Confiança do consumidor: otimismo continua subindo entre famílias com renda mais baixa, enquanto nas faixas mais altas há queda

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Índice de Confiança do Consumidor do FGV IBRE de outubro mostra que a evolução do otimismo no último mês tomou direções opostas de acordo ao nível de renda. No agregado, o Índice recuou 0,4 ponto, depois de subir por quatro meses consecutivos. Quando se faz o recorte por rendimentos, observa-se que enquanto entre as famílias com renda mensal até R$ 4,8 mil observou-se a manutenção da alta da confiança, entre as faixas de renda mais alta o movimento foi de correção de perspectivas.

As maiores movimentações se deram entre consumidores com renda familiar de até R$ 2,1 mil, grupo em que a confiança subiu 8,3 pontos em relação a setembro, e na faixa de renda entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil, em que se registrou queda de 6,8 pontos sobre o mês anterior. Mesmo com essas variações inversas, a confiança dos grupos mais ricos ainda é mais alta (91,5 pontos) do que entre as famílias mais pobres, para as quais o indicador aponta um nível ainda baixo, de 84,6 pontos para p grupo de renda até R$ 2,1 mil, e 86,4 pontos entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil.

Viviane Seda Bittencourt, superintendente adjunta de Ciclos Econômicos do FGV IBRE, ressalta que o reforço nas transferências de renda, a redução da inflação e os bons resultados do mercado de trabalho podem colaboram para os resultados positivos entre as faixas de renda mais baixas. Ela ressalta que, em outubro, o aumento do otimismo desse grupo não se limitou às expectativas quanto aos próximos seis meses. Também o Índice de Situação Atual registrou alta, respectivamente, de 10,5 pontos e 4,9 pontos na primeira e segunda faixa de renda. “É preciso destacar, entretanto, o alto nível de endividamento das famílias e as taxas de juros mais elevadas, que encarecem o crédito, limitando uma recuperação mais robusta”, afirma. Viviane ressalta ainda que entre essas famílias ainda não se registra melhora quanto á intenção de compra de bens duráveis, o que pode ser ilustrativo desse quadro de alto endividamento. 

Índice de Confiança do Consumidor por faixa de renda


Fonte: FGV IBRE.

Até setembro, as famílias de faixa de renda mais alta registravam alta de confiança tanto na situação atual quanto sobre as expectativas para o futuro próximo. “Desta vez, houve uma revisão importante em relação às expectativas, em todos os sentidos. Seja quanto à percepção da situação econômica, financeira e mesmo na intenção de compra de bens duráveis”, descreve Viviane. “Apesar de não devolver todo o aumento de otimismo acumulado nos últimos meses, é uma revisão que chama a atenção, e pode ser motivada pelo conhecimento sobre as perspectivas de um cenário econômico mais difícil para 2023 (o Boletim Macro FGV IBRE de outubro projeta um PIB de -0,4% para o próximo ano), embora as eleições também sejam um componente de volatilidade para as expectativas”, diz.

Em artigo na revista Conjuntura Econômica de outubro (leia aqui), Viviane comparou o Índice de Expectativas dos consumidores previamente às últimas eleições presidenciais, destacando que o índice observado em setembro de 100,2 pontos, estava acima do observado nas duas últimas eleições (2018 e 2014, quando em outubro marcava, respectivamente, 95,6 e 93,7 pontos). Agora em outubro, mesmo com a queda para 98,7 pontos no agregado, as expectativas continuam melhores do que nas contendas anteriores, perdendo apenas para 2010, quando o Índice estava em 105 pontos.

Índice de Expectativas 


Fonte: FGV IBRE.

 


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