Confiança empresarial no primeiro trimestre: melhora das expectativas inclui comércio e serviços

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Índice de Confiança Empresarial do FGV IBRE subiu 0,6 ponto em março, para 94,7 pontos. Esse resultado não compensa totalmente a queda registrada em fevereiro, de 0,7 ponto em relação a janeiro, mas confirma a recuperação sinalizada na prévia do indicador publicada no Boletim Macro FGV IBRE, afastando o receio de um início de tendência de recuo. Essa melhora também foi observada na confiança do consumidor, que em março reverteu a direção de queda observada nos dois meses anteriores, fechando com ganho de 1,6 ponto, para 91,3 pontos.

Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE, ressalta que esse resultado foi impulsionado especialmente pelo índice que mede as expectativas. O destaque é para o desempenho dos setores de comércio e serviços, que tiveram alta, respectivamente, de 2 e 3,9 pontos, enquanto indústria e construção perderam 0,4 e 0,3 ponto no mês.  “Em fevereiro, tínhamos observado um maior distanciamento entre a confiança quanto à situação atual e as expectativas. É negativo quando essa diferença se dá a partir da piora das expectativas, que sinalizam o clima para os negócios nos meses adiante”, diz.

Confiança empresarial se recupera puxada especialmente pela melhora nas expectativas


Fonte: FGV IBRE.

Quando observados os resultados do primeiro trimestre em relação ao último tri de 2023, Tobler ressalta que fica clara uma melhora da confiança mais disseminada entre os setores. “Ainda que a maior variação seja do segmento industrial, que já tem dado sinais de recuperação desde o final do ano passado – com alta de 3,9 pontos em relação ao quarto trimestre de 2023 – serviços e comércio também registraram alta importante, depois de uma variação negativa no quarto tri de 2023 em relação ao terceiro tri, de -0,3 e -0,4 ponto, respectivamente”, destaca. No campo das expectativas, serviços é quem registra a maior alta (4 pontos), seguidos de indústria (3,4), comércio (2,6 pontos) e construção (1,3 ponto). “No caso da indústria, vemos que à tendência de melhora de estoques observada no final de 2023 agora se soma uma melhora da percepção quanto à demanda. Serviços, por sua vez, não começou o ano com bons dados de confiança, mas demonstrou recuperação na ponta”, descreve o economista do IBRE. Já o comércio, tal como a indústria, foi um setor que sofreu muito no ano passado, e se esperava uma melhora diante de um cenário melhor quanto à inflação e juros, afirma o economista, lembrando da sensibilidade do setor ao custo do crédito, em especial no comércio de bens de maior valor, cuja compra geralmente é feita parcelada. Tobler também lembra a maior aderência da evolução da confiança desse setor à confiança do consumidor, que recém reage de duas quedas.

Índice de Confiança Empresarial – variação trimestral


Fonte: FGV IBRE.

Para Tobler, os bons resultados observados na atividade de serviços e varejo em janeiro, com consequentes revisões para cima do PIB – as projeções do Boletim Macro passaram de uma alta de 0,2% para 0,5%, no caso do PIB do 1º tri, e de 1,5% a 2% para o PIB de 2024 – retroalimentam a confiança dos empresários, colocando um viés positivo para sua evolução nos próximos meses.  “Se no ano passado observamos uma redução do pessimismo, agora o resultado das sondagens parece flertar com a recuperação do otimismo de fato”, diz. Isso, entretanto, não retira a cautela nas análises, afirma. “Espera-se que este ano a queda da taxa de juros básica passe a se refletir mais na atividade. Somada a uma inflação controlada e à manutenção de uma boa dinâmica no mercado de trabalho, com o aumento da renda média real observado que potencializa o consumo, tudo leva à percepção de uma economia mais forte”, diz. “Vemos, entretanto, que o setor de serviços ainda percebe uma demanda morna, e também há cautela quanto à evolução do crédito”, cita, ressaltando que nenhum dos setores analisados nas Sondagens – que são mais sensíveis ao ciclo econômico –alcançaram o nível de neutralidade, de 100 pontos. Todos ainda estão no campo do pessimismo moderado. O setor da construção é o mais próximo de chegar a essa neutralidade, com 96,6 pontos no Índice de Confiança, seguido da indústria (96,5), serviços (95,8) e comércio (90,4). “Depois da sequência de crises que os empresários enfrentaram a partir da recessão de 2014, vemos um comportamento mais cauteloso, reconhecendo os fatores de incerteza que ainda pairam sobre essa perspectiva mais positiva para seus negócios”, conclui.

Variação Índice de Expectativas


Fonte: FGV IBRE.

 


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