Até onde vai a alta da Selic?

Armando Castelar, pesquisador associado do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Nesta quarta-feira (8/12), o Copom elevou a Selic em 1,5 ponto percentual, para 9,25%, em linha com as estimativas de mercado. É o maior patamar observado em quatro anos, e chegou com a sinalização de um novo aumento, da mesma magnitude, na próxima reunião, em fevereiro de 2022.

Em entrevista concedida para a revista Conjuntura Econômica de dezembro, Armando Castelar, pesquisador associado do FGV IBRE, considera que a Selic poderá chegar a 12% ao ano, apontando dois fatores que freariam novas altas para além desse nível. “O primeiro é que cerca de 45% da inflação nos últimos 12 meses estiveram concentrados na gasolina, energia elétrica e alimentos. No ano que vem, a energia elétrica pode cair em vez de subir. Já a gasolina não teria razão para subir na mesma escala que tivemos este ano, até porque a princípio o câmbio não vai andar tanto, como o petróleo não vai subir tanto. E os alimentos já estão registrando inflação muito alta há dois anos”, descreve. O outro elemento apontado por Castelar é uma certa contenção da inflação de serviços. Ainda que se espere uma revisão de preços no setor, esta pode ser parcialmente contida por uma desaceleração maior da atividade, refletida nas revisões para baixo do PIB de 2022. 

Castelar avalia que esse forte ritmo de aumento da Selic nas últimas reuniões se justifica pela necessidade de o Banco Central reverter um atraso que resultou em uma perda de controle das expectativas inflacionárias. “Essas altas não vêm para necessariamente afetar a atividade diretamente, mas para conter o descontrole”, afirma. Apesar de reconhecer que juros altos não são um bom companheiro de uma economia carente de impulso para se recuperar, ele lembra que, não faz tanto tempo, o país conviveu com taxas muito mais altas. “Em 2016, estávamos com14,25%, com uma inflação que não terminou tão longe do que vai terminar em 2022, na faixa de 6%”.

Apesar de os contornos conjunturais desenharem esse nível de juros básico como um limite provável, Castelar aponta que a polarização apontada nas pesquisas de intenção de voto para presidente em 2022, com Lula e Bolsonaro na liderança, pode atrapalhar a economia e elevar essa estimativa para a Selic. “Nenhum dos dois candidatos sinalizam uma política econômica um pouco mais conservadora, atacando a questão fiscal, e isso pode atrapalhar bastante a economia no ano que vem, porque deixa completamente em aberto o que virá depois da eleição”, afirma. Ele lembra que, diferentemente de 2018, quando apesar de o governo Temer se ver enfraquecido, com um cenário externo com subida de juros e dólar apreciando, a ideia de o então candidato Bolsonaro ter um ministro da Economia que defendia diretrizes de continuidade da agenda reformista e responsabilidade fiscal – hoje desacreditada com a PEC dos Precatórios – colaborou para uma recuperação das expectativas. “Agora, sem que um candidato de terceira via desponte e defenda a necessidade de um projeto par ao país, teremos um cenário bem mais complicado”, conclui.

 


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