Atividade de serviços e varejo em maio, somada a Sondagens de junho, aponta a resultado positivo para o segundo trimestre

Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A Pesquisa Mensal do Comércio divulgada ontem pelo IBGE apontou um mês de maio mais fraco do que o esperado. O varejo restrito cresceu 0,1% no mês, mostrando estabilidade em relação a abril, marcando uma contração interanual de -0,2%. Já o ampliado, que inclui material de construção e veículos, partes e peças registrou alta de 0,2% ante abril, e queda de 0,7% no interanual.  “É um resultado condizente com o aperto orçamentário das famílias, mais sensíveis aos preços do comércio do que em outros setores”, afirma Rodolpho Tobler, economista do FGV IBRE responsável pela produção de estatísticas das Sondagens do IBRE. Tobler destaca que os resultados tendem a refletir o otimismo com o arrefecimento da pandemia e das restrições– em 2021, entre março e maio mais pessoas morreram de Covid-19 do que em todo o ano de 2020 –, estimulando encontros como na comemoração do Dia das Mães. “Parte da alta nas vendas de vestuário, calçados e da categoria de artigos farmacêuticos e de perfumaria pode estar vinculada a essa possibilidade de mais encontros pessoais”, afirma. Tecidos, vestuário e calçados registrou o caminho oposto da evolução do comércio varejista no agregado, com três meses de crescimento em ao mês anterior (3,5% em maio, 2% em abril e 0,3% em março), somando alta de 12,9% no acumulado em 12 meses. Artigos farmacêuticos e de perfumaria registraram comportamento similar, com variação, respectivamente, de -3,9%, 1% e 3,6%, somando 6,5% no anualizado.

Na outra ponta, móveis e eletrodomésticos retraíram 3% em relação a abril, acumulando uma queda de 14,3% em 12 meses. “Além de vir de um movimento de gradual acomodação, depois de uma forte alta em 2020 marcada pela substituição do consumo de serviços que estavam paralisados pelo isolamento, e um cenário de inflação e juros baixos, esse segmento também se vê penalizado pelo aumento do endividamento das famílias”, ressalta Tobler, lembrando que, por serem bens de maior valor, em geral envolvem a obtenção de algum tipo de crédito para parcelamento. Além do reflexo de problemas nas cadeias de fornecimento de insumos, ainda presentes em alguns segmentos.

Pesquisa mensal de comércio – maio/22
(var % volume de vendas)


Fonte: PMC IBGE.

 

Evolução volume de vendas mês contra mês anterior
segmentos selecionados


Fonte: PMC IBGE.

“Mas situação ainda é positiva para o segundo trimestre”, diz Tobler. E, somada ao bom desempenho registrado pelo setor de serviços – com crescimento e 0,9% em abril sobre maio, e de 11,7% no acumulado de 12 meses, será suficiente para uma revisão para cima do PIB de 2022, aponta Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, sócio-diretor da BRCG. “Medidas circunstanciais de elevação da renda (antecipação do 13º a aposentados e pensionistas e retiradas do FGTS) parecem ter surtido efeito no consumo, há respaldo para uma pequena revisão positiva”, diz Ribeiro. Tobler destaca que ainda há segmentos de serviços com margem de recuperação em relação ao nível pré-pandemia, o que pode garantir algum ímpeto de crescimento, ainda que o cenário de renda, inflação e juros seja adverso. Entre eles, estão alojamento e alimentação (-7,9% em relação a fevereiro de 2020) e serviços prestados às famílias (-7% na mesma comparação).  “Mas é preciso destacar que, mesmo com as medidas do governo para injetar recursos na economia, a confiança do consumidor medida pela Sondagem do FGV IBRE ainda reflete um clima de pessimismo, especialmente com a situação atual”, lembra Tobler. Na Sondagem de junho, a confiança do consumidor com a situação atual marcou 70,4 pontos (o nível neutro é 100 pontos), e o Índice de Expectativas, 85,9 pontos.

A aprovação pelo Congresso da PEC que confere aumento de R$ 200 ao Auxílio Brasil até o final do ano, com a inclusão de cerca de 1,6 milhão de famílias que hoje estão na fila do benefício, além de outras medidas de apoio a categorias como caminhoneiros e taxistas deve colaborar para manter algum nível de atividade nos serviços e no varejo. Cálculos da Confederação Nacional de Comércio divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo apontam que, dos R$ 41,2 bilhões de gastos previstos com as medidas da PEC, cerca de R$ 16,3 bilhões devem ir para o varejo, sendo R$ 5,53 bilhões para compras de supermercado e R$ 3,03 bi a combustíveis. “Tanto em comércio quanto em serviços, tendem a se beneficiar mais as atividades que não dependem de crédito. Estas devem demorar mais a reagir”, diz Tobler, destacando pesquisa do FGV IBRE que apontou que o destino prioritário entre as famílias beneficiárias de alguma das medidas lançadas pelo governo no segundo trimestre foi quitar dívidas, com 43% das respostas, maior nível aquando comparado a outros momentos em que houve liberação de recursos do FGTS e/ou antecipação de 13º salário, como em agosto de 2019 e julho de 2017.  “O fechamento do segundo trimestre será positivo, mas com desaceleração. E mesmo que as novas medidas previstas na PEC aprovada tendam a favorecer o consumo, esperamos um segundo semestre com mais incerteza e oscilações na economia”, conclui.

Volume de serviços – maio de 2022 (%)
atividades selecionadas


Fonte: PMS IBGE.

 

Desempenho serviços versus pré-pandemia
distância (%) em relação a fevereiro de 2020 - atividades selecionadas


Fonte: PMS IBGE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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