Confiança empresarial: nível de disseminação reforça percepção de desaceleração econômica

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Índice de Confiança Empresarial do FGV IBRE de janeiro registrou queda de 2,1 pontos, acompanhando o movimento de desaceleração da economia a partir do quarto trimestre de 2022. Com esse resultado, o índice registra a quarta queda consecutiva, passando do pico de confiança observado em setembro do ano passado, de 101,5 pontos, para 88,6 pontos, distanciando-se significativamente do nível neutro dos 100 pontos.

Tomando o grau de disseminação dessa queda por segmento, os pesquisadores apontam algumas variações em cada setor. Na construção, como demonstrou Ana Maria Castelo (FGV IBRE) em postagem anterior, um dos exemplos se dá no segmento de serviços especializados, em especial no campo das expectativas. Para as atividades que estão na ponta final do ciclo de obras em curso, houve alta de 5,2 pontos nas expectativas; já entre as empresas responsáveis pela preparação de terreno, o otimismo quanto ao futuro sofreu queda de 7 pontos.

Disseminação da evolução da confiança em janeiro


Fonte: FGV IBRE.

No setor de serviços, Rodolpho Tobler, coordenador dessa Sondagem, indica que os três segmentos (do total de 13) que destoaram da maioria e indicaram alta de confiança foram serviços de tecnologia e comunicação (TIC), outros serviços e armazenamento e transporte. Entre eles, entretanto, apenas o de TIC vem de um comportamento mais consistente de evolução da atividade, registrado desde o início da pandemia. “Atividades classificadas em outros serviços, por exemplo, tendem a ser mais voláteis. No caso da TIC, esse movimento vem de uma demanda aquecida desde o início do choque sanitário, quando empresas tiveram que investir mais em tecnologia para manter seus negócios, assim como as famílias, que investiram em melhorias tanto para realizar trabalho e estudos de forma remota como ampliar seu bem-estar dentro de casa”, diz. 

Já no caso do comércio, apenas uma atividade das seis analisadas registrou alta: o segmento de tecidos, vestuário e calçados. “Neste caso, trata-se de um segmento que tem tido mais dificuldade para voltar ao nível pré-pandemia Quando observamos dados do IBGE, vemos que esse segmento registrou queda nos últimos meses, reforçando a dificuldade em retomar o nível de atividade anterior a 2020, depois de sofrer quedas ainda mais fortes”, descreve, indicando que, nesse caso, mais do que uma melhora, o movimento registrado em janeiro reflete uma compensação

Comércio: % segmentos em queda

 

% em queda – média móvel trimestral


Fonte: FGV IBRE.

Afora essas características particulares do resultado de janeiro, Tobler altera que, observando a partir da média móvel trimestral, todos os segmentos do comércio apresentam queda há três meses – e, no caso dos serviços, esse percentual se ampliou significativamente em relação aos períodos anteriores. As maiores quedas no trimestre móvel encerrado em janeiro nesse setor são em alimentação e serviços imobiliários. “Sob uma conjuntura macroeconômica difícil, com juros altos e consumidor cauteloso, muito endividado, a reversão desse quadro não acontecerá de forma imediata”, lembra.

Serviços: % em queda

 

% em queda – média móvel trimestral


Fonte: FGV IBRE.

O mesmo diagnóstico é feito por Stefano Pacini para o segmento industrial, segmento que analisa nas sondagens do FGV IBRE. Apesar de 12 dos 19 segmentos industriais terem registrado alta de confiança em janeiro, Pacini ressalta que, sob a ótica das médias móveis trimestrais, 12 ainda registam queda. “Essa melhora na ponta foi registrada especialmente em segmentos de bens intermediários. Mas estamos falando de um setor no qual 15 segmentos hoje registram confiança abaixo dos 100 pontos. Mesmo os que registraram melhora em janeiro, têm a confiança em níveis abaixo do neutro”, destaca. “Sob um cenário de inflação ainda alta, com taxa de juros alta – o que afeta o segmento de bens de consumo duráveis, cuja compra em geral demanda financiamento pelas famílias – é justificável que os resultados da indústria ainda andem de lado”, afirma, lembrando que o Índice de Confiança do setor se manteve estável em janeiro, com uma variação negativa de 0,2 ponto, para 93,1 pontos.

 


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