essa onda trouxe, aliás, foi confundir política com corrupção, como se a nova política fosse, de certa forma, combater uma política corrupta, quando política e corrupção são coisas diferentes. Quem faz corrupção não está fazendo política.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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