Maioria das indústrias brasileiras considera que pode ser afetada pelas medidas de Trump, aponta FGV IBRE
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Respostas de empresários do setor industrial brasileiro a quesitos especiais das Sondagens do FGV IBRE demonstram que a maioria já foi afetada ou estima que terá seus negócios afetados pela política externa do presidente americano Donald Trump. A pesquisa contou com a participação de 830 empresas, e foi realizada entre os dias 1 e 25 de abril.
Quando se trata do efeito direto nas exportações, Stéfano Pacini, economista do FGV IBRE responsável pela divulgação da pesquisa, destaca que são as médio-exportadoras – definidas como empresas em que as vendas externas representam entre 10% e 50% do faturamento – que mais expressam preocupação com as implicações da política tarifária de Trump. Desse grupo, 19,7% afirmam que já são afetadas, enquanto 60,4% esperam ser impactadas. Na sequência estão as empresas em que as exportações correspondem a até 10% do faturamento total, com, respectivamente, 9,9% e 55,8% do total de respostas.
Grande parte das empresas considera que as medidas protecionistas dos EUA vão afetar seus negócios - especialmente as médio-exportadoras
(em % de respostas)
EGX= empresas que exportam mais de 50% do que faturam. EMX= empresas que exportam entre 10% e 50%. EPX= até 10% de exportação. Fonte: FGV IBRE.
Pacini também indica que as empresas de bens intermediários demonstraram maior sensibilidade em relação às incertezas do cenário externo, com 72,3% afirmando que já foram (14,9%) ou devem ser afetadas (57,4%). O economista considera que o foco do governo Trump no aço e alumínio brasileiros pode justificar essa sensibilidade, citando que os segmentos de metalurgia e fabricação de produtos de metal é exportadora de bens intermediários.
A pesquisa também buscou conhecer a percepção dos empresários sobre o efeito das políticas de Trump para os negócios dessas empresas de forma geral. Nessa parte, percebe-se que os resultados variam significativamente quando analisados a partir da categoria de uso. Tanto entre as empresas de bens duráveis quanto de bens intermediários o aumento dos custos de importação foi o fator mais citado – com, respectivamente, 51,8% e 45,6% de assinalações. Já para as empresas de bens de capital e de bens não duráveis, prevalece a incerteza sobre como seus negócios deverão ser afetados.
Como essas políticas têm afetado ou vão afetar os negocios da empresa em 2025?
(em % de respostas)
Fonte: FGV IBRE.
Observando a totalidade das respostas das empresas nesse quesito, fica patente o predomínio da falta de clareza quanto às implicações do cenário externo para seus negócios. Ainda que depois da pesquisa novos eventos – como a trégua na escalada tarifária entre EUA e China –, tenham afastado do radar as análises mais negativas sobre as implicações de um viés altamente protecionista para o comércio mundial, o que incluiu projeções de forte desaceleração econômica global, Trump não abandonou por completo as promessas de retomada da política de aumento de tarifas, alimentando o alto nível de incertezas de empresários e investidores.
Confira a repercussão do estudo no Valor Econômico de hoje (acesso restrito a assinantes do jornal)
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