Setor da construção mantém resiliência apesar de cenário incerto para os juros, aponta Sondagem

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Em agosto, a Sondagem da Construção do FGV IBRE indicou que o setor se mantém resiliente, apesar das incertezas quanto à evolução do cenário para os juros e as preocupações em torno dos impactos da reforma tributária em termos de custos. Ainda que o Índice de Expectativas, que mede o otimismo dos empresários em relação aos meses adiante, tenha recuado 1,3 ponto, deixando patente que a conjuntura macroeconômica tampouco passa despercebida, não faltam indicadores para demonstrar que a percepção positiva ainda predomina no setor, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE.

“Quando avaliamos a demanda prevista, por exemplo, vemos que a oscilação foi marginal. Ainda que as respostas indicando uma redução de demanda aumentaram 1 ponto, para 8,8%, aqueles que sinalizaram expectativa de aumento de demanda ainda perfazem 28,1%”, cita Castelo. Os setores que puxam o otimismo são o de obras de acabamento, que registra o resultado mais alto, com 110,7 pontos, e obras de infraestrutura para engenharia elétrica e telecomunicações, que registra a maior alta quando comparado a agosto de 2023, com 107,6 pontos, contra 94,3 pontos no ano passado. Por sua vez, o segmento de edificações não-residenciais é o que apresenta o indicador mais baixo de demanda prevista, com 89,9 pontos – lembrando que o nível considerado neutro é o de 100 pontos – contra 93,1 pontos em agosto de 2023.

Outro indicador que confirma a percepção de demanda aquecida é o que mede a procura por trabalhadores no setor. Em agosto, as assinalações de escassez de mão-de-obra continuaram em alta, chegando a 28,8%, acima da média acumulada no ano (janeiro a agosto), de 26,4%. Tal como destacou ao Blog em julho (leia aqui), escassez e custo da mão de obra são itens que desde o início do ano tem se destacado como fatores limitativos dos negócios da construção.

No caso do custo de mão de obra, as assinalações também registraram alta em agosto, o que pode ser justificado pelo atraso do acordo coletivo no Rio Grande do Sul, em função do processo de recuperação pela tragédia com as enchentes. “Quando analisamos o Índice Nacional de Custo da Construção - M (INCC-M), a mão de obra é indiscutivelmente a maior contribuição para a elevação de preços”, diz, com variação de 5,77% acumulada no ano, contra 2,8% de materiais, equipamentos e serviços, resultando em um INCC de 4% de janeiro a agosto.

Em agosto, entretanto, a maior variação de preços ocorreu em materiais, equipamentos e serviços, de 0,69% contra 0,57% em mão de obra. “Vemos de fato uma mudança de cenário nos custos de matéria-prima, que em 2023 fechou em deflação”, afirmou Ana. Ela afirma que o câmbio não foi o grande vetor da variação de preços em agosto, e que os principais elementos aos quais é preciso atenção são energia e frete – o que remete ao preço dos combustíveis.

“Temos uma demanda aquecida, que sem dúvida contribui para que a indústria pense em recomposição de preços. A questão é que parte importante da demanda dos materiais vem das famílias. Nesse caso, o que observamos é que essa demanda está melhor do que no ano passado, mas ainda muito aquém do necessário para recuperar o que perdeu nos últimos anos”, afirma. “Dessa forma, não dá para a indústria de materiais se sentir confortável para subir preço, levando em conta que o varejo ainda se encontra em processo de recuperação.”

 


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