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Postado por Conjuntura Econômica
Uma lupa sobre a taxa de desemprego
Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro
A taxa de desemprego no primeiro trimestre foi de 8,8%, o que representa 9,4 milhões de pessoas. Geralmente, há um aumento do desemprego nos três primeiros meses do ano, o chamado efeito sazonal, que não ocorreu no ano passado, quando o mercado de trabalho se recuperou após a gradual reabertura da economia depois da fase mais aguda da pandemia da COVID-19. Foi a taxa mais baixa para o período desde 2015.
Se compararmos com o último trimestre de 2022, o número de pessoas desempregadas aumentou 10%, um acréscimo de 860 mil, enquanto o de pessoas ocupadas teve uma contração de 1,6%, ou seja, 1,5 milhão de pessoas, cravando na casa dos 97,8 milhões de pessoas empregadas.
Ao se colocar uma lupa nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE, é importante notar que dos 9,4 milhões de desempregados, 2,2 milhões estão nessa situação por dois anos ou mais. Como observa Paulo Peruchetti, pesquisador do FGV IBRE, “apesar de ter recuado em relação ao observado no ano passado, isso ainda preocupa, pois representa um grupo que cada vez mais tem seu capital humano depreciado. O que poderá dificultar a reinserção destas pessoas no mercado de trabalho”.
Também é importante dissecar melhor outros dados da Pnad. Por exemplo: para o país como um todo, a taxa de desemprego ficou em 8,8% no primeiro trimestre. Mas se olharmos o recorte etário e regional, o quadro continua ruim.
“Para os jovens até 29 anos, a taxa de desemprego foi de 15,6%. Além disso, podemos notar que no mesmo período o desemprego no Nordeste foi de 12,2%. Ou seja, a taxa de desemprego na casa de 1 dígito para o Brasil precisa ser analisada com cuidado, tendo em vista a heterogeneidade que existe e a fragilidade que alguns grupos enfrentam ”, explica Peruchetti.
Veja: Pesquisa do FGV IBRE reforça sinais de fragilidade do mercado de trabalho nordestino.
Taxa de desemprego por idade
Taxa de desemprego por Região
Fonte: IBGE e FGV IBRE.
Além disso, os dados mostraram também que o crescimento interanual do número de pessoas ocupadas, que havia apresentado níveis recordes no passado, começou a apresentar sinais de desaceleração. Em particular, no terceiro trimestre de 2022 o contingente de pessoas ocupadas foi de 97,8 milhões , cerca de 2,7% maior que observado no mesmo período do ano passado.
Outro ponto que chama a atenção do pesquisador do FGV IBRE é a dinâmica da taxa de participação, que mede a proporção de pessoas de 14 anos ou mais que estão inseridas na força de trabalho como ocupadas, ou desempregadas, em busca de emprego, “que além de não ter voltado aos patamares pré-pandêmicos, tem recuado desde meados do ano passado. O gráfico abaixo mostra que a taxa de participação no primeiro trimestre de 2023 (61,6%), encontra-se abaixo da tendencia observada entre 2012 e 2019. Parte disso pode ser explicado pelo elevado número de pessoas que ainda estão fora da força de trabalho, diz Peruchetti”.
Taxa de Participação
Fonte: IBGE e FGV IBRE.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.