Desaceleração econômica e inflação

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

O Monitor do PIB do FGV IBRE calcula que a atividade econômica tenha crescido 0,3% em abril em relação a março. Embora o resultado tenha ficado pouco acima das expectativas, sinalizando que a atividade econômica ainda se recupera, a queda de 0,8% estimada para o setor de serviços é um sinal de alerta, já que responde por cerca de 70% da formação do PIB brasileiro. No primeiro trimestre, o crescimento de 1% da atividade econômica foi puxado, entre outros fatores, pela reabertura da economia, com a volta a sua quase normalidade, favorecendo o setor de serviços.

Monitor do PIB: segundo trimestre começa com desaceleração, mas em ritmo mais lento.

Como tem alertado o Boletim Macro IBRE, o primeiro semestre deste ano tem sido marcado por fatores temporários que explicam o bom desempenho da atividade, como a reabertura da economia, a normalização dos serviços públicos, os estímulos fiscais e a expressiva alta nos preços das commodities. Sem novos estímulos, a política monetária deverá atuar na economia com as suas defasagens.

“Também é importante destacar que a contribuição externa para o crescimento econômico no primeiro trimestre foi significativa e que não deve ser manter nos outros trimestres, pois a desaceleração esperada para a economia mundial também deve ser expressiva.  Recentemente, a OCDE reduziu as perspectivas de crescimento mundial para 3% em 2022, ante projeção anterior de 4,5%. Para 2023, a previsão é de 2,8%”, diz o Boletim deste mês.

Ou seja: há uma desaceleração em curso no mundo. Só não se sabe ainda sua dimensão. E o instrumento que está sendo utilizado é o da progressiva alta nas taxas de juros, o que inibe o consumo e, por tabela, a atividade econômica.

Na sexta, 22, foi divulgada a prévia do IPCA-15, prévia da inflação, que subiu 0,69% em junho, acelerando em relação aos 0,59% de maio, elevando a acumulada nos últimos doze meses para 12,04%.

O Boletim de junho revisou para cima o crescimento do PIB este ano, de 0,7% para 0,9%, pois o primeiro semestre deve ter um crescimento um pouco mais robusto do que se esperava inicialmente. Apesar disso, é esperada uma forte contração da atividade no segundo semestre, e as projeções para o ano se mantêm abaixo de 1%. “O impulso negativo que vem da política monetária mais apertada deverá ser sentido com mais intensidade nos próximos meses, pois a taxa de juros real entrou em patamar contracionista apenas no final de 2021, com impactos sobre a atividade econômica que tendem a ser defasados”, esclarece.

Veja alguns destaques do Boletim Macro FGV IBRE de junho.

• Projeções para a inflação indicam uma taxa de quase 9% nos países da OCDE neste ano, o dobro do projetado alguns meses atrás. Para enfrentar este quadro, a OCDE recomenda que, mesmo a política monetária não podendo enfrentar os choques de oferta, ela deveria enviar sinais de que não permitirá a inflação subir ou se espalhar ainda mais.

• Mesmo com um maior risco de recessão mundial, no curto prazo, porém, o crescimento mundial tem se mostrado bem resiliente, principalmente nos EUA e Europa. E, na China, a reabertura da economia e os estímulos do governo deverão evitar uma desaceleração mais forte na economia.

Caminhamos para uma recessão? A pergunta que já começa a ganhar força entre economistas e analistas é se o mundo caminha para uma recessão.

• Este quadro também tem sido bem desfavorável para o controle da inflação. De fato, as pressões inflacionárias globais têm desencadeado reações nos principais bancos centrais do mundo. Em particular, o Banco Central Europeu (BCE) não apenas anunciou o fim do programa de compras de ativos, como vai iniciar o aperto monetário em julho. Também realizou uma reunião extraordinária para avaliar as formas de conter o aumento da taxa de juros nos países periféricos da região.

• O cenário externo para os países emergentes está mudando rapidamente, e apenas para os países produtores de commodities há uma atenuação do choque negativo. Porém, no Brasil, a aprovação de desonerações tributárias para conter principalmente os preços dos combustíveis elevou não apenas os riscos fiscais como deteriorou as expectativas inflacionárias para o ano que vem e impactou as ações da Petrobras.

• A previsão de crescimento do PIB para o segundo trimestre é de 0,4%. Ainda há espaço para recuperação de algumas atividades dos serviços. Porém, pelo lado da demanda, o consumo das famílias, apesar de se esperar um segundo trimestre ainda forte, deve ser fraco no fechamento do ano.

• O IPCA de maio surpreendeu o mercado ao registrar variação abaixo da antecipada pela mediana das expectativas. No entanto, a média dos nove núcleos de inflação estimados pelo Banco Central (BC) registrou a vigésima-primeira aceleração da taxa interanual em maio, acumulando alta de 9,8%, em sinal de quanto a inflação está disseminada e persistente.

• A melhora dos indicadores fiscais na saída da pandemia é tão impressionante quanto controversa. A melhoria fiscal está evidentemente muito relacionada ao processo inflacionário. Com a normalização da inflação, deverá trazer piora dos indicadores fiscais, pois a taxa real de juros será elevada e isso pressionará a dívida pública. O momento mais crítico para a consolidação fiscal ocorrerá exatamente nos próximos dois anos e culminará com a possível revisão do marco fiscal e o aumento da taxa de juros real, que já está contratado.

Veja a íntegra do Boletim Macro FGV IBRE.

 


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