Monitor do PIB reforça preocupação com queda do investimento
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
O Monitor do PIB - FGV divulgado nesta segunda-feira (23) apontou queda de 0,6% na atividade econômica em agosto comparado a julho. O resultado foi menos negativo que o do IBC-Br (-0,77%), que levou analistas a revisar para baixo suas expectativas para o PIB do terceiro trimestre, mas também veio com dados que geram preocupação.
Além de uma esperada queda do PIB do agronegócio, condizente com o fim da época das grandes colheitas de grãos como a soja – que este ano foi especialmente boa –, o Monitor aponta preocupante queda dos investimentos, de 5% na variação trimestral interanual. O resultado foi puxado pelo setor de máquinas e equipamentos, que registrou retração de 5,3% na mesma comparação. A última variação positiva dessa atividade foi em dezembro de 2022. A construção, por sua vez, registrou a primeira queda do ano (-0,2% na variação trimestral interanual).
Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE, destaca que a maior queda foi observada nos segmentos de ônibus e caminhões e em automóveis. No caso dos ônibus e caminhões, um sinal que pode reforçar a falta de dinamismo foram os resultados do programa do governo federal para substituição da frota, com subsídios de até R$ 80 mil pela troca de unidades com até 20 anos de uso por um zero-quilômetro. A iniciativa se encerrou no início de outubro, quando a MP que garantiu o desconto perdeu a validade, com baixa adesão especialmente para caminhões, com demanda de pouco mais de 30% dos R$ 700 milhões em créditos tributários colocados à disposição. Para ônibus, a adesão foi maior, superando 60% dos R$ 300 milhões disponíveis, mas ainda longe do sucesso do programa na linha de automóveis e comerciais leves, em que os R$ 800 milhões ofertados se esgotaram em dois meses. Apesar de certa complexidade do programa apontada por atores do mercado ser um possível fator de desestímulo à adesão ao programa, projeções da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontam de fato uma estimativa de queda nas vendas de caminhões em 2023, de expressivos 23%. Para os ônibus, a Fenabrave espera um aumento de 4,5%.
“Ainda que esse setor de fato tenha se destacado o desempenho ruim dentro da atividade de máquinas e equipamentos é generalizado”, aponta a economista do FGV IBRE Juliana Trece. Na edição de outubro da revista Conjuntura Econômica (leia aqui), Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro IBRE da FGV, ressaltou que a absorção de máquinas e equipamentos é um termômetro do potencial de crescimento da economia, e um resultado negativo, portanto, vai na direção contrária de uma expansão vigorosa. No agregado, lembra Silvia, a taxa de investimento brasileira tem se mostrado insistentemente baixa, e como proporção do PIB está abaixo da média de outras economias latino-americanas, como Chile e México.
Investimento preocupa
composição (em ponto percentual) da taxa de variação trimestral interanual (%)
Fonte: Monitor do PIB FGV IBRE.
Considera ressalta que desde a recessão de 2016 os investimentos registram um desempenho particularmente preocupante. “Isso tem relação com as expectativas, o alto grau de incerteza econômica, que inibem decisões de investimento”, diz. Para Juliana, o cenário de taxa de juros alta é um complicador adicional para uma reversão desse quadro. Uma conjuntura mais complexa para a redução da inflação em âmbito internacional e doméstico, com um possível alongamento do ciclo de corte da taxa básica de juros – o que significa juros mais altos por mais tempo –, tende a tornar essa mudança ainda mais complexa, aponta. “Estamos diante de um quadro que, excetuando o desempenho do agronegócio neste ano, demonstra estagnação. Talvez com programas como o novo PAC o governo consiga começar a subir esse nível de investimento, puxando o setor privado. O fato é que a economia precisa disso para crescer”, conclui.
Considera e Juliana destacam que o consumo das famílias ainda se mostra resiliente, com crescimento de 3,1% no trimestre móvel indo em agosto, dando sinais de estabilidade desde maio, com mudança na composição. Há uma redução da participação do setor de serviços, com aumento do consumo de bens duráveis. Já a variação do consumo de semiduráveis nessa mesma base de análise registra resultado negativo desde julho de 2022. “Iniciativa como o Desenrola pode ajudar as famílias por ora, mas manter o emprego, a geração de renda, dependerá de uma econômica mais dinâmica”, lembra Considera.
Em prévia do Boletim Macro de outubro divulgada pelo Valor Econômico (link aqui, acesso restrito a assinantes do jornal) Silvia Matos indica que a projeção do IBRE para o investimento é de queda de 1% em 2023. Para o terceiro trimestre, a projeção é de um PIB zerado e, para o ano, crescimento de 2,7%.
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