Clima Econômico na América Latina: melhora, mas ainda sob um cenário intricado

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Indicador de Clima Econômico da América Latina divulgado hoje (8/3) pelo FGV IBRE registra um cenário mais otimista na região no primeiro trimestre de 2023 em relação ao último trimestre de 2022. Esse resultado foi impulsionado especialmente pela melhora da avaliação dos especialistas sobre a situação atual dos países, com alta de quase 10 pontos, diante do ganho de 4 pontos na avaliação sobre as expectativas para os próximos meses. Das dez principais economias da região, seis tiveram avanço do indicador. Esse grupo não inclui o Brasil, que marcou uma queda de 11 pontos em relação ao resultado do trimestre anterior.

O resultado de maior destaque foi o do Paraguai, que marcou uma alta de 83,3 pontos na avaliação sobre sua situação atual. Um dos fatores relacionados a essa melhora é o desempenho do agronegócio, posto que no ano passado o país sofreu forte seca, além de ter perdido exportações para a Rússia em decorrência da Guerra na Ucrânia. Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE, ressalta que a melhora do clima econômico em várias economias se dá a despeito de um ambiente ainda recheado de incertezas. “Ainda vemos um horizonte confuso, devido a fatores como o ambiente político e expectativas relacionadas ao cenário internacional, que conta muito para os países exportadores de commodities”, afirma.

Melhora de indicadores, mas ainda em nível baixo


Fonte: FGV IBRE.

A Argentina, que registrou ganho de 13,5 pontos no indicador neste primeiro trimestre do ano, a melhora está predominantemente concentrada no campo das expectativas. O país iniciou 2023 com a inflação beirando os três dígitos - 98,8% na contagem interanual fechada em janeiro, mês em que o índice de preços ao consumidor argentino subiu 6%. A inflação de alimentos é uma das que mais preocupa, superando o índice agregado (6,8% em janeiro). Este ano é de eleições presidenciais, e o governo – que anda não tem candidato definido – tem o desafio de lidar com a pressão de preços conciliando as promessas feitas ao FMI para reduzir o déficit fiscal para 1,9%. Em 2022, as contas públicas fecharam em -2,4%. No final de janeiro, o Ministério da Economia havia prorrogado acordo com diversos setores para controlar o preço de mais de 2 mil produtos essenciais, que terão um teto de aumento mensal de 3,2% até junho, grupo ao qual se incorporou em fevereiro sete cortes de carnes. Com o programa “Preços Justos”, o governo também pretende conter parte do repasse dos preços nos aumentos salariais, o que colaboraria para uma disseminação ainda maior da inflação.

Previsão do PIB para 2023


Fonte: FGV IBRE.

Os especialistas que participam do Indicador do FGV IBRE não revisaram significativamente a projeção para o PIB da Argentina em 2023, indicando uma expansão de 1,2%, 0,1 ponto percentual acima da estimativa do quarto trimestre. Entre as dez economias analisadas, além da Argentina, apenas Paraguai e México registam revisões altistas para o PIB de 2023. No caso do Paraguai, ajudado pelo desempenho do agronegócio – em uma dinâmica similar à brasileira, em que o agro terá papel importante para mitigar um PIB negativo, como aponta o Boletim Macro FGV IBRE. Já o México pode ser beneficiado por um desempenho menos dramático da economia americana, ressalta Lia, a despeito do impacto da política monetária para conter a inflação. De fato, a melhora das condições internacionais é citada por todos os analistas que preveem melhora na atividade econômica mexicana, que também apontam melhora no ambiente político.

O Chile é o único país da região com perspectiva de fechar 2023 com retração do PIB – que na visão dos especialistas consultados para o Indicador será pior (-1,8%) do que o projetado no quatro trimestre de 2022 (-0,7%) – o que não impediu uma melhora do clima econômico chileno no primeiro trimestre do ano, com variação de 1,2 ponto. Essa revisão vai ao encontro da realizada pelas fontes oficiais chilenas, que também indicaram piora para a atividade este ano: de -0,5% para -0,7%, de acordo ao Ministério da Fazenda, e variação de -0,7% a -1,75% nos cálculos do banco central do país. O Chile encerrou 2022 com uma inflação de 12,8%, que poderá cair para 5% nas projeções do FMI. Em seus informes, o Fundo ressalta a forte política de estímulos operada pelo governo em 2021, e os efeitos da política monetária contracionista a que o país terá de se submeter agora. A taxa básica de juros do Chile está em 11,25% ao ano. Piora das condições macroeconômicas tanto em nível doméstico quanto externo são os motivos mais citados pelos analistas que apontaram piora da atividade, seguidos de preocupações com o ambiente político. Este ano, o país retomará o trabalho legislativo para a elaboração de uma nova Constituição, despois da tentativa fracassada em 2022, agora sob bases diferentes.

Caso previsão para o PIB seja maior, qual(ais) fator(es) afetaram a sua previsão?


Motivos apontados pelos informantes: *As despesas públicas impulsionadas pelas eleições. **Aumento das exportações e do comércio com a Venezuela. Fonte: FGV IBRE.

 

Caso previsão para o PIB seja menor, qual (ais) fator(es) afetaram a sua previsão?


Motivos apontados pelos informantes: ***Eleições políticas gerais durante o ano 2023. Fonte: FGV IBRE.

Outra melhora de clima econômico com sabor de “menos pior” é a do Peru. O país registrou alta de 32,1 pontos no indicador, ajudada principalmente pelo indicador de expectativas. Após a destituição do presidente Padro Castillo no início de dezembro, logo de um fracassado autogolpe, ainda há resistência contra Dilma Boluarte, vice-presidente que substituiu Castillo desde a tentativa de dissolução do Congresso, e que hoje responde por acusações de genocídio na contenção das manifestações populares contra o governo em dezembro e janeiro. Lia ressalta que, a despeito da gravidade do quadro político, a presidente tem de conseguido conter a crise. O Indicador de Ciclo Econômico do Peru registra uma revisão negativa de 0,3 ponto percentual para o PIB este ano, influenciada pelo ambiente político (88,9% de citações, em uma pesquisa de respostas múltiplas), mas que também é afetada pelo ambiente macroeconômico internacional (apontada por 66% dos respondentes), bem como doméstico (assinalada por 33%).

Indicador de clima econômico


Fonte: FGV IBRE.

 


 As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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