Barômetros Globais registram queda em agosto, refletindo mundo em desaceleração. Conjuntura chinesa leva Ásia a liderar a baixa
-
Postado por Conjuntura Econômica
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Os Barômetros Globais, produzidos mensalmente em parceria entre o Instituto Econômico Suíço KOF da ETH Zurique e o FGV IBRE, registraram queda em agosto, chegando a um nível que somente é superado nas duas recessões deste século – a crise financeira internacional de 2008/09 e o início da pandemia, em 2020. Paulo Picchetti, pesquisador do FGV IBRE, afirma que a queda se observou tanto no indicador coincidente (-3,5 pontos, para 88,9) quanto antecedente (-3,4 pontos, fechando em 82,5), refletindo uma perspectiva pessimista para o crescimento econômico global também nos próximos meses.
Na análise por setor de atividade, o indicador coincidente registrou a maior queda no setor da construção, de 4 pontos, que figura como o mais distante da média histórica de 100 pontos, marcando 71,5. O setor mais bem-posicionado é a indústria, com 90,5 pontos, seguida de serviços, com 83, e comércio, com 82,4 pontos.
Contribuição por região para a evolução do Barômetro Global
Fonte: KOF, ETH Zirich e FGV IBRE.
Quando observado a partir do desempenho regional, Picchetti aponta que Ásia, Pacífico e África foi a que registrou a maior queda tanto no indicador coincidente quanto no antecedente. “É um resultado fortemente atribuído à conjuntura na China, que é o país com maior peso na região. Repiques da pandemia, problemas remanescentes nas cadeias de suprimentos e sinais de desaceleração mundial, que podem se refletir em redução de demanda das exportações chinesas, podem ter colaborado para esse resutlado”, afirma Picchetti.
Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE, sócio-diretor da BRCG, soma a esse cenário chinês os sinais de recuperação lenta da demanda doméstica, “com os consumidores ainda retraídos”, diz. Ribeiro lembra que a maioria dos chineses ainda está recompondo parte de sua poupança usada no início da pandemia, já que os programas de socorro do governo se concentraram nos setor produtivo. “Os indicadores da atividade manufatureira mostraram evidente desaceleração em julho, que foi disseminada. No geral, é difícil identificar espaço para uma recuperação chinesa no curto prazo”, avalia Ribeiro. Ao que se une um novo elemento geopolítico, sobre os futuros desdobramentos da questão de Taiwan. Com isso, a perspectiva de crescimento chinês se retrai, realimentando o processo de desaceleração econômica mundial.
China: recuperação do consumo é lenta, e demanda mundial pode retrair no ritmo das revisões de PIB
contribuição para o crescimento chinês no primeiro semestre
Fonte: BRCG com dados do NBS.
A segunda região de maior queda no resultado de agosto dos Barômetros foi a Europa, com -0,9 ponto no indicador coincidente e -1,4 no antecedente. “A resolução de reduzir voluntariamente o uso de gás russo incluindo o período de inverno, e o claro aperto inicial da política monetária operado pelo BC Europeu certamente influenciam para uma percepção de tempos mais complexos adiante”, diz Picchetti. Com um quadro de inflação elevada e progressivamente difusa, completa Ribeiro, a Europa “flerta com a estagflação”, o que eleva a necessidade, afirma, de enquadrar a demanda à atual baixa capacidade pelo lado da oferta.
Picchetti lembra que, para o Brasil, os principais pontos de preocupação se concentram em China e Estados Unidos. “Mas, tal como acontece em outros países da região, como Chile e Argentina, problemas domésticos autocriados no campo econômico e político, devem prevalecer nos próximos meses à conjuntura internacional”, diz. “A sequência de ministros substituídos na Argentina diante do pico inflacionário que o país vive, o fim da lua de mel dos chilenos com o governo eleito, em busca de respostas que não são dadas no curto prazo; e o cenário de incertezas no Brasil – tanto no campo político quanto nas expectativas quanto ao impacto fiscal das medidas tomadas pelo governo e como elas serão equilibradas a partir de 2023 – tornam nossos desafios domésticos tão preocupantes quanto o cenário externo”, conclui.
Europa: sem perspectiva para o conflito geopolítico, tendência é de racionamento energético no inverno – os preços já reagem
Preços referenciais de gás natural (dez/19 = 100)
Fonte: GRID e Bloomberg.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.