Na média, tarifa brasileira aos produtos importados dos EUA ainda são mais altas do que as dos EUA para produtos brasileiros, destaca Samuel Pessôa
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Nesta segunda-feira (10/2), o presidente dos EUA Donald Trump formalizou a taxação de aço e alumínio importados pelo país em 25%, suspendendo acordos, cota e isenções vigentes. Em 2024 o Brasil exportou aos Estados Unidos US$ 6 bilhões nesses produtos, sendo o segundo maior fornecedor de aço no período, perdendo apenas para o Canadá.
Ao comentar o anúncio em entrevista para a jornalista Mônica Teixeira na Globonews, Samuel Pessôa, pesquisador associado do FGV IBRE, destacou que medidas como essa, na direção de uma guerra comercial, levarão a uma queda da produtividade mundial ao estimular o desmonte da lógica de cadeias de produção característica de globalização. “Uma característica de globalização moderna é a da fragmentação produtiva, buscando a maior eficiência em cada etapa. É uma lógica que vale para tudo”, afirmou, ilustrando com o caso da brasileira Embraer. “De cada US$ 100 exportados em aviões, a Embraer importou US$ 50, focando-se na área estratégica de projetar aeronaves. Tenho dificuldades em entender o ponto de vista econômico dessa decisão”, declarou.
Ainda que Trump defenda tal estratégia como propulsora de crescimento americano, visando à atração de capacidade produtiva para o país, a análise de muitos economistas é de que o resultado será de mais inflação. Pessôa destacou em especial o impacto que essa medida implicará a diversos setores. “Em geral, a estratégia dos países é aumentar tarifa de importação de bens finais. No Brasil, por exemplo, taxamos carros, mas menos os bens intermediários. Taxar bens no início da cadeia produtiva é complicado, pois afeta diversos setores a jusante.”
No caso da reação a se esperar do Brasil, Pessôa considera que o país tem um elemento que joga contra sua capacidade de retaliação: tarifas de importação que em média já são altas, fator destacado por Trump diversas vezes quando ainda estava em campanha. “Ao observar a pauta brasileira, a alíquota média dos produtos que importamos dos Estados Unidos é menor do que a da pauta dos produtos que os EUA compram da gente”, disse. Para ele, o fato das tarifas anunciadas não ser direcionadas ao Brasil, mas todas as importações visando a defender a indústria local, “o melhor a fazer é ficarmos quietos”, lembrando que a pauta exportadora do Brasil aos Estados Unidos é diversificada e, como ressaltou, nossa estrutura tarifária nos deixa em uma posição pouco confortável para negociar.
Ele ainda lembra que, por ser um anúncio amplo, a princípio não tende a afetar o atual nível de competitividade brasileira em relação a outros fornecedores, à exceção da própria siderurgia americana. Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, mas posteriormente acabou negociando cotas para o Canadá, México e Brasil.
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