Sondagem da Construção de julho reforça preocupação dos empresários com custos de mão de obra
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
O Índice de Confiança da Construção do FGV IBRE indicou um início de semestre com melhora da percepção dos empresários do setor sobre a atividade nos meses à frente. Em julho, o Índice subiu 0,9 ponto em relação a junho, para 97,3 pontos, influenciado exclusivamente pelo aumento do Índice de Expectativas, com avanço de 1,8 ponto (para 99,3 pontos). O Índice que mede a situação atual registrou estabilidade em relação a março, com 95,5 pontos.
Para Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, esse resultado sinaliza que a interrupção da trajetória de cortes da taxa de juros básica, a Selic, não afetou a avaliação dos empresários do setor. Ela aponta que essa percepção vale para os três segmentos analisados – edificações, infraestrutura e serviços especializados –, posto que todos indicaram recuperação das expectativas em relação aos negócios e à demanda.
Na entrevista do mês da Conjuntura Econômica de julho (leia a íntegra aqui) Castelo havia dito que a possibilidade de a manutenção da taxa básica de juros em nível elevado comprometer o horizonte imediato de crédito era baixa, ao menos no setor imobiliário. Na conversa para a revista, Castelo destacou a sinalização de suplementação da verba do FGTS para financiamento da casa própria – confirmada dia 25 de julho, quando o Conselho Curador do Fundo anunciou o aumento do orçamento para financiamento do Minha Casa Minha Vida de R$ 61,4 bilhões para R$ 85,6 bilhões em 2024. Sem essa ampliação, a estimativa era de que já no terceiro trimestre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste ficariam sem recursos para financiamento nesse programa habitacional. No caso dos recursos vindos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), Castelo ressaltou à Conjuntura que, embora as projeções de mercado para a Selic no final do ano não apontem mais a um dígito, o nível de concessões se manteve forte no primeiro trimestre. “Para 2024, não vejo problema, até porque os bancos veem o crédito imobiliário realmente como uma modalidade interessante, que cativa o correntista por longo prazo, 30 anos. Mas é uma questão que está sempre no radar”, afirmou.
Fatores limitativos, percentual de assinalações
Fonte: FGV IBRE.
A preocupação dos empresários quanto à escassez de mão de obra, que também foi destaque da entrevista, se consolidou refletida nas assinalações sobre aumento dos custos. Depois da escalada dos preços de matéria-prima observada com a pandemia – que fez com que esse item disparasse entre os fatores limitativos indicados pelos empresários – desde o início de 2024 quem passou a ganhar maior atenção e menções pelos empresários foi o custo da mão de obra. A queda da preocupação com o custo das matérias-primas, que começou a trajetória descendente no segundo trimestre de 2022, somada ao aumento das menções do custo da matéria-prima, fez com que esta última voltasse a superar a primeira na Sondagem sobre itens limitativos aos negócios em 2024. Essa condição tinha especialmente presente entre 2011-2015, quando a distância entre ambos em favor do custo da mão de obra foi a maior registrada de 2011 até agora.
Na entrevista à Conjuntura, Castelo apontou a importância de um aumento do nível de industrialização do setor, o que deverá contribuir não só para a mitigar o impacto do custo da mão de obra quanto para a produtividade do setor. Ele lembrou que a reforma tributária pode contribuir para mitigar a desigualdade da tributação incidente sobre o sistema tradicional e o industrializado, mas destacou que a questão tributária ainda gera incertezas, “na medida em que não se sabe qual será a tributação que vai prevalecer”. Castelo lembrou que a proposta de regulamentação da reforma tributária prevê desconto de 20% para o setor, mas que serão aplicados na alíquota final. “Isso também traz incerteza dentro da decisão de investir, qual retorno projetar”, disse.
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