Boletim Macro: projeções positivas para o primeiro trimestre, mantendo a tendência de desaceleração

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A edição de março do Boletim Macro do FGV IBRE projeta um bom desempenho para a atividade econômica brasileira no primeiro trimestre do ano, com expansão de 1,5% do PIB em relação ao quatro trimestre do ano passado e de 3% em relação ao mesmo trimestre de 2024. Esse resultado deve ser impulsionado pela agropecuária, que no cálculo dos economistas do FGV IBRE crescerá 10% no período em relação ao trimestre anterior. A indústria de transformação deverá retrair 0,8% no trimestre, pese o bom início de ano, com alta de 1% em janeiro em relação a dezembro.  A indústria extrativa, por sua vez, deverá se recuperar do recuo na produção de petróleo em janeiro (-2,4% em relação a dezembro) e crescer 4,2%.  

Do lado da demanda, o Boletim aponta uma expansão de 2% nos investimentos no trimestre – número influenciado pela importação de uma plataforma de petróleo chinesa – e de 0,9% no consumo das famílias, na mesma comparação. Em entrevista para o jornal Valor Econômico, Silvia Matos, coordenadora do Boletim, destacou que o consumo das famílias vem de uma queda acima do esperado no último trimestre de 2024, de 1% ante o trimestre anterior, e que tal recuperação vem apoiada em elementos como uma geração de vagas positiva em janeiro. “Mesmo os indicadores de confiança empresarial, que caem há alguns meses, são resultado sobretudo de uma perspectiva futura prior, na esteira dos juros mais altos, não necessariamente das condições atuais”, afirmou Matos ao jornal (confira a íntegra aqui, acesso restrito a assinantes do jornal).

A economista também destacou que, apesar do alto nível de incerteza provocado pelos planos do presidente americano Donald Trump, o setor externo contribuiu favoravelmente para o Brasil no início de ano. Ela cita a descompressão cambial, ajudando para uma melhora das condições financeiras de países emergentes, além de sinais positivos vindos da economia chinesa, a partir da bateria de dados de atividade do primeiro bimestre. Na análise do setor externo, Lia Valls destaca a expectativa de que os embarques do setor agropecuário a partir de março contribuam para reverter o déficit comercial com o país registado no primeiro bimestre do ano, destaque também do Icomex (leia mais)

Esse resultado não muda, entretanto, a tendência de desaceleração da atividade para 2025. O Boletim projeta expansão do PIB de 1,7% - abaixo da mediana das expectativas de mercado do relatório Focus de 17 de março, de 1,99%. A expectativa é de que no próximo trimestre a atividade já registre acomodação ou até leve contração, que para Matos deve ser traduzida como uma acomodação, depois de um longo período com a atividade crescendo acima de seu potencial.

Projeções PIB Boletim Macro FGV IBRE (%)


Fonte: FGV IBRE.

O horizonte de juros mais altos por mais tempo também deve contribuir para que o setor cíclico da economia – aquele mais sensível à política monetária –  perca fôlego. Ainda assim, as projeções para a inflação em 2025 continuam folgadamente acima do intervalo da meta. No Boletim, André Braz e Matheus Dias destacam que os alimentos devem permanecer como importante vetor da pressão de preços. “Os dados preliminares de março confirmam essa tendência: a alimentação no domicílio já acumula alta de 3,6% no primeiro trimestre, patamar elevado que reforça a necessidade de monitoramento constante”, afirmam.  

No Boletim, Matos reforçou o alerta feito no I Seminário de Análise Conjuntural de 2025 (confira aqui), de que as projeções de desaceleração ainda envolvem riscos, destacando o apelo do calendário eleitoral para políticas de estímulo ao consumo.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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