FGV IBRE lança estimativa inédita sobre o PIB do Nordeste de 2023-24, e destaca impulso do setor elétrico para a atividade industrial da região
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Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Na edição de abril do Boletim Macro Regional Nordeste, produzido pelo Centro para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV IBRE, a equipe do Monitor do PIB do IBRE publicou uma estimativa inédita do PIB dessa região no último biênio (2023-2024). O último dado oficial disponível é de 2022. O diferencial desse estudo foi produzir um resultado comparável com outras regiões, tendo como base metodológica as Contas Trimestrais do IBGE (CNT).
Juliana Trece, economista do IBRE, destaca que as estatísticas realizadas por institutos regionais, apesar de também terem como referência as CNT, em geral não têm metodologias comparáveis. Por sua vez, a análise realizada pelo Banco Central, que usa uma mesma “régua” para medir o desempenho da atividade nas cinco regiões do país, não é compatível com o resultado das Contas Nacionais.
As estimativas do IBRE apontam que o crescimento médio anual do Nordeste no referido biênio foi similar ao nacional: expansão de 3,3% no país, contra 3,2% na região. A composição desse crescimento, entretanto, registra diferenças. Os pesquisadores do IBRE mostram que a agropecuária respondeu por 0,9 ponto percentual (p.p.) do PIB brasileiro em 2023, e -0,2 p.p. em 2024; no caso do Nordeste, essa participação estimada foi de, respectivamente, 0,4 p.p. e 0,1 p.p. “Embora a agropecuária nordestina tenha sido a atividade com maior crescimento de valor adicionado em 2023, o expressivo desempenho do Brasil contribuiu para as diferenças de contribuição desta atividade para seus PIBs – evidenciando particularidades do setor, e não um problema nordestino”, explicam os economistas Claudio Considera e Juliana Trece no texto. Em 2024, por sua vez, o resultado do Nordeste demonstrou maior resiliência, enquanto o nacional foi impactado pelo desemprenho negativo da região Centro-Oeste.
Valor adicionado setorial PIB Nordeste e Brasil - 2024 - variação %
Fonte: IBGE e BACEN. Elaboração: FGV/IBRE.
No caso dos serviços, as estimativas apontam desempenhos similares entre Brasil e Nordeste no agregado, mas crescimento mais forte no Nordeste nas atividades de comércio, transporte e outros serviços. No setor industrial, por sua vez, o desempenho do Nordeste ficou abaixo do agregado do Brasil em ambos os anos – ainda que com uma diferença mais acentuada em 2023: retração de 0,9% contra alta de 1,7% no Brasil –, refletindo um desafio histórico da região.
Há, entretanto, um segmento industrial no qual o Nordeste registrou crescimento acima do nacional: o de “Eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos”. Em 2023, por exemplo, quando o total da indústria Nordestina registrou retração, essa atividade expandiu 8,5% na região, marcando 2,7 pontos percentuais acima do Brasil (5,8%). “A expansão da produção de energia eólica e solar tem fortalecido o papel do Nordeste como polo nacional de geração energética limpa”, escrevem os pesquisadores.
Participação do Nordeste na expansão da geração elétrica brasileira em 2023 e 2024 (em MW)
No biênio, a geração renovável representou mais de 90% da expansão
Fonte: Aneel.
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que no biênio o Brasil ampliou em 21 GW a capacidade de geração, com mais de 90% renováveis. O Nordeste respondeu por 13 GW dessa expansão, com destaque para a Bahia e o Rio Grande do Norte. De acordo à Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de 2024 a 2034 estão previstos investimentos de R$ 600 bilhões no país em transmissão e geração, predominantemente de matriz renovável, o que poderá favorecer o Nordeste. Para que isso aconteça, entretanto, especialistas destacam a importância de aprovação de um novo marco legal para coordenar a ampliação do setor e evitar questões como o acionamento de fontes termelétricas em detrimento de eólicas e solares, como já aconteceu este ano, devido a sobreoferta e necessidade de garantir segurança ao sistema. Como geração renovável pode sofrer intermitências, sem equilibrar esse acionamento o Operador Nacional do Sistema ampliaria o risco de apagões, por exemplo.
Em 2025, expectativa de que o sanemento continue movimentando a economia da região
Fonte: Abcon/Sindcon.
Outro segmento em que o Nordeste também tem potencial de ampliação é o do saneamento, posto que esta é uma das regiões com mais desafios para a universalização da oferta de serviços de água e esgoto. Novas concessões previstas para acontecer este ano são um bom farol para essa atividade.
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